domingo

Recuperar Woody Allen

Pura Anarquia é uma obra composta por 18 contos da autoria de Woody Allen cujo conteúdo literário se destaca pela riqueza estilística, sobretudo, na sua linguagem jocosa e na forma como constrói comparações. Allen, mais não faz, para nosso gáudio e contentamento, do que, um aproveitamento inteligente das abundantes cenas quotidianas, extraindo a comicidade nelas existente e moldando-a à medida da sua imaginação. Ler este livro provocou-me umas boas e sonoras gargalhadas e, na verdade, não obstante, a presença dos largos laivos de surrealismo consegui perfeitamente imaginar e vivenciar as cenas descritas. Digo que, nesta obra está implícito, porque se sente como que a pairar… o nobre espírito da liberdade! Não houve a preocupação de fazer uma narrativa que obedecesse aos critérios vigentes e tidos como normais, melhor ainda, à razão. O narrador ou o seu espírito preocupou-se, tão só, em derramar o que uma consciência inconsciente…o instinto… lhe ditou!Aconselho a sua leitura a pessoas descontraídas, (como eu) e que gostam de soltar os enclausurados fantasmas que, dentro de cada um de nós, se vão criando pela sufocante rotina do dia-a-dia!
Obs: Faço minhas as palavras de Miluzinha. Woody Allen (WA) marcou o séc. XX - na 7ª arte e também no jazz, na cultura contemporânea e numa peculiar forma de estar e de ser, meio anárquica. Recordo uma das passagens de um dos seus filmes em que WA se encontra deitado com a mulher com que contracena, e dada a envolvência do momento era expectável que ele avançasse... Mas, de facto, ele avançou mas foi para fora da cama, dirigiu-se como um foguete à estante dos livros, sacou uma enciclopédia, regressou à cama e lá se pôs a ler o sinónimo da palavra - "ejaculação precoce". Ora isto não é só produção de humor, sarcasmo, ironia e o mais. É, mais amplamente, o retrato da doença de toda uma civilização. A nossa - que ele tão bem retratou, até com os seus próprios erros, defeitos e neuroses. Mas se não fosse assim, provavelmente estar-se-ía diante um tipo normal. E Woody Allen foi tudo menos um tipo normal. Boa parte do séc. XX é, por direito próprio, dele.