sexta-feira

Evocação de Ettore Scola. Feios, Porcos e Maus [Brutti, Sporchi e Cattivi]. Genialmente miserável.

Remake de 5 de Setembro de 2008.
Feios, sujos e malvados trailer
Brutti, Sporchi e Cattivi

Rever Feios, porcos e maus é um desafio permanente que colocamos às nossas consciências. Apesar de não competir à personagem dizer ao espectador o que ele deve ver. Isso seria imoral, cada uma daquelas imagens, cada gesto, cada palavra, cada contexto não deixa de arrepiar. É humano, por isso tudo aquilo é possível, provável.
A dado passo, deixámos o sorriso e já estamos a chorar - sem lágrimas - diante tanta genialidade e hiper-realismo de Ettore Scola - que quando produziu a sua obra-prima - Portugal ainda vestia aquelas roupas, saía de 4 décadas de ditadura e começara a habituar-se a uma ténue democracia - que vivia de altos e baixos.
De modo que regressar a 1976 - data do filme foi, em parte, recuar a um Portugal a preto e branco, a uma Lisboa que também tinha alguns bairros-de-lata - onde viviam muitas famílias em condições muito semelhantes às de Jacinto - com a sua catrafada de filhos, netos e penduras - que tratava como inimigos. Dado que o chefe do clã tinha receio que lhe roubassem o milhão que recebeu da indemnização por invalidez. Por isso, dormia agarrado à espingarda naquela barraca(da) pestilenta, degradante e promíscua - onde até ratazanas coabitavam e tinham mais dignidade do que as pessoas.
Nino Manfredi faz uma magnífica interpretação, poderia até nunca mais trabalhar na vida, Feios, porcos e maus - consagrou-o, e tudo aquilo deu ao mundo uma pincelada do que é o homem em condições sociais degradas e miseráveis.
Estou em crer, apesar da mudança dos tempos e do acesso a melhorias substanciais nas condições de vida, que o homem actual ainda é capaz de reproduzir tudo aquilo, mas noutros moldes, com outras imagens, mas com uma violência estrutural igualmente aviltante.
O homem é sempre capaz do melhor e do seu contrário...
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Vencedor do prémio para melhor realização no Festival Cannes de 1978, FEIOS, PORCOS E MAUS é um dos melhores filmes do realizador Ettore Scola (Um Dia Inesquecível) e, provavelmente, o mais conhecido de sua autoria entre o público Português.
Esta obra prima, elevada ao estatuto de filme de culto, é apresentada em versão restaurada e remasterizada no formato Widescreen Anamórfico e conta com Nino Manfredi (1921-2004), a estrela da "commedia all'italiana" entre os anos 60 e 70, num dos papéis mais emblemáticos da sua carreira.
Giacinto Mazzatella (Nino Manfredi), um ex-operário que recebeu um milhão de liras de indemnização após ter perdido um olho num acidente de trabalho, mora com a esposa, os dez filhos e vários parentes, numa barraca de um bairro degradado da periferia de Roma. Movido pelo egoísmo e pela avareza, esconde o dinheiro que recebeu do seguro e, com medo que alguém o roube, dorme abraçado a uma caçadeira obrigando os outros (mais de 20) a comer, dormir e fazer sexo na mesma divisão da barraca. A situação complica-se quando Giacinto leva para 'casa' uma prostituta e começa a gastar o dinheiro comprando-lhe presentes.
Neo-realismo, sarcasmo, sátira trágico-cómica, com ritmos cruelmente grotescos, "Feios, Porcos e Maus" releva as condições degradantes da vida humana num retrato ímpar da miséria, egoísmo, mentira, promiscuidade, traição, incesto e violência.
REALIZADOR Ettore Scola INTÉRPRETES Nino Manfredi, Francesco Anniballi, Linda Moretti, Maria Bosco, Giselda Castrini, Alfredo D'Ippolito, Marclla Michelangeli, Zoe Incrocci, Giancarlo Fanelli.
Macarrão Feio, Sujo e Malvado
Brutti, Sporchi e C. - MovieSketch (Risveglio collettivo 2)

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