Breve evocação de Bento Espinosa
Bento Espinosa polia lentes e era filósofo, foi dos primeiros a idealizar o Estado democrático, pautado pela liberdade da palavra, pressupondo a separação prática do Estado dos assuntos da religião - através de um contrato social generoso que promovesse o bem estar dos cidadãos e a harmonia com o governo. Era um homem simulteneamente corajoso e prudente, inflexível e adaptável, arrogante e modesto, admirável e irritante tolerando aqueles que eram tolos mas modestos, mas já não a outra espécie de tolos, bem-entendido. Curioso é notar que sendo ele um polidor de lentes, as quais se destinavam a ver mais claramente, Espinosa estava a criar os instrumentos da nossa salvação. Seja para permitir a descoberta científica de uma época em transformação, seja para ver na descoberta uma fonte de prazer. Por outro lado, uma das outras finalidades de Espinosa foi restituir ao homens a relativa independência que perderam a partir do momento em que a memória autobiográfica e a consciência alargada se desenvolveram. Quanto a Deus.., Espinosa passa duma concepção criacionista, típica da época, para uma concepção produtora de Deus consubstanciada na Natureza, daí ter abandonado a narrativa cristã. Espinosa podia até estar inebriado com Deus, assim como Novalis, mas o seu Deus é especialmente seco, o que nos desafia a pensar que espécie de Deus hoje cada um de nós equaciona nas nossas vidas.
Pensamento e Liberdade em espinosa - parte 1
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