sábado

Sócrates arrasa em Guimarães. A "má moeda de Cavaco" tem nome: Ferreira Leite e Santana na Capital...

Sócrates foi a Guimarães falar para 10 mil pessoas. Deixou uma mensagem reformista, na linha do mote de Barack Obama (a Força da Mudança) sublinhando a valia da reforma da Segurança Social que fez - por contraponto à orientação defendida então pelo PSD de MMendes - que postulava que boa parte das reformas dos portugueses estivessem ligadas - não ao Estado - mas a fundos privados de pensões (que aí capitalizariam) - mas cujo resultado desastroso está hoje à vista nos EUA (com essas "contabilidades criativas" que exploram bolhas especulativas sem relação com a economia real). Seria uma catástrofe em Portugal, caso a proposta do PSD tivesse vingado...
Solicite-se um comentário a Ferreira leite, que dizem ser expert em finanças internacionais...
Lú-lú, ministra da Educação, referia que há sempre uma 1ª vez... Como não concretizou, desconfiámos da declaração, mas o ambiente era de festa, deixamos passar... Depois César, o Pr. do Gov. Regional dos Açores - atacou a direita pelas propostas do BE e PCP - que faz o trabalho "sujo à direita". Socas fez bem em tê-lo convidado para Guimarães, agora irá pedir-lhe que suavize a posição rígida que tem mantido em relação ao Estatuto dos Açores que - tal como é proposto - limita os poderes constitucionais presidenciais que Cavaco rejeita veementemente.
Diria que sendo a última reentré política em Portugal - foi a primeira em eficácia. Referiu-se a Ferreira leite da pior forma: inominando-a. Precisamente no dia em que (também) Luís Filipe Meneses lhe chama incapaz e inculta. Imagino em privado...
De facto, Ferreira leite está dentro dum colete-de-forças, e segundo consta só 5 pessoas em Portugal a apoiam: Cavaco (o seu criador), o seu irmão (comentador da Bola, apoia-a por razões de sangue), António Borges (o patareco estrangeirado e emproado ministro sombra da Economia), Aguiar Branco (o ministro sombreado da Justiça) e, claro, o gurú da prosa - Pacheco Pereira - que faz de escrivão da "governanta da Moviflôr da Lapa" e que compila os recortes de imprensa que ela deve ler e com base nos quais Pacheco deseja que Manela governe Portugal. Pacheco deve ter recuado no tempo 30 anos, voltou a ler o livrinho vermelho de Mao Tsé Tung...
Em face destes sérios constrangimentos de que padece a srª Ferreira Leite pergunto-me quem gostaria hoje de a ter por perto, nem que fosse como secretária?! Para além daquelas cinco pessoas (Cavaco, o irmão, Borges, Aguiar Branco e Pacheco), confesso que não descortino mais ninguém que a apoie. Talvez o seu netinho, mas esse ainda não vota...
Dito isto, como diria "o outro", que também só espeta farpas na srª Leite, vamos agora à estória da vaca fria, i.é., à incongruência política que Cavaco - arrastado por Ferreira leite - também caíu - envolvendo-se no joguinho partidário das autárquicas que se aproximam.

Demonstraremos essa incongruência de Belém curiosamente - na opção política que a sua criatura, Ferreira Leite - tomou ao escancarar as portas a Santana Lopes para Lisboa.

