segunda-feira

Breves sobre as Notas Soltas de António Vitorino -

Nada de novo sob os céus da república:
1. O PS está quase a consolidar a sua nova (velha) maioria absoluta, dependerá da forma como governar em 2009 e implementar políticas públicas de teor mais social com vista a limitar alguns estragos sociais decorrentes da crise geral que tolhe a Europa. Mas é bom não esquecer que se o PS se mantém elevado nas sondagens tal se deve, em parte, à inexistência do maior partido da oposição de cuja líder todos querem fugir, desde logo os 28 deputados que a semana passada resolveram antecipar o Natal.
2. Caberá ao Governo e ao PR - em regime de convergência - agendar o mapa das eleições europeias, legislativas e autáquicas em 2009, e não a um candidato-a- candidato do psd que já desgovernou o país e ficou conhecido pelo "político-lexotan" - a avaliar pela forma como tomou posse "monárquicamente" no Palácio da Ajuda em 2004 - quando Durão Barroso resolveu desertar para Bruxelas para ser o burocrata-mor da União Europeia, e com os resultados desastrosos no plano económico e social bem conhecidos de todos nós.
3. O PR resolveu em Julho do corrente comprar uma guerra - por recurso ao psicodrama - com o grupo parlamentar do PS relativamente ao Estatuto dos Açores - que agora também compra a "guerra" ao PR - que deveria ter, ab initio, enviado do doc. para o TC para aí serem expurgadas as normas inconstitucionais, em particular o famoso artº 114 do referido estatuto. Cavaco quis resolver a questão através dos media - potenciando a pressão na opinião pública para esmagar o grupo parlamentar do PS, mas saíu-lhe o tiro pela culatra, porque a maioria coesa do PS na AR mostrou endurence, embora se trate duma guerrinha estúpida que não aproveita a ninguém, mas só é mantida porque o orgulho dos homens acaba por os aprisionar.
E Cavaco tem um orgulho do tamanho do mundo, poderia ter resolvido logo a questão, mas entendeu que também deveria ir na bagajeira do carro dos portugueses que então partiam para férias. Ou seja, cavaco quis dar um sinal de vigor e força e acabou por dar mostras de um orgulho excessivo e até alguma vulnerabilidade. Entrada de leão, saída de sendeiro...
Aconselhe-se a Cavaco mais humildade, porque mesmo tendo razão na substância juridico-política da questão, a forma como interviu nos media para esmagar os Açores, o PS local e até o grupo parlamentar do PS na AR foi típica de um agente político que faz política através da demagogia e do populismo.
Ora, também aqui Cavaco revelou-se pela negativa, para surpresa de muitos, até daqueles que nele votaram. Talvez Cavaco tenha de ouvir mais os seus assessores, ou substituir alguns para recapturar alguma racionalidade política perdida com o desgaste dos anos de exercício do cargo presidencial.
4. Por contraponto, o Governo ampliou os poderes de Belém no quadro das missões que as FAs desempenham no exterior, o que revela que entre S. Bento e Belém há uma dualidade que ainda não atingiu o conflito puro, e que pode estabilizar na velha cooperação estratégica que pautou o take-of do seu mandato. E 2009, pelos desafios e dificuldades estruturais que coloca aos portugueses - aconselha mais o Governo e Belém a reunirem esforços do que a fragmentar forças. Cavaco, no fundo, só deseja um sinal de boa vontade do Governo, mais um, para voltar a comer o bolo-rei como só ele sabe...
Solicite-se, pois, ao Governo que envie uma dúzia de bolos-rei para Belém com um cartão de Boas Festas e arruma-se o assunto desencadeado caprichosamente pela interpretação das normas inconstitucionais que integram o Estatuto dos Açores.
Já agora, de caminho, sugira-se também a Alberto Martins (presidente do Grupo parlamentar do PS) que adopte algum common sense com Belém, pois os votinhos que ele supõe capturar à esquerda mantendo artificialmente esta guerrilha com Cavaco só desgastam ainda mais o Governo. Portanto, aquilo que A. Martins supõe ser uma vantagem política táctica para o PS é, na realidade, uma desvantagem estratégica para o Governo, a manter-se esta guerrinha de egos e super-egos que Sigmund Freud há mais de um século bem explicou.
5. De Bruxelas e da Europa vem a fotografia do "cherne", ou seja, que converge com a face de Durão barroso. Más notícias, portanto. Ou seja, apesar de as intensões serem boas, com a aprovação do pacote para reduzir as emissões de CO2 em cerca de 20% até 2020 e, assim, fazer com que os governos, as empresas e os consumidores individualmente sejam amigos do ambiente - essa meta pode não ser atingida.
Por outro lado, o plano de recuperação económico orçado em 200 mil ME (dos quais 170 são nacionais e os restante 30 m.ME comunitários) - vêm tarde demais, i.é, quando a Europa já está a arder (em desemprego e em recessão), revelando que o plano Durão não está a conseguir reconquistar a confiança nos agentes económicos para que a produção aumente, o consumo se intensifique e a Europa volte novamente aos indicadores de crescimento económico antes do subprime nos EUA.
Talvez não tenha sido por acaso que o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros alemão Joschka Fischer - tenha vindo, esta semana, dizer à SIC que a liderança de Durão barroso é fraca.
Pergunte-se a Merckel se tenciona apoiar mais um mandato de Barroso à frente da Comissão Europeia... Por um lado, até é útil que o apoie, mas por outro se Durão não faz um 2º mandato, lá teremos de aturar o "cherne" sem saber bem onde o meter: Belém está ocupado, S. Bento também, ir para deputado seria uma humilhação, regressar à Lapa um suicídio assistido...
Talvez aceite, digo eu, a presidência da Sta Casa da Misericórdia de Lisboa, já que tem a chaves da cidade.
Seja como for, e ironias à parte, uma coisa é certa: o tal tecto dos 3% no quadro do Plano de Estabilidade e Crescimento da UE terá, necessáriamente, de ser revisto (em alta) para contemplar aumentos do défice dos Estados decorrentes da injecção de recursos na economia, mormente por via de uma política de grandes investimentos públicos para gerar os tais efeitos multiplicadores na economia, elevando o seu crescimento para 2 ou a 3% ao ano.
Talvez assim a Europa se safe desta terrível e atípica crise, e não com as mesinhas do plano Durão Barroso - que além de tardio também é pífio: seja no motante global proposto, seja na sua composição.
Sempre dissémos aqui que o grande contributo de Durão para a construção europeia só é comparável ao legado que W. deixará na América post-11 de Setembro.
Como bons aliados que são, no fundo, cada um deixará a sua marca a lazer na história - com o Atlântico de permeio.
Mas os resultados, consabidamente, não são famosos...