Barriga cheia sem dignidade. Hugo Chavez em Portugal
A personalidade histriónica de Hugo Chavez faz com que a cada minuto, a cada segundo queira ser o centro das atenções, daí o exagero dos seus gestos e manifestações, nem que para isso tenha que falar alto, berrar, contar uma anedota a despropósito, carregar no botão da buzina do navio com meia dúzia de idiotas a rirem-se cínicamente daqueles gestos corrompidos, histriónicos. No plano estritamente material, este pseudo-democrata vem fazer comprars a Portugal: adquire navios, casas pré-fabricadas e computadores, diz que o faz com as "duas mãos e o coração", tamanho o [neo]patrimonialismo que o petróleo do país, que ele trata por "tu", lhe permite. Domésticamente criamos, ou seguramos algum emprego nos estaleiros de VC, mas por dentro sofremos uma humilhação terrível por ter de engolir este enorme sapo. Amanhã, será o ex-terrorista Kadafi que nos entra porta-a-dentro para comprar sapatos ou vinho do Porto, depois o Eduardo dos Santos para fazer uma fusão no sector bancário e por aí fora. Naturalmente, a culpa não é do Sócrates que, coitado, tem de fazer como as velhas meretrizes de bairro, negociar com quem lhes paga, mas a escassa diversificação dos nossos grandes investidores externos tornou-nos altamente dependentes destes ditadorzecos sul-americanos e da bacia do Mediterrâneo que são tão democratas como o PC chinês ou monarca da Coreia do Norte elogiado pelo bernardino do pcp. O mais triste é verificar que se o PM português fosse do PSD passar-se-ía exactamente a mesmíssima coisa, realismo de Estado oblige!! Até apetece dizer que uns governam o mundo, outros são o mundo. Ao ver Hugo a deambular por Viana, por entre a trupe que segue o PM, lembrei-me de que Portugal até poderia ser um moço de recados ou o barbeiro do milionário que conta anedotas, arrota, dá traques e, no final, deixa um cheque generoso onde endossa toda a sua fraternidade do mundo, e ainda deseja melhoras ao Lino. O tal do jamais... Há qualquer coisa de trágico em toda esta palhaçada, e, isso, é, tão somente, o vil metal que faz rolar o mundo e, ao mesmo tempo, faz-nos perder aquilo que de mais precioso temos: a liberdade. O que revela que Portugal ainda não se cumpriu, ainda está por "Ser" o que deve ser sem condições. Dito doutro modo: tornámo-nos esfinges, ainda que falsas, até chegarmos ao ponto de não sabermos quem somos, como diria o Pessoa. Ou então fazemos como o outro idiota: rimo-nos das buzinadelas de navio de Hugo no estaleiros de Viana do Castelo. O que as pessoas têm de fazer para ganhar a vidinha no aparelho de Estado, já que o único modo de estarmos de acordo com a vida é estarmos em desacordo connosco próprios. Eis o absurdo que fomos criando neste Portugalório contemporâneo.
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