terça-feira

Mais 207 reformas milionárias. "As pensões douradas"

João Pedro Barros, Pres. do Instituto Politécnico de Viseu, Simoneta Luz Afonso, Pres. do Instituto Camões e Alfredo Bruto da Costa, Pres. do Conselho Económico e Social
Mais 207 reformas milionárias , link, CM
O número de beneficiários da Caixa Geral de Aposentações (CGA) com reformas mensais superiores a quatro mil euros, o escalão mais alto para os trabalhadores ligados à Administração Pública, está a revelar um ritmo de crescimento imparável:entre Janeiro e Outubro deste ano reformaram-se 207 funcionários do Estado com pensões douradas’.
Fique a par de todos os dados sobre as pensões milionárias da CGA, em exclusivo, na edição do CM desta terça-feira.[...]

Obs: Para um País europeu confesso que, em termos absolutos, cada um destes "marialvas" sacar de reforma cerca de 800-1000 cts mês não me choca. Já me choca quando comparamos essas reformas com as reformas da generalidade dos portugueses, muitos dos quais nem 500 euros auferem. O que revela bem que a pobreza é, de facto, um dos grandes problemas nacionais que o Governo, qualquer que ele seja, terá de enfrentar nos próximos anos em Portugal. Ou seja, o choque moral e social ocorre quando estabelecemos a comparação entre umas e outras (reformas).

Contudo, têm sido adoptadas duas grandes abordagens para explicar a pobreza nas sociedades contemporâneas: os argumentos da cultura da pobreza e da cultura da dependência clamam que os pobres são efectivamente responsáveis pela sua própria miséria. Devido à falta de capacidades, ausência de motivação para o trabalho ou empreendedorismo - aliado a uma fraqueza moral que os impele à paralisia e dependência em que acabam por cair. Isto explica, nesta teoria, a razão pela qual os pobres são pobres e continuarão pobres. Muitos deles tornam-se mesmo dependentes da ajuda exterior, como da Segurança Social, em vez de procurarem sair dessa subsidiodependência crónica, auto-ajudando-se.

Uma 2ª abordagem defende que a pobreza é o resultado de grandes processos sociais - como por exemplo esse decisor oculto que responde pelo nome de Globalização - que determinam que a distribuição efectiva dos recursos e rendimentos na sociedade seja feita de forma muito desigual criando, desse modo, condições geradoras de mais graves e chocantes assimetrias entre os portugueses e com as quais se torna problemático às próprias entidades públicas lidar, bem como à sociedade no seu conjunto.

Neste caso, postula-se que a pobreza não deriva de inadequação de capacidades individuais, mas de importantes e complexos desequilíbrios estruturais gerados pelo neoliberalismo constante do capitalismo de casino selvagem que reina no mundo há quase duas décadas.

Diria que em Portugal - os portugueses mais pobres sofrem dessas duas limitações, por isso será nessas duas frentes que a sociedade - por um lado, e o Estado, por outro, terão de estabelecer prioridades e objectivos com o fim de combater essas condições sociais geradoras de pobreza tão gritante entre nós - e que são visíveis na comparação dos valores daquelas reformas douradas e aquelas outras reformas auferidas pela gernaridade dos portugueses.

Aqui subscrevo a opinião de Woddy Allen quando diz que todos deveríamos ser ricos, antes de mais nada por motivos financeiros. Ou então, subscrever a ideia de Manuel João Vieira, vocalista dos Ena Pá 2000 - quando dizia que cada português deveria poder comprar um Porshe e um Ferrari, nem que depois passe a pagar o fatinho a prestações no Conde Barão...

Já agora, pergunte-se ao sr. doutor Alfredo Bruto da Costa, um sociólogo da pobreza, tão preocupado com os desvalidos em Portugal se, do resto que lhe sobra da sua reforma dourada - ele afectará parte dela aos pobres da sua rua, bairro ou doará alguns recursos que não lhe farão falta a alguma Associação que se dedique ao combate à pobreza em Portugal...