terça-feira

Submedial - por Boris Groys -

Boris Groys diz-nos que os lugares do poder residem no espaço obscuro da suspeita, designado de submedial. Eis o submundo de um mundo mediatizado em cuja superfície esses lugares não são reconhecíveis. De súbito tudo se modifica, e os nossos adversários - e até os nossos inimigos - são aqueles que estão mesmo ao nosso lado, coabitando na mesma sociedade em que sonhamos ter um projecto comum. Este, provavelmente, é um dos maiores paradoxos do nosso tempo: ter de dormir com o inimigo. E nada melhor do que o carnaval para disfarçar essa realidade, que logo reaparece assim que a máscara caia. O problema é que para combater uma conspiração - dos media, por exemplo - o poder, ou os poderes formais - terão de organizar uma outra conspiração, e isso leva toda uma sociedade à instabilidade, à vigilância, à luta entre os seus próprios filhos, e isso não deixa de ser lancinante - especialmente numa fase da conjuntura planetária em que o "fora" também ameaça o "dentro" - que é o casulo onde muitos de nós vivemos. E assim rola o mundo, de guerra em guerra, ainda que de forma imperceptível.