Green Drinks: a rede social que quer salvar o mundo gole a gole
Green Drinks: a rede social que quer salvar o mundo gole a gole
por BRUNO ABREU
São amigos do ambiente. Gostam de o discutir, mas não em aborrecidas conferências. Preferem sentar-se com uma cerveja à frente, conhecer pessoas novas que partilhem os mesmos gostos e conversar. Se no fim se chega a alguma conclusão, é indiferente. Querem mudar o mundo falando de ambiente, mas também através do convívio. São os 'green drinkers'
Parecem um banal grupo de amigos que se encontra para conversar sobre o dia-a-dia, jantar e sair para um qualquer bar lisboeta. Mas não são só isso. Chamam-se green drinkers e reúnem-se uma vez por mês para discutir o ambiente de maneira informal. O seu lema é "salvar o mundo, um gole de cada vez".
Esta rede de pessoas interessadas em discutir temas ambientais existe desde 1989 e já tem grupos em cerca de 600 cidades em todo o mundo. Tudo num ambiente jovem, descontraído e divertido. Em Portugal, mais propriamente Lisboa, foi preciso a mão de um italiano para se iniciarem os Green Drinks.
Encontramos Damiano, vegetariano e ecologista que trabalha como investigador no Instituto Superior de Agronomia (ISA), sentado numa mesa do salão da Casa do Alentejo, em Lisboa - quartel-general dos green drinkers "alfacinhas". "É um grupo de pessoas que se reúne e partilha informação. Todos são diferentes, todos trazem conhecimentos variados. Tudo em volta de uma mesa de café", conta Damiano, nascido em Verona, mas que trouxe a ideia de Inglaterra depois de lá ter vivido alguns anos. "Em Londres reuniam-se entre 40 a 60 pessoas. Basicamente íamos lá beber um copo após o trabalho, conhecer pessoas com os mesmos interesses que nós", lembra. O máximo que até agora conseguiu reunir em Lisboa - começou com os encontros em Agosto de 2008 - foram seis pessoas.
Entretanto foram chegando o resto dos drinkers. Renato e Margarida estão a tirar um MBA em Gestão e vieram aos Green Drinks para discutir o seu projecto: criar filtros para melhorar a qualidade do ar dentro das empresas, sem afectar a eficiência energética e que possa ser colocado em qualquer escritório. BioWall de seu nome.
Já Carla - designer que transforma plásticos em bijuteria - diz, por entre algumas cervejas e um queijo alentejano, que participa nos Green Drinks por ser uma interessada nas temáticas ambientais. "Venho discutir o ambiente, apesar de não ter uma profissão na área".
Este é um dos objectivos dos Green Drinks, juntar estudantes, profissionais, ambientalistas ou simples interessados, num ambiente acolhedor e descontraído. "Até porque nos Green Drinks o importante não é discutir o facto de as emissões de carbono terem subido a temperatura em dois graus", diz Damiano. Durante o encontro discutiram-se receitas vegetarianas, viagens pela zona Oeste, idas à Nova Zelândia e também se divulgaram passeios de bicicleta, além de projectos desenvolvidos pelos próprios drinkers.
Como o de Alexandre, colega de Damiano no ISA. Estreante nestes encontros, veio para trocar ideias sobre um trabalho que está a fazer no combate a uma doença que atinge as videiras. Conversar com pessoas que se interessam pelo ambiente pode ser útil para descobrir uma forma de eliminar esse fungo "sem uso de pesticidas".
Mas os encontros não se resumem apenas ao aperitivo antes de jantar. Muitas vezes continuam noite dentro, com jantar e uma saída. Mais importante: todos estão convidados a aparecer.
Carla Recicla materiais plásticos fazendo bijuteria
Jennifer Prefere os produtos locais e roupa de fibras naturais
Damiano Vegetariano, exige que se desliguem as luzes em casa quando não são precisas
João Trocou o carro pela moto para ir trabalhar
Catarina É uma fanática da reciclagem, separando tudo
Alexandre Viaja de moto para poupar nas emissões de carbono
Renato Não conduz na cidade. Usa transportes públicos nas deslocações longas
Margarida Faz reciclagem tanto em casa como local de trabalho
Obs: Este tipo de iniciativas comove-me. Pelo ambiente, pelas bebidas e pelos petiscos. Quanto aos actores reconheço a necessidade de proliferarem novos romantismos com ressonância política, geradores de novas utopias construtores de novos mundos, ainda que no final haja mais poluição e os problemas se multipliquem. Conta a intenção que fica para memória futura. Devo dizer, contudo, que a Casa do Alentejo é mesmo o local mais apropriado a este tipo de utopias pós-modernas, o problema é que a última vez que lá fui, mui recentemente, vim de lá com a língua feita num saleiro medieval por causa da carne salgadíssima que me serviram (seria um acordo com as cervejeiras!!!); em matéria de bacalhau com pimentos e tomate - mais me parecia uma caldeirada de peixe do rio com uns sinais pífios de bacalhau. A minha ilustre companheira gostou tanto do espaço como eu, mas a confecção deixou muito a desejar, e hoje - outro amigo confidenciou-nos que até ratazanas por lá - vistosa e garbosamente - se passeavam. Noutro tempo certamente. E deveriam ser ratas poluentes pouco dadas a estes romantismos ecológicos. Mas o que interessa mesmo fixar é que o mundo experimente estas novas utopias em prol do ambiente e da sustentabilidade do nosso planeta. E a Casa do Alentejo é, seguramente, um espaço mourisco agradável e repleto de ressonâncias culturais para o efeito, mesmo que se tenha de ir para lá já almoçado ou jantado. Pode ser que para a próxima leve os óculos e acerte melhor no menú, ou a consorte esteja mais inspirada...
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