terça-feira

Os trabalhadores: Que fazer?

Imagem dedicada a Os Contemporâneos - por representar o chato-deficiente e improdutivo que manda os outros trabalhar. Indirectamente, representa também a Europa-coxa em que nos encontramos. No limite, a América de Barack Obama também se poderá rever alí no genial Fernando Pessoa e no parceiro..
Não é novidade para ninguém que o "trabalho" (ou a falta dele..) está a ficar fora de controlo, como uma epidemia ou o incêndio no Sul da Austrália que (já) vitimou mais de uma centena de pessoas, passe a analogia. Ou ainda uma praga de gafanhotos sobre uma boa cultura de cereais. E estando out of control nem o Estado nem o empresariado conseguem mexer na "caixa de velocidades" da economia desregulada - no sentido de a estabilizar e fazer crescer. É hoje esta a situação na América e na Europa. Um retrato do mundo, portanto..
Neste contexto errático, trabalhadores, empresários, Estado, sociedade no seu conjunto - dispõem de informações diferenciadas entre si. Esta assimetria na disposição da informação conduz a múltiplas incertezas - que desaguam todas no mercado, ou seja, o empresário desconhece quando fica insolvente, o trabalhador vive na eminência de ser despedido, o Estado vive com as calças nos tornozelos, e a tudo assiste impotente. Esta, infelizmente, talvez seja a imagem hiper-realista da crise a que chegámos.
Sem equilíbrio social não há produtividade, as falências tendem a multiplicar-se e os recursos do Estado não conseguem suportar todos esses encargos sociais, e pior seria se o Governo Sócrates não andasse a equilibrar as finanças públicas nos últimos anos. Com os nossos impostos, naturalmente. Mas Ferreira leite no Governo Durão Barroso cobrou-os e não consegui estabilizar o défice, que ía batendo nos vergonhosos 7%. Agora, provavelmente, a ruptura da Segurança Social seria patente e uma menor faixa da população seria coberta pelos subsídios de desemprego, entre outros apoios sociais.
Neste quadro cinzento-chumbo, como as cores do tempo, sobrevém a magna quaestio marxista leninista: Que fazer?
Aqui nem os mais conceituados economistas têm certezas, restam apenas hipóteses que devem ser exploradas a fim de circunscrever os estragos sociais desta crise sem nome, mas que tem múltiplas fontes e algumas delas são plurilocalizadas, como as deslocalizações das multinacionais que hoje se comportam como verdadeiros "ciganos" que montam e desmontam a tenda a grande velocidade.
Substituir o subsídio de desemprego por um seguro salarial a fim de garantir algum rendimento quando o trabalho súbitamente desaparece, é uma ideia realista para enfrentar os tempos duros.
A criação do chamado seguro de comunidade para o risco das tais deslocalizações das empresas multinacionais, e que, desse modo, veriam atenuadas essa transição.
A taxa Tobin para taxar as transações em bolsa terá que se colocar, hoje mais do que nunca e em nome da solidariedade interclassista e intergeracional num mundo em crise e em ruptura social em toda a Europa.
Eventualmente criar um fundo nacional para a educação e tentar reforçar a interacção entre as comunidades ricas e comunidades pobres, quiça mediadas pelas IPSS e pelas ONGs.
Eis um conjunto de medidas que o Estado poderá começar a pensar e executar em ordem a criar a tal decent working society - para estar em linha com a orientação da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
O grande problema é saber como hoje podemos num País sem recursos, num ano de eleições, com um BE anti-estatal e anarquista, um PCP demasiado centrado no operariado e com uma cassete de décadas, um cds-smart e um PSD anémico. Resta o que existe, e o que existe de melhor é o PS e Sócrates, por muito que isto custe a muita gente - que o detesta. Mas também não é por causa deste sentimento que o País perde ou ganha.
O grande problema é que o futuro é já alí, os problemas sucedem-se e a injustiça e a quebra do contrato social que conhecíamos do passado, ainda com alguma estabilidade, é hoje um carrossel que desejamos que não se agrave.
A grande questão é fazer convergir para o mesmo ponto o óptimo da regulação política com o óptimo da regulação económica - apanhando nessa intersecção a classe média portuguesa que anda a precisar de respirar...
Rita Redshoes - The Beginning Song -