sábado

Um País doente. Mais ao fim-de-semana

O quadro "A criança doente" traz um bebê doente e abatido que se esvanece no colo de uma mulher. Pode ser que a mulher represente a virtude de Cristo e o amor ao próximo. A obra está exposta no Rijksmuseum, museu nacional dos Países Baixos, localizado em Amsterdã.
Achei esta imagem interessante porque me evocou o Portugal de fim-de-semana, prisioneiro das manchetes dos jornais semanários e das broncas conhecidas que eles insistentemente publicitam. E é compreensível porque a vida está difícil. De certo modo o Portugal de 2009 evoca-me o Portugal bombástico do tempo do Indepedente dirigido por Paulo Portas, protagonista no ataque ao cavaquismo. O semanário era, assim, um projecto político pessoal, e às vezes também fazia jornalismo. Aí o País ficava suspenso até 6ªfeira até se conhecer a bronca da semana, não obstante as inúmeras indemnizações que o Indy teve de pagar aos visados que ofendeu ou prejudicou. Hoje o tempo político também não é diferente, com os semanários a impôr um ritmo psicológico à plebe, a fixar a agenda política, a denunciar o que vai mal, por vezes falsa ou exageradamente. No fundo, os media em Portugal têm assumido aquilo que o aparelho de Justiça, o maior cancro em Portugal, não tem conseguido assegurar, que é investigar e julgar em tempo útil pessoas e instituições. Eis o que me evocam as manchetes dos semanários que aos fins de semana dão à luz: um País doente, carecendo do divã do psicanalista. Em parte, porque já estava doente, pois também não podemos embarcar na ideia de que os media inventam tudo; por outro lado, porque já nascemos doentes, num País que tem décadas de atraso estrutural nos principais indicadores de desenvolvimento social e humano relativamente aos países da Europa mais desenvolvidos. O meu problema não é, contudo, saber que os media só dão más notícias, mas concluir que ao fazerem isso dessa forma e com tamanha persistência cumprem o seu papel informativo junto da sociedade. Volvido mais de uma década do que foi essa experiência negativa de jornalismo político parcial e anti-cavaquismo ao serviço de Paulo Portas, tal como hoje faz com o cds, parece que não aprendemos nada neste Portugal doente, mais ao fim de semana... Vivemos hoje o efeito ao retardador do síndrome do Indy. E isso é verdadeiramente miserável. Não pelas notícias em si, ou a realidade e os actores que elas retratam, mas pelo facto de o zé povinho estar hoje tanto ou mais alienado do que estava ao tempo em que Paulo portas dirigia esse "míssil" abate-políticos chamado Independente. Mas o mais curioso é que o "jornalista-arquitecto", ao tempo director do Expresso - que mais criticava Portas é aquele que hoje lhe tende a seguir as pisadas - seja no estilo, seja na forma de engendrar as manchetes. Assim, é difícil conquistar o nóbel..., se é que alguma vez isto teve fundamento (apenas uma jogada de marketing, ainda que egocentrica). No fundo, os semanários, mais uns do que outros, procuram sobreviver revelando o maquiavelismo do nosso quotidiano dando à luz as hipocrisias da nossa comédia social, identificando sentimentos, ganâncias, gulas, relações perigosas entre os homens e as instituições que constitui o nosso devir histórico, mas nem por isso conseguem apresentar uma visão ampla daquilo que realmente a sociedade é. Felizmente que há mais vida para além do freeport, do bpn, do bpp e quejandos. Parece até que Portugal precisa desta m.... para viver ou sobreviver na droga rotinada dos dias que vai de 2ª a 6ªfeira.