sábado

O PSD às candeias. O "embróglio" saído de Guimarães

Bastou um artigo de Luís Filipe Meneses ontem no DN (aqui) para que os conflitos, dissonâncias, vulnerabilidades e fraquezas deste psd de Ferreira leite saído do Congresso de Guimarães estalasse, e se comporte como uma barcaça furada a meter água por todos os lados num mar revolto.
Muito provavelmente, aquele artigo é a melhor coisa que Meneses pensou e escreveu na vida, é certeiro e demolidor e diagnostica todo um vício genético do psd ao ter nascido sem ideologia, mas como uma máquina de poder que faz alianças quando tem que as fazer, e governa sózinho quando o povo lhe concede essa expressão eleitoral, a mesma que hoje disfruta o Governo PS - pela 1ª vez na história da democracia portuguesa.
Perante o artigo de Meneses no dn, o que dizem Ferreira leite e Pedro Passos Coelho?
Aquela, que tem tanta vocação para a política como o dr. Mário Soares tem para o cálculo financeiro, diz que a oposição serve apenas para criticar o Governo, e que só nas vésperas das eleições os tugas conhecerão as suas ideias luminosas. Até lá não as apresentará - com receio de elas - as ideias - serem tão boas-tão-boas que Sócrates lhe as roube e depois recolha os louros que, à partida, seriam devidos à dona leite.
Isto é o que se chama um raciocínio cabotino, egoísta, mesquinho e verdadeiramente estúpido. Reflecte bem a noção e a cosmovisão que leite nutre da política. Não perceber isto é não perceber nada de política. Falamos, claro está, de Ferreira leite - um caso de verdadeira sinistralidade política, que ainda hoje muito boa gente se pergunta como vingou naquela máquina partidária.
Já Pedro Passos Coelho, que poderia ser neto da senhora, tolerou os resultados e sentou-se dentro da tenda para a partir dela ir manobrando, entende que o PSD deve, ao invés do que defende a novel "princesa do social" - criar um think-thank (muito provavelmente, com o vasco rato a fazer relatórios e dar bitaites naquele português "amaricano" que ninguém entende) - ir estudando e apresentando propostas alternativas no âmbito das várias políticas públicas. E, de facto, é assim que deve ser numa democracia pluralista e participada, é assim que os portugueses avaliam e distinguem aquilo que os vários partidos do espectro político vão propondo à sociedade para resolver os seus problemas e contribuir para o seu projecto de modernidade, progresso e desenvolvimento - que são três-chavões que fica sempre bem dizer.
Ou seja, Ferreira leite diz que sabe mas não diz (só fala na véspera das eleições, revelando duas coisas: estupidez e oportunismo); Passos Coelho diz que urge estudar agora para propôr alternativas ao Governo socialista; e Meneses, que já está fora do barco - com um bom artigo - obrigou essa gente a pronunciar-se acerca dos métodos que devem (ou não) seguir para fazer uma oposição pífia a Sócrates. Isto, no mínimo, é uma coisa do outro mundo. Nem no Burundi estes métodos de acção política se devem praticar. Mas é o que a dona Ferreira leite, a "princesa do social" tem para oferecer ao País - que certamente a deseja ver pelas costas, porque a memória viva que ela deixou ao tempo de Barroso é verdadeiramente lamentável e lesiva dos interesses dos empresários, das famílias e das pessoas.
Mas para cúmulo de toda esta esterilidade política que colonizou a Lapa, ainda se dão ao luxo de não querer comentar a melhor peça de sociologia política que Meneses escreveu em toda a sua vida. Até parece que o ex-líder do psd passou pelo que passou só para ter dados para escrever o artigo, que podia reflectir a sua vida. Leite diz que não comenta, e percebe-se bem porquê. O artigo é, de per se, acção e reacção. Não carece de comentários, muito menos oriundos de quem na política nada revelou saber ou fazer. Meneses ainda tem obra feita, leite só tem desgraças para anunciar ao país, além dela própria representar o conceito de desgraça.
Com efeito, a reflexão de Meneses - que deveria ter sido escrita por outra pessoa e não por ele, espelha bem as fraquezas de Ferreira leite, do partido e do seu modo de funcionamento. Por isso, comentar o artigo de Meneses seria atirar octanas de avião para apagar o incêndio que há anos lavra na Lapa. Ninguém hoje no poder o quer fazer... Por piedade e misericórdia compreende.
E, por outro lado, revela a inteligência e o common sense de Passos Coelho a, novamente, demarcar-se da liderança de Ferreira leite - advertindo-a que poderá não chegar a 2009.
Numa palavra: o psd não existe, o que existe são vários gatos dentro de um saco que se mexem em sentidos contrapostos, e que a qualquer momento podem desencadear uma nova luta dirimida em novo congresso. Talvez o Congresso do Entroncamento - para explicitar esse verdadeiro fenómeno de esterilidade política em que leite há muito se converteu. Até dá vontade de dizer por que razão ela já não saíu do "negócio de carros" enquanto ainda tem o lucrativo Jeep como retaguarda.
É a mesma que nas intervenções que faz (por omissão, bem entendido!!!) já está a capitular (seja contra o Governo em funções, seja contra a liderança interna cuja esperança é Pedro Passos Coelho). O tal que queria privatizar a CGD, depois o O2...
Evidentemente, Ferreira leite só se aventurou neste inferno porque é politicamente destituída, não tem a noção de que a governação de um país vai muito para além do deve & haver que integra aquela contabilidadezinha de merceeiro que ela tão bem personifica.
Alguém amigo de Leite lhe deveria ter dito que um razoável jogador de xadrez jamais consideraria jogar uma partida evidentemente perdida. Talvez por essa razão ela tenha sublinhado na 1ª entrevista a Júdite de sousa na rtp1 após o Congresso de Guimarães - que a sua missão era arrumar o partido, não ser PM de Portugal.
Mas para isso bastaria contratar um gestor mobiliário na Conforama ou na Moviflor (passe a Pub.), e tudo sairia mais barato...
PS: Parabéns ao dr. Meneses pelo seu artigo de ontem no DN. Ainda acaba como professor-convidado da Univ. Lusíada - onde Pedro Passos Coelho tardiamente se licenciou.