terça-feira

Cavaco e o Estatuto dos Açores: uma nova forma de fazer política

A 31 de Julho do corrente o País preparava-se para ir de férias, muitos dos tugas até já tinham o atrelado ligado ao carro e o colchão no tejadilho para rumar em direcção ao Algarve, eis que aparece o Sr. PR fazendo uma comunicação ao País, com tom sério e grave, a propósito do Estatuto dos Açores, porque umas das suas normas lhe limitavam os poderes presidenciais.

Questões jurídicas à parte, em que tem razão, Cavaco resolveu jogar uma outra cartada para resolver o diferendo: a dos media, e por essa via organizar o processo de pressão política na opinião pública - para que fosse este vector a esmagar a resistência do PS-Açores (e depois do PS nacional) em manter aquele estatuto.

Cavaco quis operar a mudança política neste caso concreto através duma comunicação à nação e, desse modo, influenciar os movimentos sociais, as correntes profundas e mais superficiais de opinião, enfim, conquistar a percepção dos cidadãos em seu favor e não, como devia, no quadro institucional - enviando o diploma para o Tribunal Constitucional para aí as normais inconstitucionais serem expurgadas.

A novidade aqui foi termos visto um Cavaco novo, diferente, mais populista e demagogo - na medida em que procurou fazer política pura e aplicada através do cilindro-constritor dos media alterando o padrão da sua forma clássica de fazer política.

Portanto, a questão do diferendo em torno do Estatuto dos Açores serviu para várias coisas: Cavaco irritou-se com o Governo e achou por bem recorrer ao psicodrama da política informacional (e não institucionalizada) para modelar processos políticos que o opõem ao Governo da república ou das regiões insulares, Açores e Madeira, não revelando aqui, como devia, coragem política para corrigir a crónica conduta de Al berto da Madeira que governa a ilha como gere o quintal.

O discurso de Cavaco a 31 de Julho revelou, por fim, uma novidade na forma de fazer política em Portugal, visto que até os actores políticos mais clássicos, como Cavaco, por vezes sentem a necessidade, o apelo e a sedução de recorrer aos media para pressionar políticamente as forças que se contrapõem, indicando que não são os media e as elites os únicos players a estabelecerem novas formas de actuar e de comunicar em termos políticos em Portugal.

Se o processo é inovador em Cavaco, os resultados são negativos e o desgaste tremendo. Por vezes, o melhor mesmo é ser discreto e resolver as coisas nos gabinetes, e não fazer alarde dos fenómenos sociais com peso político junto da comunicação social.

A única questão que me coloco é a seguinte: mas não era Cavaco que tinha para si um estilo e uma forma clássica de fazer política?!

Se sim, deriva uma 2ª questão: o que o levou a mudar de ideias?