segunda-feira

Os "mitos flutuantes" na democracia portuguesa

É difícil em democracia identificar a qualidade e o carácter dos homens, maxime se forem homens públicos com ambições políticas, como foi e é Sócrates, hoje PM, e como é doravante Pedro Passos Coelho, que deseja pela mola do PSD substituir aquele e já vem preparando esse trilho há um bom par de anos.
É legítimo que assim seja em democracia, por efeito de contraste com esse aborto político representado pelo exemplo anti-democrático de Alberto João jardim que ocupa o poder na Madeira desde a fundação da república democrática – em 1974/76 - e tem governado a ilha com populismo e incluindo aqueles que lhe prestam tributo, e excluindo todos aqueles que se recusam a pagar essa sua factura da notoriedade. Estes ficam de fora da administração pública, são excluídos dos contratos de adjudicação da administração pública, sobretudo na construção civil e são publicamente maltratados porque é esse os modus vivendi daquele que um dia Jaime gamas designou de Bokassa.
Provavelmente, e por conveniência de serviço, o actual presidente da AR já não se lembra. Veremos se não será ele o candidato oficial do PS a Belém queimando, no trajecto, o poeta Alegre que tem o particular gosto de "por a carroça à frente dos bois", mesmo sabendo que o candidato a Belém é supra-partidário, nem que seja para "inglês ver"..., como dirá o zé povinho.
Mas hoje, curiosamente, o Al berto é quem mais beneficia da solidariedade do continente que andou anos a achincalhar, embora saiba que o generoso povo português do continente tem gosto em ajudar o hospitaleiro povo português da Madeira, nada é, portanto, por causa do cabo da ilha.
Mas a dificuldade em identificar os grandes homens públicos nas sociedades modernas, onde o desenvolvimento das TIC poderia levar a acreditar que eles têm faculdades mágicas – finda as lutas ideológicas – agrava-se com o facto de alguns desses players serem, ou tornarem-se, eficientes comunicadores no espaço público.
Guterres pontificava na 1ª linha nessa arte, e Barroso foi várias vezes poe ele cilindrado na AR; Sócrates, embora menos articulado do que o seu mestre, também é um comunicador eficiente e articulado; e Pedro Passos Coelho, ontem entronizado no Congresso de Carcavelos, já demonstrou que tem características de ambos na arte de fazer passar a mensagem. Tanto mais que é nessa esfera pública de produção de ideias e de opinião que se geram os mecanismos legitimatórios de afirmação e de liderança pública que, por exemplo, a srª Manuela Ferreira leite, nunca teve nem tem. De resto, a face desagradada com que ontem a senhora assistia ao sucesso do seu ex-rival interno foi tão nítida que não deu para disfarçar.
Mas daqui não decorrem certezas, ou seja, Guterres apesar de comunicar bem e ter ideias organizadas acabou, após a derrota nas autárquicas em 2002, de desistir do poder e desiludir muita gente; Durão, apesar de não ser um comunicador nato, não obstante dominar bem o francês e o inglês, também fez a sua trânsfuga para o El dourado bruxelense; Sócrates tem deixado boa parte da classe média descontente; e, agora, surge uma espécie de novo salvador da economia portuguesa, Pedro Passos Coelho, que já interiorizou a ideia de que comunicar bem e ser fluente é a "pastilha" para o sucesso da economia portuguesa. Ora, não é!!! Ainda que facilite...
Alguns desses mitos flutuantes podem até tocar-nos ao coração, fazer-nos crer nos seus ideários e programas políticos com que se apresentam ao poder, mas permanece sempre a incógnita de saber se o político A, B ou C por comunicar bem também irá conseguir governar eficientemente em prol do seu país.
Hoje, na prática, vamos encontrar dois homens com características muito comuns. No estilo, na boa apresentação, na capacidade de comunicação e oratória, na faculdade de ventilarem mensagens estereotipadas que entrem facilmente na cabeça das pessoas. Sócrates e PPC têm essa faculdade em comum.
Enfim, vamos encontrar no Portugal-político dois homens que são parecidos no modo de fazer política, utilizam os mesmos trunfos, e, pela sua própria natureza, podem seduzir os eleitorados através da sua presença.
Tudo características que nos podem confundir ainda mais do que esclarecer, e o risco das teledemocracias reside precisamente aí: no facto de o povo acreditar que tudo aquilo que é dito nos media tem força de lei e vai ser concretizado, ou tudo aquilo que será anunciado nos media tem uma credibilidade adicional, já que aquilo que é anunciado nas rádios, televisões ou jornais adquire rapidamente um estatuto de verdade inquestionável.
Pedro Passos Coelho está em rota de ascensão. Já ganhou o partido. Já enterrou politicamente a sua predecessora de que, aliás, ninguém guarda memória. Agora terá de fazer prova junto da sociedade, o que implica converter aquelas suas ideias em políticas públicas que se revelem úteis ao país e aos portugueses. Tem também, note-se, de ganhar eleições.
E esse crivo, essa passagem do sistema para a estrutura, o trânsito dos conceitos e dos programas para a realidade dura do quotidiano sofre, nos tempos que correm, uma terrível resistência – ou resiliência – que impede que certos actores políticos promissores se aguentem muito tempo no estado de graça em que ficam, uma vez eleitos líderes dos partidos.
Vejamos se PPC é mais um mito flutuante na sociedade política em Portugal ou é alguém que poderá revelar-se um homem de Estado. Para já é de bom tom dar o benefício da dúvida e esperar que a sua entronização no PSD traduza também uma mais-valia para a democracia social e económica em Portugal.

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