Nacionalista e Federalista - por José Adelino Maltez -
NACIONALISTA E FEDERALISTA, picado no DN
Europeu, num qualquer canto de Portugal, assumo o projecto das doze estrelas como uma nação de nações e não como um rolo compressor apátrida que, ao unidimensionalizar-nos, como súbditos de uma hierarquia das potências, incluindo a das multinacionais partidárias, nos faz esquecer o essencial de um projecto de uma democracia de muitas democracias, que não pode ficar-se pela retórica de um qualquer tratado que paire acima dos cidadãos como papagaio de papel.
Pior ainda se transformarmos o Parlamento Europeu num caixote doirado da história do PREC, ou num museu de figuras de cêra da nostalgia revolucionária, para onde se mandam reservistas como prémio de fim carreira, ou simples emplastros que se escondem atrás dos cabeças de lista. Infelizmente, o PS, o CDS e o PSD, essas secções domésticas da oligarquia multinacional partidária que esmaga o sonho dos pais-fundadores da Europa, quase estão a jogar para o empate, a fim de não descerem de divisão, reduzindo o voto a mero cheque em branco e escondendo um programa tão clandestino quanto a falta de cumprimento da palavra dada sobre o referendo, só porque o tratado foi “porreiro, pá!”.
Este défice de povo nunca poderá ser disfarçado por uma multidão de dois mil camaradas em excursão, com enganos de agenda numa qualquer feira do queijo, ou com o recato de uns colóquios de alcatifa e "zoom" de telejornal, para uma qualquer frase da noite, perante uma centena de convidados. Ao menos Jerónimo esmagou, expressando a sua soberania de rua com oitenta e cinco mil manifestantes, coisa que só os cem mil devotos de Nossa Senhora de Fátima conseguem igualar.
Preferia discutir as pluralidades de pertenças das saudades de futuro, dado que só através da nação podemos enraizar a urgente super-nação de uma Europa como república maior, a caminho da urgente república universal, porque podemos, como o País Basco ou a Catalunha, ser simultaneamente nacionalistas e federalistas, sem cedermos ao populismo e às ditas extremas reaccionárias, ou revolucionárias, com que nos desesperam algumas candidaturas lusitanas.
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Quem passou os olhos sobre a cerimónia dos penduricalhos, com que se fizeram ontem as viagens na minha terra ao ritmo pimba, compreendeu que os portugueses oficiais estão entalados entre a comenda dada a Roberto Carneiro e a outra posta no professor Pedrosa, isto é, entre os ministros educativos de Cavaco e de Guterres, esses sinais da presente luminosidade reformista, cuja sínteses estava batendo palmas na primeira fila: Maria de Lurdes Rodrigues. Isto é, Rui Belo, Jorge de Sena, Almeida Garrett e Fernando Pessoa, depois de mortos, foram instrumentalizados no mau sentido. E o discurso inconformista de António Barreto soou a falsete, porque, na prática, a teoria foi outra. Se calhar, os melhores portugueses não podem ser mesmo portugueses. Têm que ser reconhecidos no exílio, externo ou interno, quando decidiram mesmo ser Portugal e tiveram que procurar Portugal fora daquele Portugal que elevou a primeiro condecorado um ex-ministro dito o petroleiro, porque o cacilheiro já deve ter recebido a sua carica.
Obs: Divulgue-se pela lucidez do autor. Contudo, gostaria de ver reflectida por José Adelino Maltez uma palavrinha sobre o português mais conhecido na Europa, um tal Barroso que faz discursos sobre a globalização (supondo que daí emerge uma ideia sustentável sobre a nova Europa, cada vez com menos estatuto, poder e influência no mundo) e deixa-se filmar em África a acartar sacos de farinha sob os olhos atentos das câmaras da CNN. Numa versão de aid for Africa made in Barroso... Deve ser isto que recorta o equivalente funcional de que José Adelino se queixa quando pousa os olhos sobre as secções partidárias que mercadorizam os votinhos em contextos socioeleitorais.
Por mim, confesso, que de quando em vez sinto necessidade duma cura de desintoxicação na vã esperança de que me não volto a poluir, mas não há alternativa a este ciclo infernal que entra em espiral de 4 em 4 anos. Em matéria de discursos de 10 de Junho também está tudo dito, o Barreto é um sociólogo esgotado, politicamente ziguezagueante, teóricamente falido e em matéria de exemplos - talvez o seja quando estiver calado. Ou melhor, ele tem tanta autoridade para falar em exemplos quanto o próprio PR - que ao tempo da Revolução dos Cravos estava a ver se safava com do doutoramento no estrangeiro e até vetou uma pensão de reforma - na qualidade de PM - a Salgueiro Maia - que agora agraciou. Pior cinismo e hipocrisia política do que esta não existe. Ademais, Santarém ficou ingovernável, ia ficando sem combustível na auto-estrada por causa dessas palhaçadas simbólicas que nenhum activo trazem à nação, senão a vaidade dos titulares do poder cujo perfil, comportamento e ética vale tanto quanto a opinião dum árabe acerca dum judeu.
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