segunda-feira

O discurso de Ferreira Leite em Castelo de Vide, a "Sintra do Alentejo". Os aviões de Gaia e as tacadinhas de golfe...

Consabidamente, José Pacheco Pereira tem uma cultura histórica e política significativas, e quando não é sectário na argumentação - o que infelizmente tem sido uma constante nos últimos tempos, até se aprende algo em ouvi-lo. Mas o mais grave não é JPP ser politicamente faccioso, mas o facto de Ferreira leite ter lido um papel (leia-se, o discurso) sem qualquer autenticidade, convicção, determinação. Até o zeca do psd poderia tê-lo lido com mais afinco, dada a sua antiguidade no partido.
É óbvio que se fosse o seu ex-afilhado político da Distrital do PSD, o António Preto, a tentar alinhar meia dúzia de gatafunhos - o texto seria lido com menos autenticidade. Além de imperceptível, naturalmente... Mas isto também seria uma grande maldade para JPP.
Portanto, daqui decorre um problema sério em democracia: quem lê aquilo de que não é autor - conseguirá dizer alguma verdade ao povo?! Estará preparado para governar?!
Ou, afinal, e apesar de Ferreira leite dizer que não é uma actriz e que não gosta do estado espéctaculo - ela é, em rigor, uma actriz?! Cavaco, a seu modo, também dizia o mesmo há duas décadas. Depois começou a ter aulas de dicção com a srª Dona Glória de Matos, aprendeu a citar convenientemente Os Lusíadas e a coisa lá foi andando...
Se isto tem fundamento, mais fundamento tem aquela asserção que diz que Ferreira Leite, ao longo de toda a sua vida política, só tem proferido banalidades contabilísticas. Basta fazer uma resenha das suas intervenções públicas, embora admita que em privado as asneiras ainda sejam maiores.
Mas como ela vai debitando (agora menos, porque se tem dedicado ao celibatário monástico...) tais banalidades com aquele ar grave, sério e, por vezes, mitigado com um olhar entre o ameaçador e o aterrador-sinistro, o povão fica a pensar que ela até sabe de economia.
Infelizmente, não sabe. Se lhe perguntarem quem é ou o que pensa Paul Krugman da conjuntura internacional, a srª Leite votar-se-á ao silêncio monástico por mais um mês. Se bem que ela o procure sempre fazer naquele registo que deixa nos interlocutores a ideia de que ela sabe, mas, na realidade, por detrás daquela testa - só sopram as palavrinhas que o JPP lhe dita de véspera. É curto para ser PM, convenhamos...
Afinal, a srª Manuela Ferreira Leite, ao invés do que proclama - como quem quer matar a política e a nobreza da sua representação - é mesmo uma actriz, mas de 2ª... Poderemos comprovar isso mesmo no próximo debate sobre o OGE para 2009, ainda que Marcelo de sousa esteja sempre a dizer que a srª é uma expert na área (foi pena não a ter apoiado em Castelo de Vide, onde se recusou ir porque lá estava António Vitorino). Qualquer dia Marcelo ainda lhe dá um 16, como fazia a Marques Mendes, quando tudo lhe corria mal na então liderança do psd.
Todavia, problemática tarefa têm PP, António Borges e Aguiar Branco, e até Paulo Rangel, que é mais inteligente do que aqueles todos juntos, em transformar alguém sem qualquer vocação para a política numa candidata ao cadeirão de S. Bento. Seria como meter um manco a correr ao lado de Francis Obikwelu. Um Sentimento, de resto, partilhado e estampado no rosto daqueles jovens que alí estiveram em Castelo de Vide a assistir aquela ruína antecipada (expressão feliz de Baptista Bastos no DN, link) - em que o actual psd se converteu.
Ainda hoje um amigo e um destacado autarca do PSD de Castelo de Vide - me disse o seguinte: a vinda da srª ao Alentejo deixou-nos mais pobres. A malta daqui só pensava em três coisas: no discurso do António Vitorino, nos aviões de Gaia e nas tacadinhas de golfe nos campos do Melancia.
Desta vez, acreditei nele...
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Nota prévia:
Os tempos de faculdade eram interessantes a todos os títulos, não penas pelas colegas, por vezes mui estimulantes, mas também por tudo aquilo que se aprendia, por vezes por omissão e erro (que são verdades a aguardar vez, como diria Vergílio Ferreira). Desde logo, a análise de conteúdo - enquanto metodologia de trabalho - que ao analisar e estudar um texto/discurso no plano quantitativo nos habilita a perceber o que o seu autor procura significar pelo número de ocorrências com que certas expressões se sucedem no dito texto. Quando aplicamos isto ao texto que ontem Ferreira Leite leu - temos uma verdadeira desgraça. Previsível, aliás.
Os homens da Comunicação servem-se deste expediente para decifrar mensagens, antecipar ataques políticos, perspectivar planos de acção, enfim, pôr em marcha todo uma prospectiva necessária à própria acção e planificação política, que carece sempre - antes - de alguma reflexão e pensamento.
Mas a par da análise de conteúdo (que quantifica e mede a ocorrência de certos conceitos e formulações no domínio da mudança social) também encontramos a análise do discurso - de teor qualitativo. Se quisermos, áquele corresponde o hardware, a este o software. É a partir daqui que o analista (ou o próprio actor político) já que isso em José Pacheco Pereira se combina na sua tarefa de ajudar a srª Leite a debitar o discurso de Castelo de Vide - procura reconstruir toda a motivação que está subjacente àquele discurso.
Enfim, por um lado análise de conteúdo, por outro análise de discurso - duas técnicas ou metodologias para desmontarmos qualquer discurso e perceber a sua mensagem. Uma aplicação prática desse trabalho foi feita, (gabo-lhe a paciência!!!) pelo autor do blog Absorto, Eduardo Graça - que citei (infra) através do PS Lumiar.
Se vantagem houve do texto da srª Manuela - aqui escalpelisado - foi fazer-me regressar aos tempos de faculdade e revisitar um passado não muito distante. Circunstância que até me aproxima mais de Ferreira leite.
Afinal, nem tudo está perdido...
[...] in Absorto
A natureza do discurso de Ferreira Leite está próxima do comentário político constituindo, de facto, uma pura peça de propaganda. Repete afirmações antigas e deixa-se aprisionar pela lógica da comunicação e imagem que a própria aponta como um dos maiores vícios da acção do governo do PS: "O Governo gasta imensa energia e recursos a tratar da comunicação e imagem, mas o objectivo não é informar, não é esclarecer ou mobilizar. O objectivo é enganar-nos ou distrair-nos."
Para confirmar o que se afirma antes basta fazer um exercício simples, e despretensioso, acerca da estrutura do discurso: ele é constituído por 119 frases curtas ou curtíssimas; nenhuma delas – na versão online – tem uma extensão superior a 4 linhas: 5 frases são compostas por 4 linhas; 13 frases por 3 linhas; 64 frases por 2 linhas e 37 frases por 1 linha. Aqui está, pois, um discurso com 119 frases das quais 101 são compostas por 1 ou 2 linhas. Se isto não é um discurso de pura propaganda política o que será um discurso de propaganda politica? Se isto não é “comunicação e imagem” o que será “comunicação e imagem”?...
Eduardo Graça – Absorto - via PS Lumiar