Vejamos como...
Cavaco, Ferreira Leite e Santana Lopes têm em comum ter trabalhado num mesmo governo nas décadas de 80/90. Mas se a relação pessoal e política entre Cavaco e Ferreira Leite é próxima e foi sempre convergente, a relação entre Cavaco e Santana sempre foi distante e frívola. Essencialmente, por duas ordens de razões: Santana nunca reconheceu grande valia política e doutrinária a Cavaco, nunca supondo que seria a função que faria o homem na década em que desempenhou o lugar de PM; por outro lado, Santana tudo devia a Sá Carneiro - de quem fora assessor. Portanto, a dívida de gratidão era para Francisco Sá Carneiro, Cavaco era apenas um estranho ministro das Finanças de Sá Carneiro - sem passado anti-salazarista e, portanto, sem pregaminhos democráticos que dobrasse a vontade de Santana ou mesmo de Durão Barroso (também discípulo de Sá Carneiro). Foi o exercício do poder dos anos do cavaquismo, molestados semanalmente pelo Indy de Paulinho Portas, que dobrou a vontade de ambos - Santana e Durão - à obediência política a Cavaco.
Feita esta nota bio-histórica, apenas para re-situar as proximidades e distâncias relativas àquela troika de personagens agora em análise (Cavaco, Leite e Santana) - é altura de percebermos a razão por que Cavaco foi apanhado com as calcinhas no calcanhar de Aquiles...
Evoquemos a memória e os factos que lhe dão côr: em 2004 Cavaco escreve o famoso artigo no Expresso defendendo que a Boa moeda deveria expulsar a má moeda. Aquela representaria a credibilidade, a competência e a capacidade para elaborar políticas públicas e conduzir os destinos do país. Esta, a má moeda, representaria o seu inverso, ou seja, a incompetência, a desgovernação, a anarquia, o populismo, a falta de autoridade do Estado - com ministros ao estalo e a ofenderem-se públicamente e outras cabalas, como se verificou no governo Santana lopes (através de Henrique Chaves, Rui gomes da Silva, etc).
Enfim, tudo aquilo que Santana Lopes representava e permitiu que se fizesse quando foi Primeiro-Ministro na sequência da fuga de Durão para Bruxelas (foi tudo isso que Cavaco atacou no seu artigo de 2004). Mas Durão encontrou aí a boleia dos EUA ao fazer a guerra ao Iraque à margem da ONU - e que para o efeito o mesmo Durão, então PM, fez de cicerone para promover essa Cimeira dos "Azores" e concitar a Europa nesse esforço de guerra ilegal. Tudo por causa das armas do Saddam, que ainda não se encontraram. E o Durão, fazendo os portugueses de trouxas, lá se safou e subiu aos píncaros da Comissão Europeia, ainda que na véspera afirmasse que o seu Governo estava a envidar esforços para apoiar aquele que então, no plano técnico e político, era o elemento político mais qualificado para o exercício da função: o Comissário de justiça e assuntos Internos - António Vitorino.
Nem o Governo português fez o que disse, logo Durão mentiu, Saddam não tinha as armas de que se supunha (situação agravada pela encenação dos relatórios da CIA) e depois, para replicar a barbaridade que o Ocidente critica noutros, a Europa permitiu que se enforcasse Saddam em directo - visionado pelo Youtube.
Durão barroso foi, directa ou indirectamente, um dos artífices dessa barbaridade histórica (de par com Blair, Aznar e Bush - as quatro desgraças). Ao ser co-decisor dessa guerra ilegal ao Iraque à margem da ONU - isso explica como Durão foi para Bruxelas, com sede e gula de poder, o que abriu caminho a Santana - que logo ocupou a cadeira de S. Bento (sem Congresso interno no psd e sem qualquer legitimidade, apenas gozando da hesitação titubeante e crónica de Sampaio - que lá o conduziu) para produzir um semestre negro na história política portuguesa contemporânea, facto que levou Cavaco a escrever o tal artigo - com que começamos esta análise - no jornal de Balsemão. Designando Santana de má moeda, logo de incompetente.
Chegados aqui, estamos no apeadeiro de Lisboa. Não em Stª Apolónia nem no Parque Mayer que Santana atravancou, mas nos Passos do Concelho, visto que a planificação política das eleições autárquicas está a arrancar. E é natural que o PSD, como os demais partidos, defina quem são os seus candidatos às câmaras municipais do país. Nesse quadro, Ferreira leite, secundada pelo presidente da Distrital do psd (cujo nome nunca recordo) - validam o nome de Santana Lopes - como sendo - dentro da área do psd - o melhor candidato para Lisboa.
Precisamente, o mesmo candidato que Cavaco nunca gostou, a quem chamou de má moeda, sinónimo de incompetente, populista, e de quem a percepção da opinião não via qualidade de liderança, daí o seu afastamento findo o semestre de 2004, em que Santana governou - como um monarca constitucional - ainda que sem grande legitimidade (tinha a que resultava da coligação de incidência parlamentar entre cds-psd) que garantiu a Paulinho Portas ter sido ministro das fotocópias e dos submarinos.
Portanto, foi e é assim que cavaco sempre viu Santana Lopes: alguém que afasta as elites profissionais da política, contribuindo para baixar o nível da prestação política e legislativa em Portugal. Cavaco foi até mais longe, ao afirmar o seguinte:
