terça-feira

Portugal em estado comatoso

O impasse presente nas negociações do OE para 2011 meteu Portugal em coma induzido: sem oxigénio a circular no cérebro da economia as empresas, as famílias e as pessoas paralisam, o sangue tende a parar nas veias e vamos à vida. O ideal, nestas circunstâncias, era podermos hibernar, como os ursos, viver da godura do salmão e do seu Omega3, mas não podemos fazer como o urso. Urso já somos todos nós mas é ao pagar impostos brutais para alimentar um Estado adiposo e incapaz de se reformar e adaptar às necessidades do país.
No xadrez institucional, Belém quer um acordo antes das 20h para Cavaco brilhar e aparecer, once again, na tela mediática como o sebastião da pátria; PPCoelho perpetua as birras pelo telemóvel, demonstrando aquilo que sempre foi: um eterno adolescente na política, convertendo o PSD numa imensa jotinha partidária repleta de tática, mas sem visão de futuro para Portugal; o governo, por seu turno, tem um elevado défice de credibilidade pelos erros cometidos ao nível da política económica e financeira dos últimos tempos, além de que os tugas não lhe perdoarão este esbulho fiscal.
Neste quadro clínico Portugal parece aquele tipo em estado comatoso, rodeado de enfermeiras (ou freiras, ou freiras enfermeiras!!) que lhe encomendam a alma para o despachar para o Alto de São João, em vez de o recuperar para a vida. A imagem carrega um tónus de década de 70, até parece que o FMI espreita e Portugal vai ser governado de fora para dentro, porque os de dentro não se deixam governar.
No fundo, somos pequenos, pobres, rezingões e, ainda por cima, ingovernáveis.
Talvez não fosse marginal pedir aos indianos, aos chineses, ao kadafi ou mesmo a Hugo Chavez, que está mais à mão de semear, que comprem a nossa dívida privada mais a dívida soberana, colocando nós sob penhor para garantir essa transação, por exemplo, o Centro Cultural de Belém ou, como garantia adicional, o Mosteiro dos Jerónimos - a fim de tranquilizar os nossos financiadores externos e pacificar os mercados.
Quando a realidade começa a ultrapassar a ficção, começo a perceber que estamos todos na antecâmara de mais um filme de Ettore Scola ou de Kusturica!!!
É triste assistir a tudo isto fora da tela da 7ª arte. Ou seja, a m.... bateu-nos à porta.
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Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra - Unza Unza Time

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