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A figura da "caridade política" em Portugal representada por António Vitorino

Em Portugal alguns comportamentos políticos, e mais concretamente ao nível dos agentes politico-partidários - reflectem uma certa promiscuidade entre esses players e a rede de interesses públicos que supostamente deveriam defender. Daqui nascem algumas situações obscuras que revelam algum oportunismo político. Coisas que se descobrem quando as "comadres" se chateiam.
Esta semana, ao invés de todas as regras, o que revela amadurecimento do nosso regime político e partidário, foi vermos António Vitorino no evento político do PSD que marca a sua reentré - para aí fazer uma prestação sobre a Europa. De resto, a mais apreciada pelos jovens quadros alí presentes, segundo consta.
Ora, este tipo de conduta política há uma década seria tão impensável quanto irealizável. Pelo menos, seria censurável pelo partido de que o conferencista é membro. Suceder agora revela maturidade política, tolerância partidária e muita modéstia, respeito e até caridade pessoal por parte de António Vitorino - que ao ver o PSD, o principal partido da oposição, a esfrangalhar-se ante uma ausência total de projecto e de liderança - resolve dar a mão e enriquecer o debate - na ausência (birrenta) do douto Marcelo Rebelo de Sousa - que lida mal com a concorrência.
Entre um PSD em fanicos e um PCP e um BE em emergência sociológica, será preferível - para a estabilidade do sistema de partidos maioritário em Portugal, que essa força política clássica dominante se mantenha nas mãos do PS-PSD, sob pena de maior pulverização e atomização das alianças e dos comportamentos politico-partidários. Os quais, a existirem, até dificultariam as condições da própria governabilidade de Portugal, sobretudo agora que os ventos da globalização negativa sopram forte sob as leis anárquicas do petróleo.
Numa palavra, António Vitorino inaugurou uma nova figura no sistema político em Portugal: a caridade política, resultante da humildade, tolerância e humanismo que levou na bagagem sobre a Europa e partilhou em Castelo de Vide, na festa política de Verão do PSD.
Tudo num total respeito ao próximo, apesar das escassas diferenças que hoje separam o socialismo democrático da social-democracia, ambas costelas marxistas. Embora o PSD sempre tenha proclamado a autoria das reformas, mas é hoje Sócrates quem, de facto, as concretiza.
Seja como fôr, António Vitorino, pela originalidade da prestação que foi autor, arrisca-se a ser medalhado em Belém no dia 10 de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Marcelo, em idênticas circunstâncias políticas, jamais faria o mesmo pelo PS. Isto também revela a dimensão e a grandeza das pessoas, mais até do que a dos partidos, que nada são sem as pessoas.
Razão por que damos aqui, simbólicamente, 18 Val. a António Vitorino e um 6 a Marcelo. Um passa com distinção, o outro nem à 2ª época poderá propôr-se.
É a vida...