segunda-feira

Vital Moreira propõe a figura do "porta-voz autorizado" do PR

Ruído comunicacional
[Publicado por Vital Moreira] [Permanent Link]
O Presidente da República fez sair um
comunicado contra as especulações correntes em matéria de calendário eleitoral. Fez bem. Mas faria ainda melhor, se controlasse e desautorizasse as anónimas "fontes de Belém" que frequentemente introduzem ruído no meio-ambiente político com a notícia de alegadas posições ou intenções presidenciais, não confirmadas mas também não desmentidas. E para não multiplicar o recurso a comunicados escritos, porque não institucionalizar a figura do porta-voz autorizado do Presidente?
Obs: O prof. Vital Moreira tem feito um esforço assinalável para ajudar Belém a repensar a sua estratégia de informação e comunicação junto dos media. Ainda que franca e sincera vejo, contudo, um óbice à institucionalização dessa figura (emergente) centrada no "porta-vox autorizado" de Belém.. Colocar-se-ía, seguramente, uma questão vital: Quem?
Um dia Marcelo, naquelas suas missas de Domingo, poderia dizer algo contraditório com o pensamento oficial de Belém, e Marcelo, recorde-se, é Conselheiro de Estado, mas isso não interessa nada, como diria o outro. Embora seja corrente o comentarista romper esse dever de reserva.
Mas aproveito aqui esta pequena reflexão para descentrar-me daquilo que a originou e regressar ao essencial: a Verdade em Política.
No passado recente, os grandes meios de comunicação encaravam a notícia como uma estrada duma só via, uma palestra: alguém falava para informar como as coisas se tinham passado, e os cidadãos "compravam" (ou não) aquela informação.
Hoje, ao invés do passado recente, a produção de notícias afigura-se mais a uma troca de ideias, uma estrada de duas pistas, tipo seminário. Sendo que a linha divisória entre produtores e consumidores irá esbater-se, e a blogosfera, a que é mais séria e estruturada (ainda que tenha opções políticas, naturalmente) contribui, decisivamente, para essa implosão da forma clássica de fazer política mediante o manuseamento do mecanismo conta-gotas da informação institucional para os media.
Estes (os jornalistas), na ânsia de querem sempre tudo à pressa, são bem capazes, até de forma inconsciente (pressionados pelo tempo de fecho das edições), de inventarem uma bela percentagem das delarações feita pelos actores políticos. Portanto, quando não são os emissários deste ou daquele órgão de soberania armados em pequenos "Nicolaus-Torquematas" - acabam por ser os jornalistas que truncam as declarações (por ingenuidade, maldade ou conveniência), e aqui a emenda é pior do que o s...
Hoje, creio, qualquer actor político deverá sempre partir do princípio de que os cidadãos, alguns deles, sabem sempre mais do que os titulares dos órgãos políticos. Se esse sentimento for interiorizado, a humildade regressará à polis, os titulares de cargos públicos falam quando têm de falar para todos os media em simultâneo, sem "privatizar" uns e marginalizar outros, e quando algum comentador de fim de semana quiser suspirar ou conspirar (para conquistar audiência e ser capa de jornal na semana seguinte) - já chegou tarde, porque o povo soube na véspera e não compra aquela "notícia".
O jogo da informação não pode resumir-se, numa democracia pluralista e num estado de direito, a um mero jogo de cínicos, que vivem das ambiguidades e dos espaços de incerteza e zonas opacas do poder. Alguns deles é assim que ganham a vida. Isto, que eu saiba, ainda não é a Madeira de Al berto Jardim (a que o PR deveria por os olhos) e a Liberdade de informação hoje já não está limitada (apenas) aqueles que a têm ou conseguem falar com um joprnalista bem colocado com uma breve chamada de telemóvel.
Os próprios blogues, alguns deles, naturalmente, são os operadores silenciosos dessa revolução e divulgação de conteúdos - que só agora começa, verdadeiramente, a ser compreendida e até apreciada. Não para fazer "intriga" palaciana ou bajular A, B ou C - mas para desmontar em dois tempos aquilo que alguns aspirantes a políticos nunca estudaram - nem na faculdade nem na vida.
E por falar nisso, veja-se a conduta irrepreensível de Francisco Pinto Balsemão - o patrão da SIC - onde trabalha o jornalista Mário Crespo que nunca na vida vi maltratar ninguém... Por vezes peca até por defeito.
Também aqui a tese da crucificação dos jornalistas em prol dos emissários políticos - perde. E ainda bem, senão a República viraria um campo de marionetes com os presidentes dos conselhos de administração dos media a ditarem aos jornalistas o que dizer e omitir. Seria, perversamente, transformar os jornalistas numa espécie de saco de gatos - em que hoje o psd se transformou.
É que, para azar dos Távoras, Balsemão toda a vida foi jornalista, e esse facto jogou hoje a favor daqueles que, como Mário Crespo, estão na profissão com ética e deontologia, ainda que tenham simpatias e só entrevistem aqueles que convidam.
É a vida...
PS: Para problematizar a ideia interessante do prof. Vital Moreira (supra-referida, a de institucionalizar a figura do "porta-voz autorizado") - que creio não se poder concretizar dada a rigidez de personalidade de Cavaco aliado à sua baixa cultura democrática e falta de vocação para o debate público/contraditório, façamos o seguinte exercício: quantas vezes foi Cavaco ao Parlamento no decurso dos dez em foi PM (??); e quantas vezes Sócrates - nesta legislatura que está a findar - já foi ao hemiciclo.
A resposta (óbvia) a esta questão estatística explicaria que o único porta-vox de Belém teria, forçosamente, que ser o próprio PR. O que não deixaria de ser uma originalidade politico-constitucional da República: Cavaco porta-vox dele próprio, o que baralharia ainda mais o povo - que deixaria de saber quem falaria em 1º lugar: se Cavaco PR ou Cavaco PR-porta-vox.
Talvez seja o momento de Mário Crespo fazer uma Grande entrevista...
As perguntas e o formato com a jornalista Maria João Avillez, que também é jornalista, já carecem de alguma renovação ou infusão de sangue.
Envie-se xerox ao dr. Balsemão, membro-fundador do psd (com conhecimento de Ferreira Leite).