segunda-feira

Santana Lopes em Lisboa: o regresso do demo-populismo - o fantasma nº 2

A história e o trajecto pessoal e político de Santana Lopes têm sido os seus piores aliados no espaço público em Portugal: aparece demais, fala demais, gastou-se demais. Depois o semestre da sua governação em S. Bento em 2004 traduziu-se, na sequência da fuga de Durão para Bruxelas, num desastre total. Como líder parlamentar de Meneses no hemiciclo - Santana também não conseguiu fazer a diferença. Quer em matéria de produção legislativa, quer nos debates da Nação na Assembleia da República em que Santana perdeu todos os combates políticos para Sócrates.

Estes factores articulados entre si no currícula político de Santana emprestam-lhe hoje uma imagem de pouca credibilidade e de iresponsabilidade política. No plano nacional, com a memória negativa que os portugueses guardam dele enquanto PM, como no plano autárquico - onde pautou a sua prestação em Lisboa com mamarrachos, índices de corrupção e de más políticas públicas para a cidade. Tudo isso é hoje recordado pelos portugueses em geral, e pelos lisboetas em particular.

Paradoxalmente, é neste contexto turbulento e problemático que hoje Ferreira leite oferece o lugar de candidato a Santana para as eleições autárquicas em 2009. Pela lógica e natureza das coisas, este apoio de Ferreira leite a Santana é tão incompreensível quanto contraproducente, daí a surpresa geral que rodeia mais este epílogo cujo fim já está à vista. Tanto mais que o putativo candidato a Lisboa pelo PSD está envolvido - juntamente com mais alguns vereadores que então faziam equipa consigo - em processos de corrupção que a Justiça terá de apurar e julgar.

Portanto, nada disto abona ou reforça politicamente a candidatura de Santana a Lisboa. É mais do mesmo e denúncia a ideia segundo a qual o PSD não tem mais candidatos credíveis para concorrer às eleições autárquicas de 2009. Trata-se, à partida, duma candidatura que se esgota a si mesma, é um nado-morto.
Certamente, tudo isto nos interpela e faz com que queiramos perceber porque razão Ferreira leite aposta neste candidato, à partida, sem valor político e desfibrado de capital de esperança ou projecto para o futuro da cidade?!
Aparentemente, o único argumento que aponta para a escolha de Santana ainda é - residualmente - o élan que ele ainda consegue ter nos media, dado que é uma figura conhecida dos portugueses, e pode em termos de sondagens representar uma indicação de voto não negligenciável.
Mas isto não evita que Santana não represente o demo-populismo de que os portugueses já estão fartos na vida pública em Portugal, e que ele encarna bem. Ora, é neste jogo da pequena política que Ferreira leite passou a alinhar ao apoiar o seu nome para Lisboa.
Ao apoiar Santana para Lisboa - Ferreira Leite cedeu ao populismo, cedeu ao peso da sondagem, cedeu à má moeda que Cavaco tanto criticou em 2004, sinónimo de incompetência e ausência de boas políticas públicas úteis à condução dos destinos do País. E recordo aqui que Cavaco escreveu aquele artigo no Expresso para visar específicamente Santana Lopes, na sequência da sua má prestação enquanto PM.
Ferreira Leite, no limite, ao tentar abir as portas de Lisboa a Santana mais não está a fazer do que acelerar a sua própria sepultura política, já que ao apoiá-lo está, directa e indirectamente, a creditar em Santana uma convicção, um valor político, uma sedução e até uma capacidade de trabalho autárquico que Santana, de facto, revelou não dispôr enquanto foi autarca em Lisboa, tendência essa que se agravou no cadeirão de S. Bento - quando o mesmo foi, por acidente, Primeiro-Ministro.
Por outro lado, Ferreira leite (o que dirá Pacheco Pareira de tudo isto, já que é um dos inimigos viscerais de Santana!!!) está a cometer um outro erro político grave ao apoiar Santana para Lisboa. Que é o de escudar-se no valor do triundo da opinião, filha directa das sondagens e dos media, para, com isso, marcar a agenda política autárquica em Portugal.
O que prova que Ferreira leite, afinal, premeia a opinião, as sondagens e tudo aquilo que se pode fazer com ambas na pequena política em Portugal. Pena é que se trate da má moeda (formulada por Cavaco) que hoje Santana representa e Ferreira leite, desesperada, apoia.
Até ao momento tínhamos um fantasma, Ferreira leite, por não aparecer, não falar, não se lhe conhecer ideias acerca de qualquer política pública para Portugal, e quando fala é para ser porta-voz de Belém, o que é pior a emenda do que o soneto; doravante, temos o fantasma n.º 2 - Santana - que é o oposto da Manela, fala de mais mão não acerta.
Uma coisa é certa: desta vez não foi Pacheco Pereira quem aconselhou a governanta da Moviflôr da Lapa.