Manuel Alegre responsabiliza Cavaco pela crise
Vitor Mota
Manuel Alegre sublinhou que o Presidente ainda não se demarcou do modelo económico que gerou a crise
Alegre aponta dedo a Cavaco, in CM Manuel Alegre considera que, na origem da crise financeira nacional, está o modelo económico apoiado por Cavaco Silva enquanto primeiro-ministro, e do qual o actual Presidente da República "ainda não se demarcou". Pela segunda vez, o socialista aponta assim as baterias contra ao Chefe de Estado. Em reacção à mensagem de Ano Novo do Presidente da República, Manuel Alegre considerou que Cavaco Silva não explicou as razões da crise a nível nacional e mundial. Por isso, apontou-as: "O porquê está na falência das teorias de auto-regulação dos fundamentalistas da ‘mão invisível’, que levaram ao colapso financeiro e à recessão económica. O porquê está no próprio modelo económico que Cavaco Silva apoiou enquanto primeiro-ministro e do qual, como Presidente da República, ainda não se demarcou", escreveu o ex-candidato presidencial anteontem à noite no seu blogue. Contactados pelo CM, o líder parlamentar do PSD, Paulo Rangel, e o vice-presidente do partido, Paulo Mota Pinto, recusaram comentar as críticas do deputado socialista. Manuel Alegre reconheceu, contudo, que Cavaco Silva teve o "mérito de dizer o que tem de ser dito, de falar a verdade e de não alimentar ilusões". "Sublinhou os problemas reais e as dificuldades com se debatem os portugueses", ressalvou o deputado socialista. Na mensagem de Ano Novo, o Presidente da República admitiu que "2009 vai ser um ano difícil" e disse recear "o agravamento do desemprego e o aumento do risco de pobreza e de exclusão social". Para o ex-candidato presidencial, a solução para a grave crise económica internacional "implica um novo modelo de desenvolvimento económico e o primado da política, libertando-a de interesses ilegítimos que se têm sobreposto ao bem comum e ao interesse geral". Esta não foi a primeira vez que Manuel Alegre criticou o Presidente da República. Recentemente, o conflito em torno do Estatuto dos Açores também motivou as críticas do socialista, que questionou a actuação do Chefe de Estado."O facto de haver uma diferença de opiniões não quer dizer que haja quebra de lealdade", afirmou Manuel Alegre, discordando da opinião de Cavaco Silva. Mais: o deputado socialista manifestou ainda alguma estranheza pela forma como o Chefe de Estado tratou este caso. "O senhor Presidente da República exprimiu a sua opinião e eu ouvi com respeito, embora nesta matéria haja para mim um mistério: porque é que quando enviou o Estatuto dos Açores para o Tribunal Constitucional não enviou aqueles dois artigos que lhe suscitaram dúvidas?", questionou Manuel Alegre na passada quarta-feira em declarações à TSF. Obs: Duas notas para dizer que o poeta Manuel Alegre revela ser um homem com memória, por isso lembra-se do Cavaco-PM; quanto à resposta relativamente ao Estatuto dos Açores - digamos que Cavaco optou por medir forças com a maioria rosa no Parlamento através dos media. Escolheu a televisão em lugar de socorrer-se dos órgãos de soberania competentes para o efeito, o Tribunal Constitucional. Foi um Cavaco demopopulista que vimos em Portugal no tratamento desta questão, o que abre um precedente que não lhe conhecíamos. Desde os últimos meses que Alegre não tinha um traço de lucidez, mas mais vale tarde do que nunca.
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