domingo

Eleições autárquicas em Lisboa

É conhecida a vantagem de António Costa em Lisboa. Todas as sondagens lhe conferem uma larga vantagem, apesar da pulverização da esquerda no plano nacional - em resultado de algumas políticas públicas desenvolvidas por Sócrates no País. Sejam sondagens encomendadas pelo PS (ou não), elas dão sempre uma larga vantagem a António Costa sobre Santana Lopes, que foi o menos mau dos piores candidatos encontrado pelo PSD de Ferreira leite para sacrificar na capital.
Pelo menos, Santana Lopes poderá ser acusado de muita coisa menos de voluntarismo, ou necessidade de protagonismo, segundo alguns.
Neste quadro, as dificuldades de Costa não residem na magra oposição de Santana lopes - que deixou uma má imagem nos portugueses, seja como ex-PM, seja como ex-edil de Lisboa, seja ainda como líder da bancada parlamentar de Meneses - na liderança que precedeu o desastre político de Ferreira leite na Lapa.
É aqui que se coloca a agrande questão a António Costa e ao PS: como federar a esquerda, como uní-la em torno do seu projecto desenvolvimentista para a capital nos próximos 10/20 anos?
Helena Roseta tem uma ambição maior do que o mundo, apesar de cultivar o low profile. Primeiro ela, só depois Lisboa e lisboetas; o PCP quer vingar-se de Sócrates em Lisboa, por isso nega a Costa qualquer convergência pré-eleitoral; o BE é um partido órfão de projecto, vive dos reclames de Louçã no Parlamento e de alguma rebeldia urbana que anima algumas elites - de que até o PCP já se afastou; Santana tem a mesma "credibilidade" política que o BPP tem hoje junto da banca; O "Zé" será, eventualmente, integrado nas listas do PS - pelo bom trabalho autárquico que tem desenvolvido em Lisboa.
Resta a António Costa o prof. Carmona Rodrigues - que é um homem sério e um técnico muito qualificado - pondo sempre os interesses de Lisboa em primeiro lugar. Só não conseguiu fazer isso quando foi edil - porque se deixou teleguiar pelo PSD de Marques Mendes e de António Preto - que lhe impunham a agenda e um número abissal de assessores com os quais depois não sabia lidar - porque impostos pelo partido - contribuindo assim para o esbanjamento das contas da autarquia - somado ao desnorte político e ao caos urbanístico que se seguiu.
Não podendo coligar-se com o PCP, querendo Roseta ser a eventual nº 2, tendo Santana como inimigo "virtual" a que se associa uma péssima imagem (porque ainda fresca na memória das pessoas) - resta a António Costa entender-se com o prof. Carmona Rodrigues e estabelecer aí uma ponte para o futuro.
Naturalmente, as dinâmicas eleitorais no terreno frustram sempre as análises e as previsões, por isso é também de admitir alianças pós-eleitorais, se Costa não conseguir o número de vereadores suficiente que lhe dê uma maioria absoluta para corporizar as políticas municipais que dinamizou nesta fase de mandato intercalar.
Mas uma coisa é certa: António Costa e a sua equipa tem provado uma coisa, que é saber gerir a maior autarquia do País em períodos de grande turbulência, uma autarquia falida - com tudo e todos contra ela, inclusive o TC ao chumbar a viabilização do empréstimo para a CML liquidar o passivo aos seus credores.
E passando este duro teste da gestão em tempos de penúria - entrámos num ano que é micro e macro-económico ainda pior, razão suficiente para revalidar o trabalho duma liderança e duma equipa que sabe jogar à chuva e, ainda por cima, meter alguns golos.
Nos tempos que correm, convenhamos, este "activo político" é um achado e deve ser valorizado e, se possível, reforçado.
Ao tempo dos lisboetas ingénuos e parvinhos, crédulos em projectos megalómanos - sucede-se o tempo dos lisboetas realistas e avisados. Mas nem por isso menos sonhadores.