terça-feira

Paulo Baldaia acertou no Prós e Contras

Paulo Baldaia ao defender a ideia simples de que se fosse o PSD que actualmente estivesse no poder defenderia uma política activa de investimentos públicos, tal como o PS procura fazer na prática. Como está na oposição empurra essa política de investimentos para o médio e longo prazos, assim as chances de ser poder à custa da crise por ver adiados a resolução dos problemas aumentam. Baldaia, nesta simples constatação, foi aquele que teve maior lucidez no programa Prós & Contras - porque percebeu uma coisa simples em política, apesar de haver ideários, programas de esquerda e de direita: quando se está no poder - este é a-ideológico, o objectivo é amalgamar interesses cruzados e resolver os problemas com um carácter pragmático em prol das populações. O problema é que este PSD nem pintado lá vai - estando dentro ou fora do poder. Por isso, foi deprimente ver Rui Rio, autarca do Porto e Vice-Presidente do PSD concordando com quase tudo aquilo que o Governo socialista tem feito, mormente na área económico-financeira, apesar de ter de fazer o seu role-playing para fingir que estava do contra. Há pessoas assim, estão sempre do contra, um dia cansam-se. Infelizmente, conheço alguns... Parecem moscas zumbindo no eter, já ninguém os ouve.
Pedro Adão e Silva esteve bem na inserção da questão dos pensionistas e das reformas. Um dia o Estado terá de subsidiar directamente os mais carenciados, desde que façam prova dos seus baixos rendimentos, sinalizando o legado de Robin dos Bosques de tirar aos ricos para dar aos pobres - ponto comum com a ideia de Miguel Portas. No fundo, hoje começamos quase todos a ser adeptos da Taxa Tobin... Não era também Sócrates que defendia ser o Robin dos Bosques na Europa...
Augusto Santos Silva - não é só o braço-direito do PM nos combates mediáticos, sabe pensar, tem paciência e sistematiza o essencial: investir na Educação, nas Energias renováveis e em políticas de investimento público que sejam reprodutivos. Percebeu o partis pris de Joaquim Aguiar relativamente a Sócrates e denunciou-o, e com um sopro meteu-o no bolso. De resto, Aguiar parecia um tomate de Almeirim, voltava-se e revoltava-se na cadeira. Se houvesse alí um buraco teria desaparecido. Mesmo para quem não goste de Santos Silva é difícil não lhe reconhecer razão, o resto são as tricas do Aguiar disfarçadas de filosofia neo-realista com um toque neo-socrático que, afinal, morre pela boca. Se o Joaquim Aguiar quiser ver o CV de Santos Silva - pode penitenciar-se aqui. Já agora, nunca é tarde para concluirmos uma licenciatura.

Joaquim Aguiar ainda não ultrapassou o trauma de não ter sido convidado para Belém como assessor presidencial. Primeiro por Sampaio depois por Cavaco: um duplo trauma. Agora investe o seu tempo a identificar narrativas neo-socráticas para escavacar o Sócrates em fim de mandato (o primeiro, bem entendido). Esquece-se que Augusto Santos Silva - não é nenhum cacique, é um doutorado de boa formação sociológica e isso basta para desmontar o ressentimento acumulado de Aguiar em 10 segundos, e a tudo que seja Poder que não o convidou para funções assessoriais. E Aguiar nem precisa disso, é um homem inteligente e vive no grupo Mello onde faz futurologia empresarial que nunca se concretiza, mas algumas das suas intervenções são, antes de mais, um insulto à sua própria inteligência, e a sua última intervenção para fixar que o trauma do PS (com paralelos cafonas à Primeira República) é não se limitar a querer ser (como ele acha!!! - ideia espúria...) um partido minoritário - revela bem a pobreza da intervenção de um brilhante analista político em Portugal.
Ou seja, até os talentosos conseguem ser intelectualmente miseráveis consigo próprios. O Joaquim poderia ter tratado com mais respeito o Aguiar. Enfim, são os desnortes do ódiozinho e dos ressentimentos. Confesso, que esperava algo mais de Aguiar. Dê-se um Alkaseltzer ao quase-economista.
O jornalista-economista Pedro Guerreiro fez uma intervenção para dizer que foi aluno do actual PR - e citou-o dizendo que a confiança em economia é boa de per se. Foi a "novidade" da noite. Até pensei que estendesse o seu inovatório argumento e o aplicasse à valia económica que uma tal teorização teria no quadro do Estatuto dos Açores enfeitado pelo psicodrama de Cavaco - revelando um demopopulismo que não lhe conhecia. Depois de ouvir isto fiquei mais descansado, o rating da República aumentou nos mercados internacionais, o valor do património nacional projectou-se além-fronteiras e o prof. cavaco, seguramente de pantufas aquela hora da noite, ficou muito lisongeado por ver o seu ex-pupilo da Católica recuperar a teoria económica do valor com base na confiança das decisões económicas.
Em diplomacia - costuma-se dizer que a credibilidade é como a virgindade, uma vez perdida nunca mais se obtém. Foi curto.
Tudo visto e somado, diria que hoje em Portugal há muito pouca gente verdadeiramente LIVRE.
O Paulo Baldaia da TSF foi, talvez, a grande excepção, razão por que o felicito daqui. Revelou uma lucidez digna da simplicidade complexa dum Nicolau Maquiavel. Até porque o Poder nunca é de direita ou de esquerda: Guterres sendo de esquerda governou à direita; Cavaco sendo de direita governou ao centro e, por vezes, à esquerda; Sócrates governa ao centro-esquerda e centro-direita - para fazer o pleno. Muitos dos problemas que as sociedades têm são demasiado complexos e humanos para serem tipificados à esquerda e à direita.
O Poder é Poder, não é de direita nem de esquerda, terraplana. Se operar em nome dum projecto espera-se que seja bem utilizado e beneficie os portugueses no seu conjunto. Ainda que em nome das ideologias - que são os sistemas ideológicos de justificação de tudo isto.
Quanto àquela senhora do PCP que está vitaliciamente na Europa - que quase rompeu os tímpanos ao deputado do cds, ficou uma certeza: a srª no Campo Pequeno era bem capaz de fazer uma pega de caras a um touro de 800 quilos. Com dois berros acabava com o boi ao estilo de Barrancos.
É óbvio de que isto é um pequeno retrato (caricatural) que nos deverá levar a pensar que, afinal, Sócrates ainda é o menos mau dos disponíveis.
Mas para os mais descrentes nele, sempre têm a srª Ferreira Leite como icon. Só que neste caso teria de perguntar ao Pedro Guerreiro se o rating da República não seria já deficitário...
Já agora, pergunte-se a Guerreiro se também não foi aluno da srª Leite...