quarta-feira

Sócrates, Richard Florida e Cavaco: convergências

Três homens: Sócrates, Florida e Cavaco. O que têm este três homens em comum...

Sócrates é um adepto das ideias de Richard Florida, o guru da economia criativa que veio revolucionar o pensamento sobre a gestão das pessoas, dos territórios e dos recursos. Portugal entrou hoje em recessão técnica, o Governador do BdP foi o mensageiro, as usual. Perante isto, dois caminhos são possíveis:

  • 1. O caminho antiquado, da velha economia e da velha maneira de pensar e de fazer política ao estilo da política do sigilo do adro da igreja - no registo de Ferreira Leite;
  • 2. Ou seguir o caminho duma governação aberta, inclusiva e criativa, que rompa com mentalidades e constrangimentos anquilosados - que hoje carecem de novos conceitos de desenvolvimento regional e nacional para reconstruir um Portugal criativo neste 1º quartel do séc. XXI.
Não raro, Sócrates é acusado de ter "Tecnologia e Talento" mas falta-lhe polir uma aresta: a da "Tolerância", curiosamente os três T's que integram a doutrina do referido Richard Florida - vectores hoje necessários para fazer ascender as nossas regiões a espaços mais modernizados e desenvolvidos no plano económico e social e na esfera das inovações científicas e tecnológicas.
É por estas razões, ainda por concretizar, que o PM precisará do PR - e este precisará daquele para alavancar Portugal neste ano de 2009. Como?
Sócrates e Cavaco juntos reunirão mais "Tecnologia, Talento e Tolerância" do que actuando isoladamente, e só em sintonia é que ambos conseguem fazer uma operação de charme pela Europa a fim de trazer um novo ciclo de Investimentos e de novos empresários para a economia portuguesa, especialmente nas áreas de ponta já sinalizadas e que remetem para as energias renováveis, transportes e outras.
Ou seja, até aqui Sócrates e Cavaco - viajavam separadamente nas suas rondas pelo "estrangeiro", perdão, pelo exterior. Doravante, seria interessante que ambos combinassem as visitas ao exterior e "atacassem" politica e diplomáticamente de forma mais concertada junto das elites empresariais dos países que visitam. Esta racionalidade política entre S. Bento e Belém poderia traduzir-se numa maior captação de IDE para Portugal.
Belém não deve ser tão provinciano na sua cosmovisão e S. Bento tem de saber ser mais cosmopolita, Cavaco e Sócrates têm o ano de 2009 para este novo experimentalismo político. O risco de tentarem só poderá saldar-se em mais benefícios do que desvantagens. Com sorte, desanuviavam a tensão, colocariam ambos os aparelhos diplomáticos a trabalhar em articulação, com isso ficarão mais próximos de conseguir seduzir um empresariado estrangeiro - que ainda não sabe como e onde investir (tendo o seu capital mal parado) - e que via até agora Portugal como um país burocrático e tremendamente pesado em termos fiscais.

Hoje a escolha para fazer um investimento é tão importante como a identificação do local para se viver e ter um projecto de vida. E se o sistema político nacional conseguir induzir Belém e S. Bento a trabalhar como nunca trabalhou até agora em Portugal, precisamente porque entrámos em recessão e há que cerrar fileiras, então também podemos estar mais esperançosos de que surgirá em Portugal essa tal classe de empresários criativa associada a uma nova capacidade de inovação que mitiga o desenvolvimento regional com o próprio desenvolvimento nacional, dando às cidades e às regiões uma energia que elas hoje não têm - e ao País - no seu tecido conjuntivo um maior crescimento, um desenvolvimento medido em poder de compra e de bem-estar económico e social que hoje também não temos.

Será isto conversa de café!? Mas a economia não é um jogo de percepções e de expectativas?!

Não é já novidade para ninguém que na economia pós-industrial o principal contributo são as ideias, o trabalho mental. O impulso humano para gerar inovação económica e criar riqueza é o passo seguinte, corolário de tudo o resto. E se assim é, e se hoje o desenvolvimento das nossas cidades e regiões exige a promoção dessas Tecnologias, Talentos e Tolerâncias - a fim de promover a inclusão, a diversidade, a abertura ao outro e também as tais empresas mais criativas - será natural que as comunidades que hoje integram o país também se sintam mais confiantes a trabalhar, a vender e a consumir num espaço sem fronteiras - com uma melhor arquitectura, um melhor ambiente, melhores paisagens e qualidade de vida onde valha a pena viver.

Com mais e melhores empregos e igualdade de oportunidades e também mais segurança e melhores equipamentos e infra-estruturas para responder às necessidades sociais.

Se Belém e S. Bento compreenderem as vantagens desta nova entente cordiale no decurso de 2009 - seguramente a economia e a sociedade portuguesas não só reagem melhor às dificuldades decorrentes duma recessão como também é ainda capaz de a surpreender - dando à economia algo que nunca lhe emprestou no passado: mandar a recessão às malvas num só trimestre.

A alternativa a isto é regressar ao velho "comboio" do Estatuto dos Açores...