Personalidade borderline
É sempre delicado quando nos deparamos com uma pessoa com uma personalidade borderline, pessoas cujas personalidades (narcisistas) apresentam fortes manifestações conscientes de insegurança e inferioridade. Achando-se feias, gordas, brutas, anti-sociais e o mais. Mas esses sentimentos, por vezes, podem alternar ou coabitar com fantasias de grandeza e omnipotência - gerando uma ambivalência perigosa. Outras vezes, apenas após um certo período de psicanálise é que as fantasias inconscientes de omnipotência e grandiosidade narcisista vêm à tona. A presença de contradições extremas no conceito de si próprio é frequentemente a primeira manifestação clínica de grave patologia do ego e do superego destas pessoas (pacientes), ainda que tais características se escondam sob uma capa de funcionamento social polido e eficiente. Eis a sistematização que Kernberg nos deixa na sua Borderline Conditions and Pathological Narcissism. Bem ou mal, algumas ou inúmeras vezes todos somos confrontados com personalidades que falharam o seu processo de identidade, e cresceram sem internalizar um conjunto de valores comuns necessários ao entendimento das pessoas, das coisas e do mundo. São pessoas que têm necessidade de chocar os outros através de afirmações surpreendentes. Essas pessoas com personalidade borderline - nunca entendem as outras pessoas, porque as idealizam em excesso e depois o gap entre a imagem pré-concebida e a imagem apreendida gera um vazio que não pode preencher aquele vácuo de identidade. É esse gap entre essas duas imagens que faz disparar a intensidade do falhanço, agudizando a dor social na relação com o outro. Na prática, qual de nós não já intuiu um jardim e depois se confrontou com uma selva repleta de espinhos... Dito isto, há que reconhecer o facto de as condições socioeconómicas actuais potenciarem a precariedade das relações laborais, sociais e psicoafectivas - ser um vector que potencia ainda mais a multiplicação deste tipo de personalidades borderline entre nós. Ou seja, as empresas, as organizações, a sociedade em geral - tenderá a registar no seu seio uma multiplicação de novos comportamentos que colocam não só novos desafios no divã do psicanalista, como também confrontam as chefias em saber lidar com estas novas personalidades em contexto socioprofissional. Como vemos, o mundo está perigoso, e não é só por causa do terrorismo.
Massive Attack - Live With Me
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