A racionalização política do PS: refazer o mosaico sociológico em Portugal
O método e a forma são fundamentais em política, por vezes até é mais relevante do que a própria substância, ainda que ambas se devem harmonizar para estruturar políticas públicas que potenciem o bem-estar das populações revigorando, naturalmente, o tecido económico onde essas políticas intervém. A melhor forma de abordar a realidade das transformações que afectam o espaço público, até porque 2009 será um ano pleno de eleições, o ano de todas as verdades, é elaborar uma espécie de cartografia dos actores, dos guiões para que cada um e todos no conjunto - saibam o que estão a fazer. Daí a finalidade da identificação dos actores que irão ter visibilidade para multiplicar as ideias portadoras de futuro: seja no plano do governo nacional (eleições legislativas), seja no plano dos governos de proximidade (eleições autárquicas), seja ainda no plano da representação dos interesses nacionais na Europa - mediante as eleições europeias. A rentabilização destes três momentos, desta troika eleitoral consubstancia aquilo que aqui designamos por racionalização política do PS em 2009. Um tempo em que as ideias dispersas têm de ser coligidas, os actores têm de convergir, a ideia global ou estratégia tem de emergir de modo a que os recursos sejam racionalizados ao máximo. Daí este ser o tempo do PS chamar quatro categorias de pessoas que ajudam nessa pequena grande tarefa: os leigos, os experts, os intelectuais e os políticos. Estas são as quatro grandes categorias de pessoas que irão fazer a racionalização das ideias, dos recursos para atingir o grande objectivo: engrandecer Portugal num período de grande turbulência económica, financeira e social. Todas estas mobilizações têm prestações específicas a cumprir no grande plano que é pensar Portugal nesta encruzilhada mundial e europeia, num quadro de incerteza financeira e de elevado risco social. Que pode mesmo conduzir a elevadas taxas de desemprego, exclusão e violência. Em certos países, esses perigos combinados entre si fazem já perigar a própria coesão social podendo implodir uma sociedade. Daí que ouvir os leigos - seja um trabalho interessante na medida em que se registam intervenções colectivas de grupos que representam determinados protestos, como os homosexuais, os ecologistas, os indocumentados/imigrantes (tão necessários à economia nacional e, a prazo, a seiva para a revitalização da nossa taxa de natalidade - que já regressiva) buscando em Portugal respostas para viver com dignidade e construir aqui a sua identidade. Portanto, os leigos serão todos aqueles que representam interesses, expectativas legítimas, visões do mundo plurais que devem ser ouvidas, registadas, filtradas e racionalizadas pela lógica do dircurso e da praxis do poder (novamente em gestação). À audição atenta dos leigos - impõe-se o registo dos experts - cada vez mais presentes nos media. Jornalistas, investigadores, académicos, classes liberais - todos eles fornecem também um suplemento d' alma à actualidade, fornecendo contributos para os temas da governaação: a imigração, as relações internacionais, a bioética, o ambiente e as energias renováveis - são alguns dos temas que essas pequenas comissões de sábios podem (e devem) explorar e sistematizar a fim de formular e reformular os problemas para encontrar ideias e projectos mais apurados e afinados para a interpretação do Portugal neste 1º quartel do III milénio - que hoje carece duma nova inteligibilidade. Não é uma visão tecnocrata que se espera destes experts - mas ideias novas para resolver problemas velhos. À prestação dos leigos e dos experts o Partido Socialista deverá também poder contar com o grupo dos intelectuais, e aqui poderá contar com glórias das décadas de 60 e 70, homens com uma trajectória histórico-simbólica de relevo, como o poeta Manuel Alegre (e muitos outros) - que serão os porta-vozes não apenas de uma ideia de Portugal do passado, mas que exprimam injustiças sociais que sejam geradoras de novas abordagens para resolver tais problemas, que não passe apenas pelas soluções neoliberais nem pelo proteccionismo do "Estado-pai" - que hoje tem de acudir a muitos problemas ao mesmo tempo, exaurindo-lhe os recursos. Creio que é ouvindo esta gente, figuras cultas, intelectuais mediáticos já com imensa experiência acumulada, alguns deles filósofos, académicos com experiência governativa e na esfera da administração de empresas privadas e de fundações - que se enriquece o debate político interno e se alinham e maturam ideias-chave para estruturar um novo campo de acção político nacional, local e europeu - consonante com os três momentos eleitorais que o país registará no decurso de 2009. Nesta sequência de mobilizações - resta o grupo dos políticos própriamente dito. Mas são estes, precisamente, que se encontram numa posição fragilizada, sofrendo a concorrência das novas legitimidades comunicacionais que, entretanto, emergiram e foram "colonizando", passo a passo, o espaço público. Ou seja, os políticos são hoje vistos como actores que não conseguiram prever os problemas de implosão económica e financeira cujos efeitos negativos são hoje visíveis nas sociedades - que registam mais desemprego, exclusão e riscos sociais de variado tipo. E são, curiosamente, os leigos, os experts e os intelectuais que têm vindo a questionar e a relativizar o papel dos políticos na regulação e resolução dos problemas sociais, dessacralizando a sua legitimidade que, afinal, à luz dos problemas emergentes (de índole micro e macroeconómico) - têm revelado a sua fragilidade. Em rigor, todos (como nunca) precisam uns dos outros: leigos, experts, intelectuais e políticos - integram hoje uma galáxia que já não pode viver separada entre si, antes têm de saber funcionar em simbiose, alimentando-se das ideias uns dos outros - sobretudo num ano intensamente eleitoral - se querem evitar uma certa marginalização operacional. Este será o trabalho indispensável a quem tem a tarefa de preparar programas eleitorais e coordenar agendas políticas altamente complexas e voláteis - consoante o próprio esprit du temp. A grande vantagem de operacionalizar esta metodologia reside em multiplicar os contributos, a sua diversidade, puxando mais por cada actor em jogo, potenciando a qualidade das reflexões temáticas chamadas a intervir e, desse modo, relativizando as interpretações crísicas típicas da conjuntura em que vivemos (no mundo e na Europa) e, ao mesmo tempo, mobilizar todos numa participação racional, orientada e estruturante - da qual resultará, necessáriamente, uma nova imagem de Portugal do séc. XXI - com que teremos todos de sonhar. Creio que é através da racionalização destas quatro mobilizações, constantes dos contributos dos leigos, dos experts, dos intelectuais e dos políticos que o Partido Socialista - e a esquerda que em torno dele se recomporá - poderá reganhar a credibilidade política necessária para voltar a fazer o puzzle típico dos momentos eleitorais. Até lá existem peças soltas, espaços fragmentados, irmãos-desavindos que urge integrar, neste mosaico que é a governação - e a preparação para ela. Chamando e desafiando grupos socioprofissionais, associativos, populares - com competências civis várias, mas que urge integrar e racionalizar nesse grande plano chamado Portugal.
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