sábado

A decomposição da esquerda

[...], in Baptista Bastos, JN
Obs: Infelizmente, o escritor do lassinho tem razão. O problema é que as profissões, as carreiras, os processos de mudança social, no limite, as próprias pessoas, transformaram-se actualmente em pessoinhas. O que é que a casta dos economistas diz entre si? Basta ouvir as incongruências de António Borges do último trimestre.
Que processos mafiosos se articulam entre os académicos?! Que se traem em cada reunião de Concelho Científico, Pedagógico e Directivo? Depois já não sabem ser diferentes, mesmo que se esforcem.
O que fazem os arquitectos nas costas uns dos outros? E se os engenheiros pudessem - também esmagariam a concorrência com fragmentos de pontes mal projectadas ou de pedaços de muro de Berlim uns nos outros...
Os escritores, estão igualmente possuídos por uma soberba descontrolada (ainda que disfarçada de falsa modéstia), por uma vaidade, uma gula de glória e fama ou até de superioridade moral (muitas vezes tributária duma cultura clássica, livresca) - também não escapam aos pecados capitais do homem, mormente agora nesta economia de casino que nos conduz as vidinhas. Infelizmente, é assim em todas as profissões.
O que disse António Lobo Antunes de Saramago? O que este pensou daquele?
Hoje, todos somos uns moralistas da Loja dos 300. A blogosfera está repleta dessa gente. Os jornais, porque têm responsabilidades sociais maiores, ainda são piores. Por isso, este tipo de artigos muito me diverte. Até porque essa casta de oportunistas de que fala o articulista, não habita só a terreno político, estão em todo o lado: somos enganados pelo pintor que nos aplica uma tinta marada e estraga a parede; pelo canalizador que subtrai algumas torneiras e roscas na canalização de casa, o que obriga a abrir paredes de novo e remendar os erros; pelo electricista que instala material barato e até pelo editor-livreiro que não hesita em papar-nos o patrocínio que arranjámos para a edição do livro.
No fundo, este é um mundo filho de .... em que todos vivemos. É claro que a política pontifica nesse universo.
No fundo, aquele velho adágio de diz que meio mundo anda a enganar a outra parte é mesmo verdade. Só os mais distraídos, como Baptistas Bastos, é que desconhecem essa realidade mais complexa.
Lê-los só reforça em mim a convicção que já tenho: hoje todos devemos desconfiar uns dos outros. Sobretudo dos nossos "amigos", que por estarem mais próximos são, perversamente, os primeiros a sacrificarmos. Infelizmente, é assim. Por isso também temos de colocar aspas nos amigos.
Mas ainda bem que não temos um Governo de escritores... Senão a maledicência, pelo carácter natural e prolixo desses artífices da pena, aumentaria exponencialmente - sem que daí resultasse um benefício líquido para o bem comum das populações.
No fundo, tudo é vaidade e vento que passa. Gostava aqui de dizer ao sr. Baptista Bastos que não é a direita ou a esquerda que estão rebentadas, é a própria condição do Homem - e a treta de sociedade em que ele vive. Nas mais diversas profissões e castas...
E isso vai muito para lá da política, embora se possa reformar através dela. Mas não é fácil, e leva décadas...
Em rigor, é o Homem que está em causa, e não a política de direita ou de esquerda.