Vitorino vê como «frustrante» ausência de temas europeus na campanha- Grande entrevista de António Vitorino à TSF
António Vitorino diz que é «frustante» uma campanha para as europeias não tratar de assuntos europeusAntónio Vitorino lembra que Europa estará confrontada com aumento do desemprego. António Vitorino lembra que Manuel Alegre não se aproximou nem se distanciou muito do PS.
António Vitorino classificou como «frustrante» o facto de a campanha eleitoral para as eleições europeias praticamente não esteja incluir temas relacionados com a Europa, tal como aconteceu noutras campanhas para este tipo de actos eleitorais.
Em entrevista ao programa Discurso Directo, da TSF e do Diário de Notícias, o antigo comissário europeu considerou mesmo com «mágoa» que este é e um «retrocesso em relação a campanhas anteriores», onde «havia sempre dimensões nacionais», mas também «mensagem europeia».
«Havia um conjunto de temas propriamente europeus que eram temas em relação aos quais os candidatos se sentiam na necessidade de se definir e que polarizavam parte importante do debate. Nesta campanha, devo confessar que praticamente não vejo temas europeias», notou.
Desta forma, segundo António Vitorino, estão a passar ao lado desta campanha um conjunto de problemas e desafios para a Europa perante o desemprego que vai subir e a retoma económica que «não vai permitir recuperar os níveis de desemprego que a crise gerou».
«A Europa vai estar confrontada com a necessidade de definir um guião para responder ao enorme desafio que representa o aumento do desemprego. A agenda de Lisboa, o que são as prioridades da reforma económica e da reforma social da Europa nos próximos dez anos já estão aí ao virar da esquina», lembrou.
Questionado sobre se Manuel Alegre tem agora mais condições para ser candidato a Presidente da República, António Vitorino explicou que foi nessa base que o histórico socialista decidiu «não ficar demasiado próximo do PS, mas também não excessivamente distante do PS».
«Em larga medida, o quadro de candidatos às presidenciais em 2011 vai depender muito do resultado das legislativas de Outubro e do clima político que se estabelecer em Portugal a seguir a essas eleições», explicou.
Para António Vitorino, «se não houver uma maioria absoluta e houver um período de instabilidade governativa em Portugal isso vai ser um teste à gestão política do actual Presidente» Cavaco Silva, que o ex-comissário europeu acredita que se recandidatará.
Obs: Divulgue-se.
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A entrevista de António Vitorino evoca-me as prestações de Diogo Freitas do Amaral. Podemos ou não gostar delas, mas encerram um pensamento, uma doutrina, um fio condutor acerca da governação, dos partidos, dos players políticos, enfim, estas prestações dinamizam uma certa ideia conjuntiva de Portugal e daquilo que o futuro pode (e deve) fazer com o nosso país nos vários domínios.De certo modo, pergunto-me: por que razão António Vitorino não está na política activa? Mas também não deixo de me interpelar doutro modo: estando de "fora", ou seja, como observador atento e especialmente dotado e qualificado, fazendo análise e comentário, não estará ele (já) a fazer mais e melhor na actual conjuntura!?A conclusão a que chego é pela afirmativa. Pois os elementos de tolerância, racionalidade e moderação no diálogo público em Portugal, sobretudo agora que as relações políticas estão muito crispadas, são um dos "activos" introduzidos por António Vitorino na discussão pública acerca do futuro de Portugal. E isto, convenhamos, é um valor superior até ao de Ministro da Defesa Nacional.Numa palavra: na prática, e estando de "fora", pode-se fazer tanto (ou mais) por Portugal do que sendo um actor político activo na actual governação da coisa pública.:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: Link MacroscópioOITAVA ACIMA, in DN por António Vitorino Jurista 19 Dezembro 2008 Em tempos de crise económica e financeira global, as dúvidas e incertezas afirmam-se de forma mais pronunciada e por vezes até radical. A gestão das expectativas torna-se, por isso, mais difícil para quem governa e para quem está na oposição. Após três meses de resposta à crise financeira, a opinião pública já tirou duas conclusões: por um lado, a crise do sistema bancário comunicou-se à economia real, sendo inevitável um período de recessão cuja duração se ignora, e, por outro, tendo sido tomadas medidas visando a estabilização dos mercados financeiros e dos empréstimos interbancários, estas tardam em produzir os efeitos esperados. O sentido essencial das medidas tomadas a partir de meados de Outubro no espaço europeu é o correcto: recapitalização dos bancos, cortes nas taxas de juro de referência, intervenção cirúrgica nas instituições em risco de colapso. A taxa Euribor respondeu em conformidade com as expectativas, mas os empréstimos interbancários e a injecção de dinheiro na economia real mantêm-se aquém do esperado. Perante o espectro da recessão, os governos adoptaram medidas de estímulo directo, designadamente às pequenas e médias empresas, bem como reforçaram os mecanismos de protecção social. Teria sido desejável que a resposta europeia fosse mais intensa, focalizada e mais bem coordenada, mas o sinal que foi dado aos agentes económicos indicia não apenas uma prioridade política (sustentar o crescimento e o emprego, em linha com a Estratégia de Lisboa) mas também uma decisão de acomodar dentro de limites mais flexíveis estas medidas de estímulo no Pacto de Estabilidade e Crescimento, aceitando a ultrapassagem dos 3% de défice orçamental. O problema é que as crises se desenvolvem em cascata e a um ritmo acelerado enquanto as medidas de estímulo à actividade económica exigem mais tempo para produzirem a diferença em termos perceptíveis para o conjunto dos cidadãos. Os programas económicos de emergência tiveram esta preocupação central: centrarem-se num elenco de medidas de aplicação no curto prazo, para assim responder às previsões de uma recessão económica durante o ano de 2009. Este ambiente político gerou também algumas mudanças no posicionamento das forças partidárias e na forma como condicionam as expectativas dos cidadãos. Em alguns países, a resposta determinada à crise beneficiou os detentores do poder (Inglaterra, França), noutros, os governos conheceram quebras de apoio e popularidade (Grécia e Irlanda, por exemplo). Não há pois uma regra universal na matéria. Entre nós as oposições rapidamente viram na eclosão da crise uma hipótese de ouro de debitarem os seus efeitos ao Governo. À esquerda, vendo na crise o desmentido das políticas alegadamente moderadas e "de direita" do Governo, acelerou-se a questão da "identidade" do PS. A operação em si visa mais consolidar o voto de protesto do que propriamente construir uma alternativa consistente. A crítica (muitas vezes demagógica) às medidas de estabilização do sistema bancário e financeiro sempre se dispensou de abordar esse pequeno "detalhe técnico", de quais seriam as consequências de um colapso de uma, duas ou mais instituições financeiras numa economia periférica e muito endividada como a nossa… À direita, por seu turno, a aposta inicial de colocar o Governo no pelourinho da crise saldou- -se num erro de cálculo que não era difícil antecipar: a dimensão generalizada da crise casava mal com a tese da responsabilidade exclusiva ou principal do Governo português. Demonstrada a improcedência desta estratégia, a recalibragem do tiro oscilou entre algumas tentações demagógicas (como, por exemplo, no que concerne às garantias dispensadas a algumas instituições bancárias) e cobrir com alguma vozearia e um tom crítico quanto aos processos adoptados o reconhecimento de que não há muita margem para responder de forma diferente à crise. Uns e outros, à esquerda e à direita, subiram uma oitava no tom das críticas, até parecendo que as eleições são já amanhã. Logo, menos pela substância e mais pelo tom, o ano de 2009 promete!
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