Os políticos profissionais de valor, com uma carreira seriamente estruturada, ficam, assim, mais mal acompanhados. Num documento da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES), de Fevereiro de 2002, falava-se da «centrifugação de alguns dos melhores valores do pessoal político e da gestão superior do Estado e incapacidade de atrair novos valores, nomeadamente entre os mais jovens» como um dos sinais preocupantes da deterioração do nosso sistema político. [...]
Mais adiante, Cavaco não perdoa, e desfere uma farpa mortal que deixou Santana atordoado, levando-o a andar por aí:
[...]
Mas talvez a razão mais forte do afastamento das elites resida na ideia de que, nos dias de hoje, o mercado político-partidário não é concorrencial e transparente, de que existem barreiras à entrada de novos actores, de que não são os melhores que vencem porque os aparelhos partidários instalados e os oportunistas demagógicos não olham a meios para garantir a sua sobrevivência nas esferas do poder. A ser assim, a lei da economia, conhecida pela lei de Gresham, poderia ser transposta para a vida partidária portuguesa com o seguinte enunciado: os agentes políticos incompetentes afastam os competentes. in Artigo de Cavaco Silva In "Expresso", de 27 de Novembro de 2004.
Hoje todo conhecemos a situação interna no PSD: é de ruína antecipada, para retomar uma expressão lapidar do escritor do lassinho, Baptista bastos. Ferreira leite não fala porque não tem nada para dizer, quando fala é para denunciar as conversas que teve de véspera com Cavaco em Belém, é pior a emenda que o soneto. E o país também não aprecia aquela que é, figurativamente, candidata a PM - tentar capitalizar junto da opinião pública projectando-se como porta-vox de Cavaco - e antagonizando ainda mais o conflito aberto entre Belém e o Presidente do Governo Regional dos Açores a propósito do seu Estatuto. Que, a manter-se, limita o poder presidencial que Cavaco já denunciou na noite de 31 e Julho último. De resto, essa foi a única maneira de os portugueses partirem de férias com Cavaco na bagajeira...
Ora, o Cavaco que dá a mão e o pé a Ferreira leite, para ver se faz da srª alguém na política em Portugal, ante o seu deserto de ideias e de projectos, é o mesmo que hoje assiste à sua criatura - (Ferreira leite) apoiar o nome que ele sempre combateu (e ela também...) na vida pública em Portugal (Santana Lopes) - por representar a tal má moeda, por ser incompetente, populista e, desse modo, bloquear duplamente o desenvolvimento do País: por um lado, impedindo que novas gerações e elites assumam o poder, e, por outro, deteriorar o sistema político em Portugal.
E assim demonstrámos que apesar de tantas divergências e incompatibilidades pessoais e políticas - Cavaco apoia a Manela para esta apoiar o Santana em Lisboa.
Depois de andarem os últimos 25 anos (1/4 de século) a dizerem mal uns dos outros. E o mais curioso é que seja Cavaco, responsável por eucaliptizar o PSD na década de 80 - a acusar Santana de ter secado o partido - e por ele hoje não dispôr de elites que possa fornecer quadros alternativos ao partido para apresentar novos candidatos às eleições autárquicas. Como não os tem, é mais do mesmo, apresenta os candidatos estafados, as caras do passado, as "más moedas" - como Santana (na terminologia de Cavaco), que hoje não oferece nenhum capital de esperança numa freguesia do interior do País, quanto mais na Capital.
Convenhamos que tratar Lisboa assim, como uma meretriz fácil e de baixo preço, é - também - fazer passá-la pela má moeda que ela, de facto, não é. Sobretudo agora, sob a liderança de António Costa - que a converteu numa pessoa de bem, liquidando as dívidas herdadas do passado recente, de cara lavada, de Frente Ribeirinha em marcha e dum conjunto de projectos de modernização em curso na cidade.
Alguém deverá dizer daqui a Belém, à Moviflôr da Lapa e também ao sr. dr. Santana, o autarca indigitado para Lisboa pela Manela com o beneplácito de Cavaco (uma verdade quadratura do círculo, ou o círculo do quadrado), que Lisboa não merece isto.
Lisboa representa a boa moeda, merece muito mais...

Pergunte-se ao sr. prof. Cavaco e Silva, como diz o povo, quando é que ele escreve outro artigo no jornal de Balsemão explicando, ainda que com um upgrade de 4 anos iluminado pelo farol presidencial, que se Santana era a má moeda em S. Bento também representa a má moeda em Lisboa. Se formos realistas, e porque ambos (Cavaco e Ferreira leite) nutrem um sentimento comum relativamente a Santana, talvez não fosse má ideia Cavaco escrever a 1ª parte do artigo - entregando as conclusões à sua afilhada, Ferreira leite, por sua vez, madrinha do António Preto.

De facto, Portugal é muito pequeno, razão por que as incongruências são tão fáceis de identificar quanto gritantes. Por vezes tenho a sensação que dormimos todos uns com os outros num colchão que vai da Lapa a Belém - atravessa os partidos - e, por vezes, à falta de melhor opção, atravanca as autarquias em Portugal.