quinta-feira

Operação histórica: venda da Vivo e entrada na Oi

Portugal Telecom vai receber 7,5 mil milhões de euros pela posição na Vivo, um valor superior à capitalização bolsista de todo o grupo PT. A entrada no capital Oi custará 3,7 mil milhões de euros.dn
"A maior operação financeira da história de Portugal." A frase foi utilizada pelo presidente da Portugal Telecom, Henrique Granadeiro, para classificar o negócio ontem aprovado da venda da Vivo à Telefónica por 7,5 mil milhões de euros e a aquisição, em simultâneo, de uma participação de 22,4% do capital da Oi, por 3,7 mil milhões de euros.
O encaixe dos 7,5 mil milhões de euros pela participação de 29% na Brasilcel irá dividir-se em três fases: 4,5 mil milhões de euros serão pagos no prazo máximo de dois meses, devendo a operadora portuguesa receber mais mil milhões de euros até ao final do ano. O valor restante - dois mil milhões de euros - será pago pela Telefónica até ao fim de Outubro de 2011.
A conclusão da operação, 12 dias após a retirada da oferta da Telefónica - exactamente o período de alargamento pedido pela PT e rejeitado pelos espanhóis -, permite à operadora encaixar uma verba "superior à capitalização bolsista de todo o grupo PT", adiantou Granadeiro. Em conferência de imprensa, o presidente da PT referiu ainda que "o conselho de administração da PT conseguiu o que muitos consideravam impossível: arranjar uma solução que fosse ao encontro da vontade de todos". Ou seja, a Telefónica atinge a liderança do mercado de telecomunicações brasileiro; a PT encaixa mais dinheiro e mantém-se no Brasil; e o Governo português, que classificou de "interesse nacional" a sua presença naquele mercado, salva a face.
Embora o memorando de entendimento com os accionistas da Oi deva ser assinado já nos próximos dias, o negócio só será concretizado quando estiver completa a venda da Vivo, adiantou Zeinal Bava. Segundo as contas do CEO da PT, se tudo correr como previsto (ver caixa em baixo), a operadora portuguesa poderá assumir a sua posição na Oi já no primeiro trimestre de 2011.
Na sua intervenção, Zeinal Bava, que fez questão de afirmar que "a Vivo é o passado e a Oi é o futuro", explicou que dois terços do valor pago pelos 22,38% da operadora brasileira "para ficar na empresa de forma a fortalecer o balanço e potenciar a expansão da Oi".
A aquisição da posição na maior operadora do mercado fixo no Brasil será feita através da compra de uma participação minoritária de 35% na Andrade Gutierrez e da La Fonte (as maiores accionistas da Oi) e de 10% no capital da Telemar Participações, que controla a operadora. A PT vai ainda subscrever um aumento de capital da Telemar Participações no valor de 1,8 mil milhões de euros. O acordo alcançado prevê igualmente a nomeação de dois membros da PT no conselho de administração da Telemar Participações, e de dois administradores na Telemar Norte Leste (outra das empresas do grupo).
Zeinal Bava não escondeu "a nostalgia que envolve a venda da Vivo" (faz hoje 12 anos que a PT iniciou este projecto), mas desvalorizou a perda de controlo das operações no Brasil com esta participação minoritária. "Vamos estabelecer uma nova parceria com uma empresa que oferece condições extraordinárias no futuro", realçou Bava, que disse que "as metas estabelecidas pela PT vão manter-se inalteradas, podendo, quando muito, ser revistas com números mais ambiciosos. Vamos transformar a Oi num caso de sucesso".
Obs: Tudo acaba bem quanto jorra dinheiro a potes. O interesse nacional é, consabidamente, uma variável plástica, moldável, ajustável. Nessa medida, paira no ar a ideia de que o Governo sacou da sua bomba atómica/Golden share para fazer subir a parada da Telefonica sobre a posição da PT na Vivo. Se assim foi, o Governo defendeu bem o seu interesse nacional fazendo um encaixe de mais de 300 milhões, se foi só para afirmar um prestígio e uma autoridade face ao empresariado que comanda a estrutura accionista da Pt, pois este terá de saber agradecer ao Governo que agora terá um bolo maior para redistribuir dividendos pelos accionistas. O importante, contudo, é saber se o know-how da Pt no Brasil consegue traduzir-se em mais-valias na cadeia de valor da Pt - integrado agora por uma estratégia de desenvolvimento que a empresa de Picoas tem vindo a desenvolver ao longo destes últimos 12 anos na nossa ex-jóia da coroa. Mas não me surpreenderia que entre Governo e accionistas houvesse sempre uma hot-line - ao estilo da Guerra Fria - para ir controlando os danos, neste caso, as vantagens e o brutal encaixe financeiro com a venda desta posição da Pt na Vivo. Tudo acaba bem quando todos ficam mais ricos, veremos se mais desenvolvidos...

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