terça-feira

Manuel Alegre: "eu é que sou o Presidiente". Evocação de Herman José

Algo existe no poeta Manuel Alegre com que qualquer português bem formado se identifica: um certo romantismo, paixão pela coisa pública, amor pelo seu país, perdão, pátria (ou mátria!!), um sentido apurado pela indignação, um esprit de revolta e injustiça entre os homens. Alegre reúne estas facetas com que fácilmente nos identificamos, mas também o nosso vizinho, o nosso irmão ou o elemento mais velho lá do nosso bairro, prédio ou associação poderia subscrever, sem favor. Isto não faz de Alegere alguém com especiais capacidades ou aptidões técnicas e políticas para o cabal desempenho do cargo de PR, ao qual agora está a concorrer.
Por um lado, há um lado histórico, simbólico que Alegre valoriza, por outro a política lembra-nos que requer vigor, preparação tecnico-política, intuição, visão, estratégia e liderança que Alegre manifestamente não dispõe, por mais poemas que faça ou por mais que evoque o seu passado anti-fascista, coisa que nem sequer consta do cv de Cavaco.
Isto leva-nos a uma outra questão, ante a soberba e gula de poder que anima Manuel Alegre: quem é o sujeito daqueles discursos(?), que parece repetir ideias velhas, tidas como integradas e já gastas pelos portugueses. Alegre devia supor que há anos que anda a dizer coisas gastas, ainda que pense que tem originalidade. Não tem.
Alguém sabe o que pensa Alegre da Europa e que papel deve ter Portugal nessa plataforma? Ninguém. Pois Alegre sempre que lê um discurso debita uma tonelada de lugares-comuns.
Alguém sabe que ideia política, económica tem o poeta para sairmos da crise em que mergulhámos? Ninguém. Infelizmente, Portugal não se salva nem se safa com uns poemas, umas guitarradas e umas caçadas. Portugal é grande demais para a pequena cosmovisão marialva do poeta - que não o consegue preencher com a sua gula pelo poder.
Alegre anda a repetir-se há décadas, dentro e fora do parlamento, conspira contra o PM de braço dado com o elemento mais radical do sistema político nacional, Louçã/BE, no parlamento está sempre nas filas de trás para boicotar o trabalho do seu grupo parlamentar, ainda que sob a bandeira quixotesca que cultiva, abstém-se e quebra uma certa unidade ou convergência. Ou seja, Alegre é - ou quer ser, apesar da provecta idade, um "menino rebelde" do PS. Alegre é, assim, a modos que - uma espécie de santana Lopes do PS, só que com mais 30 anos nos ombros mas comungando do mesmo vazio operacional para Portugal.
Alegre percebeu que melhor se impunha se se antecipasse ao calendário eleitoral presidencial, nem que para isso tivesse que asfixiar o PS, deixando-o agora entalado entre o BE e o PCP e os media e alguns portugueses a vegetar no caos da discussão presidencial extemporânea. Alegre, na prática, auto-impôs-se, ainda que a candidatura presidencial seja uninominal. Embora, na prática, seja sempre concertada com o partido A, B ou C.
Alegre quis dizer à turba que o seu produto é melhor que o da concorrência porque foi primeiro colocado no mercado, logo terá mais chances de chegar junto das bolsas dos clientes e dos consumidores políticos.
Alegre, no fundo, e apesar de ser já de idade considerável, factor que não tolheu Mário Soares nas suas funções presidenciais, é levado a fazer coisas que jamais faria se os outros não existissem; coisas que faz, por exemplo, para chegar primeiro que os outros.
De certo modo, isto lembra-me as brincadeiras de criança retratada entre dois irmãos: um, mais velho e mais gordo; o outro, mais novo e mais ágil. Aquele partia sempre primeiro fazendo batota nas partidas e nos jogos sociais que então se praticavam; mas era o mais novo que acaba por ganhar sempre as partidas, mesmo arrancando sempre depois do irmão mais velho.
Alegre evoca-me a estória do irmão mais velho e mais gordo, sempre garganeiro e soberbo, e de tão guloso que era perdia sempre.
Agora só resta ao poeta Manuel Alegre eleger para seu mote de campanha a fórmula: Eu é que sou o Presidente, porque arranquei mais cedo, por isso votem em mim...
A vantagem ou a virtude seria fazer uma evocação (merecida) a Herman José por ter criado mais esse cromo na história de Portugal, já indissociável da tralha esquerdista que hoje navega nas águas do PS e do BE - e que nenhuma utilidade tem hoje para oferecer ao nosso querido Portugal.
Nota: Se, par hazard, os candidatos à PR se recortarem entre Cavaco (ao centro direita) e Alegre (no centro esquerda), qual brigada do reumático, a taxa de abstenção subirá exponencialmente. Por mim falo, pois ao não sentir-me minimamente representado por um ou pelo outro não irei votar por falta de candidato credível. Esperemos que até lá sangue novo apareça, Portugal e os desafios que temos pela frente agradecem.
Herman Enciclopedia - Eu é que sou o presidente da junta

Herman José - A Origem do Presidente da Junta

Herman Enciclopédia - O Presidente da Junta