sexta-feira

Tributo a Ernest Hemingway

Remake de 2006. Adap.
TRIBUTO A ERNEST HEMINGWAY:
O peso das tradições e dos costumes mantém-se em Monsaraz: não os critico nem os censuro. Provavelmente, faria o mesmo. Até porque a questão da morte do touro violar o direito dos animais é, quanto a mim, uma falsa questão.
Aqui a questão maior é, a nosso ver, a própria evidência trágica com que o homem sempre se debate desde que nasce: seja diante de um touro, ante a queda dum avião desgovernado, diante um homem enfurecido que ceifa a vida a outro.
Creio que o genial Ernest Hemingway soube capturar essa essência, aceitou-a e recriou-a a ponto de a universalizar na sua Obra, e bem. No fundo, - se pensarmos bem, e esta é uma "directa" para os "pacifistas da tanga" que passam a vida a defender os direitos dos animais e depois ingerem carne de vaca (até) ao pequeno-almoço, alguns vão para a tv dizer que são vegetarianos, e defendem o indenfensável - se isso lhes trouxer alguma ocupação ao cérebro ou alguns subsídios de Bruxelas.
O Homem, desde que nasce, passa toda a sua vida num jogo com a morte, e foi isso que, infelizmente, sucedeu ao próprio Hemingway.
Muito provavelmente, os catalãos que hoje pugnam por abolir as touradas, terminando com uma tradição secular que marca a própria identidade de Espanha, são capazes de sentir mais compaixão, ternura e afecto por um boi do que pela morte do escritor E. Hemingway. Em tudo isto há uma tremenda hipocrisia, e as touradas (ou a sua abolição na Catalunha) nada mais são do que pretextos para evidenciar uma pretensa diferença cultural e civilizacional do resto de Espanha, dando a entender que os catalãos são pessoas civilizadas porque defendem uma vida digna para os bois, e os habitantes das demais províncias e regiões espanholas são uns bárbaros porque continuam a defender, e bem, as touradas. Esta dicotomia é falsa, estéril e só leva Espanha para um beco que não aproveita a ninguém. Creio que o Reino de Espanha tem problemas bem mais graves e prementes, como o desemprego situado nos 20% (o dobro da taxa de desemprego verificada em Portugal) para resolver.
Pela minha parte, confesso que lamento mais este suicídio de Hemingway do que a morte de todos os touros do mundo. O homem é que é o valor central em roda do qual tudo gira, e se se respeitar isto tudo o resto se respeita - até (saber) apreciar um espectáculo destes que é uma tentativa do homem se encontrar consigo próprio diante dos seus medos, como decorre de enfrentar um touro de 500 kilos que tem a força de um comboio. E aqui a luta é desigual, pois se o touro pode matar o homem na arena, este também tem o direito de o pode matar na sua lide.
E por vezes correr à frente dum touro nada é do que fugir à frente duma mulher. Depende..., tudo é relativo, afinal! Fugimos de quê? Talvez da morte, e "o touro é que as paga". E o próprio escritor.., qual é a associação de admiradores de Hemingway que aparece por aí declarando que se opõe à morte do escritor??? Que tomou a decisão de se suicidar com um tiro na cabeça em 1961, acto esse que nenhuma relação teve com as touradas de Pamplona, mas contribuíu muito para as celebrizar e universalizar.
O "touro", na filosofia oriental, é um obstáculo, um pequeno problema que temos de resolver, e os forcados que o digam, que também oferecem a sua vida aos cornos do touro. Aqui também não aparece nenhuma ONG pró-vida dos forcados!!!. É pena, mas desta omissão resulta uma terrível hipocrisia que já está instutucionalizada e que tende para o agravamento e ampliação nos períodos de Verão em que ocorrem as festas tradicionais. Essa gente tem é falta de projecto de vida e tende a arranjar umas causas em tudo aquilo que der jeito, for mediático e gere polémica. São, em rigor, uns pobres de espírito.
E se desse recontro do homem com a quase-morte - que o touro representa - ele sai quase sempre por cima, então eu digo - pois que a tradição se mantenha e, se possível, se reforce, e Monsaraz está de parabéns e Évora também. Viva a tradição, apesar de ela já não ser o que era..., nem os touros, creio.. (...)
Quanto aos pacifistas que osquestram estas campanhas verónicas daqui os convido a ler alguma coisa séria sobre a relação do homem consigo mesmo, com o touro que, afinal, acabam por comer num pratinho lá de casa. Embora admita que nem todas as pessoas tenham a cultura, a sensibilidade para saber apreciar uma boa tourada.

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