sábado

Manuela Ferreira Leite representa o "Perú" pré-natalício do sistema político português. Instrumentalizado por António Variações e Patrick Hernandez

Remake 1 de Set. 2008.
Ferreira Leite funciona hoje para o psd como o perú de Natal para os portugueses: todos o querem cortar, comer, saborear. Na esperança de que no ano seguinte outro perú, mais gordo e suculento, esteja à mesa dos portugueses. ONDE É QUE SE METEU O PERÚ?!
Uma das coisas que os portugueses mais apreciam pelo Natal é o perú. Qualquer homem se alegra se a mulher lhe disser que no lar familiar, além da fé, espera-o um belo perú. Recheado de preferência. É uma paixão que, com os anos, se transforma em gula. Já não se olha para as prendinhas na árvore de Natal, o homem quer é o perú. Primeiro contempla-o, depois esfaqueia-o para o comer com prazer, regado com um bom vinho e, claro, muita fé sob o olhar atento do menino Jesus - pendurado num quadro de parede bem próximo do perú - para que a fé e o prazer do manjar se misturem. Esta é uma receita que o homem não quer perder no ano seguinte. Daí que os votos sejam para que o perú não fuga, para que todos lhe possam apertar o pescoço, enfiando-o de seguida no espeto e girando-o lentamente no fogo a carvão lá de casa.
Ora, esta "analogia-macaca" pré-natalícia tem, infelizmente, alguma verosimilhança com o que actualmente (ou melhor, há já uma década) sucede ao PSD: entrou em declínio de estrutura, de função e de liderança. A morte das ideologias e a eucaliptização das elites (secadas ao tempo de Cavaco), contribuíram fortemente para esta ausência de projecto alternativo ao PS. Um PS que tem um líder forte, abrangente e profundamente reformista, tudo bandeiras do PSD, mas que Sócrates soube chamar a si - com algum proveito e talento pessoais, partidário e até para o País - que assim está fazendo algumas das reformas inadiáveis. Além da própria história e ADN do psd - que tende a triturar todo o líder que não ofereça ao eleitorado uma perspectiva rápida de acesso à cadeira do poder. Tudo isso dificulta hoje a vida a qualquer líder em exercício na Lapa.
Foi o que se passou com Marques Mendes, como Luís Filipe Meneses, Santana, agora com Manuela Ferreira leite e tutti quanti... É assim o psd, uma espécie de picador de gelo e de albergue espanhol que mete tudo lá para dentro, até a dona Zita Seabra qualquer dia irrompe aos portugueses como a porta-voz do psd para os assuntos de pendor mais ideológico. Há de tudo...
E é nesse "tudo" que o psd hoje vegeta. Tem empresários muito ricos e empresários falidos e com dívidas à Segurança Social, tem gente séria e trabalhadora que do psd apenas se lembra da memória de Francisco Sá Carneiro, tem também Balsemão - dono da SIC, do Expresso, da Visão, tem pessoas de muitos géneros, rendimentos e proveniências. Mas tem, sobretudo, hoje muita gente que quer "apertar o pescoço ao perú", ou melhor, quer ver-se livre de Ferreira leite porque há muito que percebeu que a srª não tem perfil, pedalada e conhecimento para exercer um cargo que é, por inerência de funções, candidato a PM de Portugal. Tanto mais que esses "apertadores de pescoços ao perú" pensavam que tinham eleito em Guimarães "alguém" quem os representaria frente a um Sócrates cada vez mais aguerrido e, afinal, a srª Leite representa, hoje, um "fantasma" na cena pública em Portugal. Desconfia-se que nem já o seu netinho conhece o seu paradeiro. E se tivesse a fazer o famoso bacalhau espiritual a Lapa já teria cheirado o cozinhado, mas nenhum fumo branco sai daquela omissão omniprente. E com tantas ausências, omissões e medos o trabalho de planificação política ressente-se...
Terá ido a srª para férias e deixado a Lapa ao deus dará?!
  • É que pedir a cabeça de Rui Pereira, o MAI, à propos de tanto crime que assolou a sociedade portuguesa - revela improviso político;
  • Negar a necessidade de investimento infra-estrutural no País revela improviso político;
  • Colar-se a Belém sendo porta-voz das conversas privadas que Leite mantém com Cavaco - além de improviso é irresponsabilidade política e falta de educação.
Acresce, para agravar a vida a Ferreira Leite - que criou tantos hiatos na sociedade portuguesa, que Meneses já procura reunir as 2500 assinaturas para requerer um novo Congresso e agendar o tema da Regionalização, impondo assim um ritmo à vida interna do PSD que, manifestamente, Ferreira Leite jamais conseguirá acompanhar. Igualmente insatisfeitos estão Pedro Passos Coelho e o crónico Santana que, aos 60 anos, ainda acha que terá hipóteses de concorrer ao cargo de PM de Portugal, depois daquela má experiência que terminou com a sua demissão pelo então PR, Jorge Sampaio.
Ou seja, é com esta familiaridade pré-natalícia e respeitosa da morte do perú que Ferreira Leite fará a sua aparição na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide.
Certamente, ela procurará aparecer aos jovens que alí se encontram, aos media e aos simpatisantes em geral - como uma mãe-enfermeira destaca pela Cruz-Vermelha no Corno d´África - onde prestou cuidados de saúde às populações refugiadas vítimas de constantes guerras civis na área. Será assim para justificar essa longa ausência, embora aquilo que, na realidade, todos e cada um daqueles jovens lhes apetece fazer seja, de facto, "apertar o pescoço ao perú".
Empalidecida, de olhares trémulos, hesitante e suplicante senão mesmo assustada - será assim que Ferreira leite fará a sua aparição em Castelo de Vide. E mesmo que os comensais circunstantes batam palmas, dêem palmadinhas nas frágeis costelas da srª Leite - tudo aquilo cheirará já ao churrasco pré-natalício do perú - que há muito deu entrada no espeto. Meneses assume que já começou a "afiar as facas" no partido.., e não é só em artigos de opinião.
Em breve será trinchado, repartido e comido. Na esperança, claro está, de que para o ano esteja no terreno um outro perú - mais gordo e suculento. E, de preferência, que abra alas à cadeira do Poder. Porque os eleitores do partido, com Marcelo também a descalçar a bota de camurça ao dito perú, estão com fome, muita fome...
E é neste quadro complexo, entre o drama e a tragédia com sabor a comédia política post-moderna, que António Vitorino irá falar.
Ninguém acredita que consiga fazer a sua intervenção sem se rir...
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Antonio Variações - o corpo é que paga ( semi-original )

Patrick Hernandez - Born to be alive 1979/2004