terça-feira

A teoria da nuvem vulcânica paralisou o homem e a sua tecnologia

Começámos por inventar a roda, o fogo, a pedra lascada e demais utensílios para sobrevivermos num mundo hostil e imprevisível. Mas à medida que a cultura e a civilização foram progredindo inventámos novas ferramentas que, gradualmente, permitiu ao homem fazer o assalto à Natureza para servir os nossos interesses e necessidades e, muitas vezes, revelando um grande desrespeito por ela.
Mas o vulcão em causa que paralisou as comunicações na Europa provocando prejuízos terríveis às suas empresas e economias, diversamente do degelo e do aquecimento global do planeta provocado directamente pela mão do homem, tem os seus caprichos, assume uma lógica própria, e é essa dissociação da acção humana que nos torna ainda mais furiosos e impotentes.
Ou seja, se no caso do aquecimento global e do consequente degelo o homem pode planificar a organização da sociedade e da economia de modo a ser menos lesivo para o ambiente, já neste caso as limitações humanas são efectivamente maiores, pois há variáveis que o homem não controla, daí o impasse em que caímos.
A esta luz, a globalidade promove o reconhecimento desses limites humanos na gestão que o homem faz da Terra, revelando-se, por sua vez, que Ela apenas obedece a regras próprias e tem uma tecnologia e um grau de comportamento que o homem ainda não compreende nem controla, como hoje se vê pela origem, extensão e consequências do vulcão de cinzas islandês. Provando, por outro lado, que os prejuízos provocados às economias europeias, apesar de terem o epicentro num só país, a Islândia, são, doravante os demais países que suportam esses prejuízos.
Ou seja, na prática são os cidadãos contribuintes de todos os Estados europeus que pagam a factura gerada pelo vulcão situado num país.
Quando em 1991 Ulrick Beck, o maior teórico da sociedade de risco, ligou a globalização ao risco no quadro da moderna acumulação do sistema capitalista, não conseguiu prever a verdadeira extensão dos problemas e desafios que o planeta em que vivemos coloca ao homem diariamente.
Riscos (e desafios naturais associados) que hoje não conseguimos tornear com a invenção de mais uma tecnologia, mais uma invenção. Creio que este vulcão islandês veio colocar ao homem um dos principais desafios ao pensamento humano no séc. XXI, que exige hoje uma intuição, um conhecimento e uma tecnologia, e até um common sense, que ainda não demonstrámos possuir.
Creio que esta questão é mais séria e concreta do que retórica, como aqui eventualmente pode supor-se. Todavia, fica a preocupação de que a nossa Era global consiga gerir a globalidade em ordem a preservar simultaneamente vários valores: o desenvolvimento económico e o desenvolvimento sustentável do planeta que habitamos. O mesmo que às vezes nos prega umas partidas...
Mas a aparição deste vulcão de cinzas que colonizou os céus e ocupou as carreiras aéreas habitualmente percorridas pelos aviões, transportando pessoas e mercadorias, obrigou-nos a perceber a nossa pequenez quando olhamos para aquelas nuvens de fumo, que mais parecem ilustrações de BD inofensivas mas que, de facto, paralisam a economia europeia (e mundial), pois basta pensar que mais um ou dois vulcões daquela natureza entre em actividade para, do Pacífico até à América do Norte o mundo, tal como o conhecemos, ficar automaticamente paralisado ao nível do seu sistema de transportes aéreo.
E se "viajarmos" no argumento até ao limite, verificaremos que a poluição marítima produzida por navios-petroleiros desgovernados obrigados a despejar crude no mar – destruindo a flora e vida aquática, acabará por provocar outro tipo de constrangimentos que, somados aqueles que já vivemos nas nossas cidades, especialmente agravados pela poluição produzida pelo transporte automóvel, recorta um cenário tão catastrófico quanto realista nos próximos tempos.
É esta gestão da globalidade que decisores, ambientalistas, cidadãos em geral têm de fazer para melhor planificar a vida na Terra, sob pena de um dia acordarmos e de nem sequer podermos efectuar uma viagem de carro, não apenas por causa do preço exorbitante dos combustíveis, mas porque cessa a finalidade de viajarmos, já que o destino que demandamos nada tem para oferecer ou está sinalizado com uma placa dizendo: FECHÁMOS POR FALTA DE FINALIDADE.
Em rigor, é isto que andamos a fazer ao Planeta, e agora esse tal vulcão islandês de nome estranho vinga-se de todos nós. E se calhar é bem feita!!!

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