terça-feira

Hamlet e o caso Maddie...

Notas prévias: Durante mais de uma dúzia de meses os pais de Maddie - apareceram em todo o lado: tv, jornais, revistas côr-de-rosa, net, blogs, youtube, foram evocados em concertos, estrelas da música Pop (como os U2) concederam-lhes espaço e atenção, e também dinheiro, muito dinheiro. Se compararmos o que toda essa tralha do jet-8 planetário fez por casos similares mas oriundos de outras famílias - mais anónimas e de condição socioeconómica inferior - o fosso é gritante, e até apetece chamar hipócritas a toda essa parafernália de gente cujos sentimentos só se deixam aprimorar quando se trata de certas classes sociais, demonstrando - perversamente - que as pessoas influentes só se deixam conciencializar se o estrato social a que pertencem tais filhos ceifados à vida integram a classe-A.
Ou seja, o crime cometido sobre a menina Maddie - lamentavelmente - esconde um crime ainda maior: o da hipócrisia da própria condição humana, das representações sociais que lhe estão associados, enfim, da ambiguidade de tomadas de posição que em momentos-limite a condição humana sempre denuncia. É por tudo isso que pouco ou nenhum respeito me inspira os pais da criança desaparecida, que sempre achei serem actores de 2ª, quanto à menina tem o valor duma vida. Vale por si mesmo, como as dezenas de outras crianças portuguesas cujos Pais não tiveram acesso a contas no banco na casa dos milhões de euros, acesso à Justiça, ao Papa, à proficiência da PJ nem sequer - à bondade - persistente dos media que temos.
Quanto ao assessor do casal, anterior assessor de comunicação do Gabinete de Tony Blair (destacado para o caso Maddie) direi duas notas: 1ª cheirou-lhe a dinheiro e a "iena" não pensou duas vezes, pois trabalhando com o casal ganhar muitas vezes mais do que como assessor do PM britânico; a 2ª nota que o marialva me inspira é a seguinte: sempre que aparece frente às câmaras evoca-me sempre a história daquele cangalheiro que encontrou umas pedras no chão e as vai tentar vender como diamantes nas casas de jóias, e no final consegue enganar o comprador. Trata-se, pois dum cangalheiro de doca que correu rápido atrás do dinheiro, amanhã - se necessário for - venderá a mãe. É óbvio que não será de um Public Relations desta estirpe que a PJ precisará para os seus quadros de Portimão.
O facto de tudo isto se desenrolar em Portugal foi apenas mais uma forma da existência humana nos chamar a atenção quão miseráveis todos ainda somos. Hoje todos coramos de vergonha. Uns mais do que outros, naturalmente, em função do grau de responsabilidade que cada pessoa e/ou intituição teve, tem e terá sobre este e muitos outros casos similares.
Por isso concluo com aquele que foi o maior "psicólogo" de todos os tempos (depois de Jesus Cristo, evidentemente), William Shakespeare: somos todos uns refinados patifes...
Hamlet
Eu sou razoavelmente honesto e contudo poderia acusar-me de tais cousas... sou excessivamente orgulhoso, vingativo, ambicioso, assaltado por mais tentações de pecados do que pensamentos para os ouvir, imaginação para lhes dar forma, tempo para ceder a eles. Onde está a utilidade de existências como a minha, rastejantes entre o céu e a terra? Nós somos todos uns refinados patifes...
Acto terceiro
Scena I
Troti