domingo

Triste fado à mesa do Orçamento de Estado. Evocação de Rodrigo Leão, Vida tão estranha...

NARRATIVAS DESESPERADAS EM CONTEXTO DE ORÇAMENTO DE ESTADO 2011
Nestas narrativas desesperadas em tempo de vésperas de qualquer coisa de pior que ainda possa acontecer, "consta" que Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga concordaram em acompanhar as negociações ao som de Rodrigo Leão, Vida tão estranha - neste triste fado que são as finanças públicas crónicamente desequilibradas na economia nacional.
Foi também assim com o termo da I República que convidou o professor de finanças, António de Oliveira, a pegar no país para o governar com braço de ferro durante 40 anos. O recurso à música, supõem-se, poderá produzir efeitos miríficos e descongelar o ambiente tenso entre as duas delegações.
O acordo da escolha da música entre os dois homens de cabelos brancos que dirigem as negociações no Terreiro do Passo, antiga capital do Império que já não há, teve por base a letra de Rodrigo leão. Fala em mentira, ilusão, tristeza, fado, enfim, tudo aquilo que é típica e genuinamente português e que hoje ocupa a esfera pública.
Por outro lado, o recurso a este novo fado, resultante da manipulação dos dados económicos que, em rigor, ninguém conhece, fundamenta-se na necessidade de não reduzir a confiança e a esperança no futuro, para não deprimir ainda mais os mercados, ocultando aos operadores financeiros internacionais a verdadeira dimensão da catrástrofe nacional, assim não damos todos os trunfos aos especuladores internacionais, dirá o poeta Alegre.
Desse modo, aqueles intervenientes esperam converter o déficite em superavite, o desemprego em criação de novos postos de trabalho, o desinvestimento e as falências em atracção de novo Investimento Directo Estrangeiro (alguém viu por aí o sr. Basílio hortas!!??), enfim, a desgraça em graça. No fundo, Teixeira e Catroga sabem que ao ouvir Rodrigo Leão nesta fase difícil da nossa democracia e do estado comatoso da nossa economia, é o melhor expediente para prolongar o efeito da ilusão no [in]consciente colectivo dos portugueses.
No fundo, e agora numa linha mais pessoana que aqui funciona como efeito complementar à letra da música de Rodrigo Leão, quando se recorre à mentira - enquanto patologia da conduta política que distorce a avaliação realista dos factos - já não é porque se quer denegar a verdade, ou mera intencionalidade em o fazer para penalizar terceiros, ou ainda para arranjar um culpado, vulgo bode expiatório.
É já, como diria o poeta do Desassossego, porque a mentira se tornou inconsciente nos portugueses em geral, e já não apenas no poder político em exercício. Como reprimimos tanto a mentira no nosso inconsciente, hoje é com uma consciência sincera que mentimos. Por isso, como diz a letra da música, vivemos todos uma Vida tão estranha...
... Rodrigo Leão & Cinema Ensemble - Casino Estoril (A Mãe)

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