quinta-feira

Saramago é crente, mas não o confessa. Deus nunca lhe fez prefácios

Saramago ao postular nos seus romances que, confesso, nunca tive a paciência de ler até ao fim, que o Deus da Bíblia é "mau e vingativo" e o Outro - da criação do mundo - é inexistente, procura reduzir a criação da natureza a um acidente cósmico explicado pelos físicos ou, mais comezinhamente, ao novelo que engendra nos seus livros, de efeito mais limitado, seguramente. Mas, com sorte, ainda somos capazes de descobrir que o escritor escreve sempre com um Cristo ao lado e outro no bolso, adormece em plena oração pedindo a Deus que lhe prorrogue o prazo da vida por mais uns tempos, e sempre que conclui mais um livro deve dar uma escapadela à missa da manhã, por regra com poucas pessoas e dirfarçado, para prestar tributo ao Senhor pela força que lhe deu por mais uma narrativa e pela dádiva da própria vida. Creio que a grande frustração do escritor é não ter Deus, ou seu filho Jesus Cristo, a assinar-lhe os prefácios. E se assim for tal revela que Saramago é um homem muito crente, embora tenha vergonha em públicamente o confessar.