quarta-feira

Um lúcido Editor. do Jumento

A política tem destas coisas, o mesmo Cavaco Silva que parece ter dado rédea solta aos seus assessores para conspirarem contra Sócrates, com o objectivo claro de levar Manuela Ferreira Leite a São Bento, vê-se agora orçado a andar com Sócrates ao colo se quer ter esperança de vir a ser reeleito Presidente da República. Quando Sócrates tinha a maioria absoluta mas ficou vulnerável face à crise financeira Cavaco optou por lhe tirar o tapete, agora que Sócrates não conta com uma maioria absoluta Cavaco vê-se obrigado a protegê-lo.
O que irá pela cabeça de um Fernando Lima que há poucos meses promoveu falsas acusações com o objectivo de destruir Sócrates e agora vê Cavaco pedir aos partidos que deixem passar o programa de governo e o orçamento?
A diferença no comportamento de Cavaco Silva explica-se pelo calendário eleitoral, antes Cavaco tinha uma estratégia em função as legislativas, agora actua em função das eleições presidenciais. Este é o prior dos cenários para Cavaco Silva, parte com a imagem de um político que não tem perfil nem está à altura das exigências do cargo de Presidente da República, é forçado a apoiar o partido que não queria ver no governo, não vai conseguir gerir o processo de mudança na liderança do PSD e nem este nem o PS lhe vão agradecer o que tem feito.
Cavaco vai usar o protagonismo que a ausência de uma maioria absoluta lhe proporciona para assumir o papel de garante da estabilidade o que não deixa de ser irónico, quando essa estabilidade estava assegurada pela existência de uma maioria absoluta foi ele e os seus assessores que assumiram a função de desestabilizar. Só que este apoio ao PS fá-lo perder a confiança da direita e é pouco provável que lhe traga simpatias à esquerda.
Se quiser os votos da direita Cavaco terá de desagradar ao PS mas isso levaria a uma grave crise política e, muito provavelmente, a uma derrota nas presidenciais. Se quiser os votos à esquerda Cavaco terá de desagradar à direita mas isso pode levar à implosão de um PSD que precisa de se livrar dos cavaquistas para reencontrar a sua identidade, mas que depois de mais de duas décadas a servir de eucaliptal cavaquista perdeu o seu espaço político.
O mesmo Cavaco que sonhou ver-se livre de Sócrates é agora prisioneiro do líder do PS, a sua reeleição vai depender da estabilidade política e da recuperação da economia. Por outras palavras, se Cavaco quer ser reeleito terá de ajudar Sócrates a recuperar a governar bem e a manter-se no governo e, muito provavelmente, a recuperar a maioria absoluta.
Cavaco apostou e perdeu, não só perdeu como ficou com grandes dívidas de jogo de que Sócrates é o grande credor. O PSD vai aprender uma dura lição, Cavaco Silva é um político que apenas se serviu dele para satisfazer as suas ambições pessoais e fará tudo o que for necessário para sobreviver, incluindo ajudar à destruição do partido que o deu à luz na vida política.
Obs: É triste constatar que o actual PR entende o conceito de interesse nacional se este se conformar com as suas ambições políticas pessoais, e se nos reportarmos à história política recente verificaremos que cavaco sempre actuou assim. Claro está que na década de 80 do séc. XX beneficiou dos milhões de contos que jorravam Portugal adentro provenientes de Bruxelas que serviram para construir estradas, escolas e hospitais na sua famosa política do betão, mas volvidos os tempos das "vacas gordas" Cavaco teria não apenas muita dificuldade em governar como grande incapacidade em fazer diverso entendimento daquele pessoalíssimo conceito do que é o interesse nacional: sempre o interesse pessoal e político de Cavaco. Ora sabemos que, não raro, os interesses pessoais e políticos de cavaco não interessam nem ao menino jesus, como se viu no caso das escutas nem no apoio lamentável que deu à sua pupila em sede de eleições legislativas. Cavaco já não sabe apenas em que consiste o conceito de interesse nacional - que deveria observar - o seu problema é mais grave, pois desconhece o sinónimo da palavra: imparcialidade. Cavaco, em rigor, tem sido aquela espécie de árbitro que recebe por fora para meter os amigos no poder. Perdeu. Mas por aqui também se aquilata da tão proclamada seriedade do actor em política. A outra também falava em "política de verdade"... Estão mesmo bem um para o outro.