sábado

Fernando Pessoa - um poeta animado pela filosofia -

Em páginas íntimas de auto-interpretação Fernando Pessoa (FP) diz-nos que foi um poeta animado pela filosofia e não um filósofo com faculdades poéticas. O que nos remete para uma reflexão de Martin Heideger, quando afirmava que só a poesia é da mesma ordem que a filosofia e o pensar filosófico. Mas a coisa complexificava-se quando o próprio FP se dizia um "louco sem loucura", um múltiplo, um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas gerando uma única realidade que não está em parte nenhuma e está em todas. Como estamos no Natal e o cardeal saudou todos aqueles que adoram um só Deus, os monoteístas, encontramos em FP um panteísmo englobante, alguém que sente a árvore, as flores, sentindo-se, simultaneamente, vários seres. Vivendo vidas alheias, como se participasse de cada uma, na incompletude, mas sumando vários "eus" num postiço. Freud descobriu a psicanálise e a importância do subconsciente, FP identificou esse jogo da verdade, montado com vários personagens, a que chamou heteronímia. A par de um Pessoa genial, coabita um outro desatento e desinteressado, mas ambos possuem o talento para se destruir, um poder e um só fôlego para se entreter com uma simples poesia, de que pode nascer um pedaço de filosofia. E isso é também genial no mestre dos mestres do séc. XX. Por isso também aqui o evocamos.