Habituem-se!!! - um Governo com nervos d' aço... Xadrez
Foi uma previsão que encontrou fundamento nos factos, Sócrates, apesar de ter uma linha de comando dura revelou também ser um homem flexível, e essa condição traduzir-se-á na estabilidade governativa que pressupõe uma responsabilidade partilhada, chamando à pedra toda a oposição e não apenas o Governo - que tem a responsabilidade de conduzir os negócios do Estado.
Mas dessa estabilidade dependerão três condições: o comportamento do PR, que nos próximos tempos não terá nenhum interesse em armadilhar o terreno ao Governo, até porque Cavaco ensaiará em breve a sua recandidatura, podendo mesmo não ser reeleito, à luz do seu péssimo mandato, acrescentamos nós; da forma como o governo governar; e da qualidade e da expectativa de toda a oposição.
Cairá o governo antes do termo da legislatura?!
Se a crise for desencadeada pela oposição será esta a responsabilizada pela crise e isso terá uma factura eleitoral premiando o governo; se for o governo será o PM o penalizado.
Por outro lado, a flexibilidade política de Sócrates também está presente na escolha do próprio presidente do Grupo Parlamentar do PS na AR, na pessoa de Francisco Assis, um hábil negociador - característica necessária na actual configuração de forças na AR. Pureza e Aguiar Branco irão pelo BE e pelo PSD. Também pessoas com perfil conciliador - o que prenuncia um futuro repleto de diplomacia parlamentar, convertendo o Parlamento no centro nevrálgico do sistema político nacional.
Quanto à composição do futuro Governo será, na opinião de AV, um elenco com nervos d' aço, e compreende-se porquê. De resto, a anterior legislatura, o período eleitoral que se seguiu foi duma violência verbal sem precedentes em Portugal, e isso deve-se, por um lado, ao ressentimento de a oposição ter perdido todos os debates parlamentares para Sócrates, por outro, à inoperância política, técnica e cultural da oposição em criar um sistema de ideias e um projecto nacional alternativo ao PS. Estas duas impossibilidades frustraram e recalcaram o sistema nervoso da oposição, e a fuga desse recalcamento manifestou-se no teor da linguagem mais agressiva desde o 25 de Abril.
Uma nota final relativamente ao PSD, em que AV acaba por ser o estertor analítico do cavaquismo, essa relíquia do passado que só sabia governar a sua imagem mediante a entrada dos fundos comunitários da então CEE. Gostaria hoje de ver Cavaco a governar o País em crise financeira e num quadro económico e social recessivo. Já lhe teria dado um xelique...
Ante a necessidade da senhora idosa ir tratar do netinho e fazer o seu bacalhau espiritual, o PSD precisa de arrumar a casa, para tal carece de duas vias: fazer a revisão da identidade do partido mitigando a sua veia cristã e liberal - em que assentou o velho cavaquismo, já há muito morto e enterrado; e escolher a personalidade que se traduza no "cavalo vencedor" no espaço de tempo mais curto, para satisfazer a ânsia de poder desse eleitorado esfomeado que são as hostes deste PSD - de Ferreira leite e de António Preto - moribundo.
E aqui há duas escapatórias para a possível liderança: Rui Rio ou Marcelo Rebelo de Sousa (Pedro Passos Coelho afigura-se tão irrelevante que nem sequer é considerado). Aquele fica na CMP, Marcelo está a induzir os seus seguidores a fazer um conclave de notáveis que, perante o eleitorado, olham para aquilo como uma cooptação do líder, como sistematizou AV.
No fundo, há toda uma cultura snob no PSD que sempre desagradou milhões de portugueses. É essa a mesma cultura que Marcelo personifica, o "tio" da linha do Estoril, que espelha uma certa superioridade moral e intelectual relativamente aos outros, embora não o admita publicamente, só em privado. É a mesma cultura snob e estéril que faz com que as "tias e os tios" da linha da Costa do Sol se preocupem em criar a moda do cumprimento dando só um beijinho no trato social...
Mas este PSD está tão moribundo que carece mesmo de dois.
Habituem-se!!!
Xadrez
(Veremos se Sócrates não terá de fazer o número do desmaio para ganhar a partida e resgatar a "dentadura do Poder" concluindo com êxito a legislatura. É que governar é, em boa medida, representar, e representar é uma arte e uma techné proveniente do Teatro.)
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