terça-feira

Manuel Alegre assume o papel do "pavão" da política-ficcional à portuguesa

Sejamos sérios: basta ouvir Manuel Alegre 3 minutos para perceber que um Programa de Governo elaborado pelo poeta não seria exequível. Por falta de realismo, de orçamento, de visão estratégica e o mais. Alegre cantou a Liberdade, é um poeta, estruturalmente é difuso e não domina sectorialmente nenhuma das áreas da governação, talvez a área da cultura onde tem mais afinidades, o que não faria dele um eficiente ministro da Cultura. O resto são sound bytes que ele ouve falar ao Anacleto Louçã e pensa de que se pode apropriar. Em 4 anos de legislatura não se conheceu ao poeta-deputado uma iniciativa legislativa com vista à melhoria das condições de emprego em Portugal. Mas nos últimos meses Alegre anda muito preocupado com o Código Laboral e com a precariedade das condições laborais. São, de facto, preocupações sérias que atingem milhares de pessoas em Portugal, mas vindas de Alegre sabem a cinismo, oportunismo e hipocrisia. Ao pretender, a dois meses das eleições gerais, que o PS deve mudar as pessoas e as políticas sem, com isso, oferecer uma alternativa credível, Alegre apenas está a criar um foco de conflito, uma zona de ameaça e de chantagem política acelerada sobre o seu próprio partido e sobre a sua liderança antes das legislativas. E percebe-se: Alegre queria já o compromisso do apoio do PS às eleições presidenciais, tal o seu irrealismo.
Alegre, de facto, radicalizou a sua postura, ele já não quer apenas alterações de forma, ele pretende a cabeça de Sócrates numa bandeja e resgatar um capital político que o promova, gradualmente, à corrida para Belém. Foi aquilo que ontem António Vitorino referiu: Alegre pretende construir um perfil presidencial. O que é completamente extemporâneo. Mas isto revela bem como Alegre ainda se encontra na fase da adolescência política, apesar de ser já um idoso na política em Portugal.
Mas aquilo que Alegre tem, de facto, feito nos últimos meses é exercitar o papel do "pavão-político" que ora anda de braço-dado com o BE, com quem conspirou nas ruas de Lisboa, vota contra medidas políticas interessantes no Parlamento pondo-se em bicos-de-pés para que os media falem dele. Bem ou mal, não importa. O que importa, é que falem dele.
Creio que é este o projecto político-ficcional do poeta-deputado Manuel Alegre, além de ir descarnando o PM como ressentimento por não ver acolhidas as suas (não direi ideias!!) mas opiniões.
Embora se saiba que a governação não se faz dessa massa disforme.