segunda-feira

Cavaco Silva: o "rei" que amanhã se irá entronizar neste regime [cada vez mais] presidencialista. Corridinho algarvio

Até à manhã, disse ele aos jornalistas!!!
Cavaco evitou alargar-se em comentários, sobre as negociações entre Governo e PSD em torno do Orçamento do Estado para 2011, limitando-se a sublinhar a necessidade de os socialistas mostrarem “toda a abertura” perante as propostas da Oposição.
Cavaco, com cada vez mais poder, voltou a dizer o óbvio, ainda que manipule nos bastidores: este é o tempo da Assembleia da República e dos partidos nela representados.
Nisto Cavaco é um institucionalista puro, um formalista absoluto, deixando os tiques de criatividade mais aguda para o seu porta-voz não oficial, Marcelo de Sousa, o comentador da TVi e expert em criar factóides. Ele ainda não percebeu que o tempo do mergulho no rio Tejo já lá vai, hoje já não recria o mesmo spin do que há 20 anos.
Vejamos, doravante, algumas razões que levam Cavaco a querer suceder-se a Cavaco no Palácio Rosa por mais 5 anos.
Todavia, convém antes sublinhar que Cavaco é um actor político bafejado pela sorte das circunstâncias. Enquanto PM, a que corresponderam 10 anos de modernidade e de constução civil em Portugal de par com a emergência da classe média, só governou em tempo de "vacas gordas", beneficiando dos milhões de contos que jorravam Portugal a-dentro com a adesão do país à então C.E.E; em Belém, preside como um pequeno rei ao lado dum governo fraco e moribundo, porque minoritário e tolhido pela maior crise económica desde o crash bolsista de 1929.
Um governo que, por erros sucessivos no desenho e execução das suas políticas económicas e financeiras, não é capaz de fazer aprovar um OE sózinho, tem de o fazer parcerizado com o seu adversário político n.º 1 - que há uma década está arredado do poder.
A esta luz, Cavaco é um filho benemérito das circunstâncias socio-políticas da conjuntura e da própria correlação de forças em Portugal. Quer se apresente ex ante - como promotor de um modelo de modernidade e de desenvolvimento assente no betão, quer se apresente ex post como o frade que faz a apologia do diálogo partidário e da concórdia entre as alminhas em Portugal.
Não é certamente por acaso que o chefe da delegação ao Terreiro do Passo para negociar com Teixeira dos Santos o OE para 2011, é um homem da sua total e inteira confiança pessoal e política. Ainda que Catroga diga que formalmente tem um mandato de PPCoelho, Cavaco sabe sempre antes o que se passa nas negociações do que Coelho.
Cavaco aparece sempre no lado vencedor da história se a economia e a sociedade vivem momentos de grande dificuldade. Foi assim nas décadas de 80 e 90 do séc. XX, é hoje assim no 1º quartel do séc. XXI. Cavaco sobrevive bem à crise, ou melhor, alimenta-se dela, parasita-a até políticamente. Está sempre do lado certo e seguro das circunstâncias: quando a "vaca é gorda" e a conjuntura deixa, Cavaco governa com dinheiro a rodos; quando a "vaca é magra", Cavaco já não governa, preside como um pequeno rei sentado no cadeirão do Palácio Rosa a comer pastelinhos de nata, alí ao lado.
Esta tese simples encontra fundamento nos factos, senão vejamos: sempre que o governo em funções é minoritário ou está enfraquecido pelas condições de excepção económica em que tem de governar, ou ambas as coisas, Cavaco cresce políticamente, alargando a sua base de influência à sociedade civil, composta do empresariado, das elites mais dinâmicas descontentes com o socratismo. Por outro lado, Cavaco tem como adversário político principal na corrida presidencial um personagem cujo currículo foi ter sido membro fundador do PS, opositor ao ancien regime, que os jovens desconhecem, mas que não domina nenhum dossier em concreto, não tem experiência governamental ou autárquica, conhece mal a Europa e o mundo. Tem apenas a virtude ser poeta!!! Vá lá.., sabe declamar.
Ainda se as presidenciais fossem um concurso de poesia..., ou mesmo de combate ao salazarismo, o poeta Alegre teria algumas chances de ganhar, até porque cavaco não tem nenhum passado anti-fascista, emigrou para o RU a fim de fazer o doutoramento quando o clima político aqueceu em Portugal nesses anos quentes.
De modo que temos um Cavaco forte e revigorado em todas as frentes do combate político: perante um governo enfraquecido junto da opinião pública que jamais lhe perdoará os erros múltiplos cometidos em matéria de política económica, que hoje é compensado mediante uma brutal carga fiscal; perante uma oposição progressivamente difusa, ainda que predomine a influência do PSD em todo o espectro partidário; e perante um poeta Alegre sem perfil presidencial, um médico bem intencionado a quem os povos do 3 e 4º mundos muito devem, e um candidato do PCP que é de papel, pois nisto o partido de Cunhal não brinca, aproveita todos os tempos de antena para fazer a sua propaganda anti-capitalista conhecida da sua cassete pirata.
Neste quadro, Cavaco já não preside apenas, reina neste Portugal decadente muito parecido ao clima social, cultural e económico da "geração de 70" que foi pensada pelos vencidos da vida: Eça, Antero, Ramalho Ortigão e outros ilustres pensadores e escritores do nosso país que sempre souberam que um dos principais males do nosso país (no séc. XIX, como hoje) é, precisamente, o estado comatoso das finanças públicas.
Hoje com a agravante de não se saber que papel queremos para Portugal, e que função poderá desempenhar na Europa, no espaço da lusofonia e mundo em geral.
Ou seja, sabemos quem irá ser o próximo PR para o próximo quinquénio, mas isso não evita que continuemos perdidos nesta floresta de enganos em que nos metemos.
Voilá, o caldo cultural que irá envolver a declaração de recandidatura a Belém que Cavaco amanhã irá realizar no CCB, um ícon da sua governação de betão. Isto vai ao encontro da vontade dos inúmeros monárquicos que existem em Portugal, alguns com tanta especificidade que até se dizem "monárquicos republicanos", pois também para eles o momento será de conforto, porque o que vão ter nos próximos anos é um "rei" em Belém, ainda que continuemos a viver nesta decadente III República que agora comemora o seu centenário meio envergonhada.
Com a apresentação de Marcelo de Sousa, no CCB. Não falte!!!
PS: Amanhã o país irá assistir, alí para as bandas do Mosteiro dos Jerónimos, a mais um "corridinho algarvio" dançado pelo casal "Silva", como diria Alberto João da Madeira, e para grande frustração (dele próprio) e de Marcelo que, se espera, e na qualidade de porta-voz não oficial, possa estar presente para dar início aos trabalhos de apresentação dos ranchos pela seguinte ordem: primeiro, o corridinho algarvio; depois, Tia Anica de Loulé.
corridinho algarvio

tia Anica de Loulé - Madrigal

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