quarta-feira

Deserto ou esgotamento da política

Quando hoje nos deparamos com os fins últimos da política, e enquanto trocava prendas com um amigo, entrevia como o fim dos projectos se consumia nas chamas do nada, o esgotamento das energias utópicas, no pensar de J. Habermas, se efectiva. Fim das utopias e dos grandes projectos – que já não tem como adversário uma entropia qualquer – mas sim a própria vida, compreende-se como os próprios fins perderam a sua força de atracção magnética: o governante é desprezado pelo povo, ninguém crê nos juízes, os polícias também pouca confiança inspiram, os professores, muitos deles, não têm vocação para o ensino e escavacam a mente verde dos alunos que poderiam ter professores a sério, ou seja, as promessas de toda essa gente já não serve para aglutinar coisa nenhuma. Quando nos perguntamos que projecto existe hoje em Portugal, nos planos micro e macrosocietário, a resposta está no combate ao défice, ao desemprego, à pobreza. É curto. Parece que a controvérsia em torno das alternativas terminou, o que é patente quando hoje se olha para a relação entre o actual PM e a actual líder do maior partido da oposição. Há desesperança em ambos. Cada um desilude no seu campo de actuação. Embora a oposição sirva menos. Hoje a alta política, a alta governação, os grandes desígnios para o país resumem-se a pequenas correcções do orçamento, a modificações parciais nas políticas públicas para se conformarem com a vontade de Bruxelas. Pensamos e vivemos como se estivéssemos a fazer uma peça de teatro, mas já não controlamos as cenas, os diálogos escapam-nos, de tudo resultando uma má representação e com a assistência a reclamar o dinheiro do bilhete. É hoje assim Portugal. E se as utopias secaram, resta apenas perceber que Portugal vive hoje, e 2010 não será diferente, uma espécie de deserto da trivialidade que está em expansão. Talvez seja por este encadeamento de limitações que a história não pára, temos meios mas desconhecemos os fins, conseguimos inovar mas não criamos alternativas no plano macro-social, temos algumas perspectivas mas nada disso significa esperança. Voilá, Portugal da 1ª década do III milénio. Triste séc. XXI.