sábado

Manuela Ferreira Leite: uma tragédia shakespeareana

Na sequência da deserção dos 30 deputados do psd na AR Ferreira Leite chama Rangel à Lapa para proceder ao inquérito e aplicar o respectivo correctivo disciplinar ao seu séquito. É óbvio que nenhum dos deputados está preocupado com a vigilância de Manela, porque há muito sabem que está a prazo e não lidera coisa nenhuma. Sabem que é para deixar cair...
A própria Ferreira Leite em público também não estrutura bem as ideias e os projectos que deseja apresentar à nação, e não só consegue atingir esse desiderato como é autora das maiores barbaridades conhecidas na república.
Esteja hibernada ou invada o espaço público Ferreira Leite é hoje um passivo terrível para o psd. A sua prestação na liderança no psd representa algo de pior do que a desvalorização em muitas acções cotadas em bolsa. Trata-se, pois, dum prejuízo político que já começa a ser insuportável, um dano que nenhuma seguradora desejaria cobrir - tamanho é o sinistro. Foi, aliás, a este novo fenómeno de liderança que há dias aqui designámos de sinistralidade política - um conceito emergente. Um fenómeno que está em linha com as suas prestações nas áreas da governação: segurança, investimentos públicos, nacionalização do BPN e tutti quanti...
Em nenhuma das áreas da governação onde era necessário resolver problemas concreto com carácter de urgência Ferreira Leite ou não sabia, ou dizia asneiras ou, simplesmente, andou a reboque dos aconteceimentos. Até na miserável questão do sequestro aos funcionários da agência bancária de Campolide por dois brasileiros (sem sublinhar aqui qualquer estigma sobre essa nacionalidade) o silêncio da srª Leite se revelou ensurdecedor. Entre ela a governação existe uma distância como de Lisboa a Vladivostok.
Ora, é perante este quadro negro que se coloca em questão a permanência da srª Leite no cargo de Secretário-Geral do PSD. Creio mesmo que Manela só está à espera que alguém na Lapa lhe leve um espelho e a confronte com todas as suas posições públicas sobre as questões da governação dos últimos meses - a fim de reflectir nele o rosto do espectáculo do declínio.
E o mais trágico em tudo isto é que a forma exterior que assume a incapacidade nata de Ferreira Leite para manusear os materiais políticos - delicados por natureza - é que ninguém no seu próprio partido (tirando os falsos moralistas do costume e gúrus de 1ª hora, como Pacheco, Marques Guedes e mais uma ou outra ave rara) exprime o lamento público de tamanha desgraça política, talvez só comparada à forma desastrosa como Santana Lopes tomou posse no Palácio da Ajuda e depois exerceu o cargo de PM na sequência da deserção de Durão para Bruxelas, em que foi apoiado por W. na famosa cimeira dos Azores (ainda presidente dos EUA) que hoje finge desconhecer ao não cumprimentar o homem nos fora internacionais.
Numa palavra: Ferreira Leite é hoje o fardo mais pesado do PSD, ela e Santana afundam o PSD sem nada fazer. Basta aparecerem em público em sua representação.
Trata-se dum pesar que se avoluma em silêncio de alma torturada, razão por que existe em Ferreira Leite algo de tragédia shakespeareana.