A criança e o político: a origem dos problemas
As crianças encontram o seu próprio destino no decurso do seu desenvolvimento. Mas se ela se cristalizar na sua imagem dificilmente conseguirá ser ele próprio ao longo da vida. E não atingindo esse desiderato também não atingirá a felicidade: essa harmonia consigo próprio e com os outros e o mundo. Ou seja, se ela não se livrar da sua cristalização que fixa a sua imagem de criança - que a aliena - ela nunca tratará por "tu" a existência. Estará sempre numa situação que a faz sentir falta de algo.
Vejamos: os pais amam a sua criança, esta é educada a ter de os amar, pois trata-se dos seus pais - que lhe deram a vida. Este fenómeno de amor para a vida, em que os filhos têm de gostar dos pais parece ser pacífico, embora ninguém pareça ter consciência do mundo subterrâneo que se vai desenhando no processo de crescimento e desenvolvimento da criança no quadro das relações com os pais.
Por isso é que alguns jovens hoje se questionam se o facto de terem um pai e uma mãe isso, automáticamente, os obriga a terem de gostar dos pais só pelo facto de o serem. Só pelo facto de o pai ser pai tal não gera um grande sentimento de amor pelo filho. Embora seja esperado e até desejado..
A pobre criança, porque ainda não tem a consciência formada, hesita ante tanta confusão de sentimentos. Pois não faltam é histórias reais de casos em que filhos detestam os pais e vice-versa. Mas é nesse espaço de hesitação, nessa folga emocional que a criança começa a fingir, e ao fingir vai sorrindo para as pessoas que a rodeiam e para o mundo que testemunha o seu crescimento.
Fingir, fingir, fingir é a sua única escapatória possível, salvo nos casos em que essa hesitação não existe. Sorri para o pai, sorri para a mãe, sorri para o mundo. Embora no seu coração não exista essa traço de afecto ou de amor, mas sim de gratidão. O resto é tudo falso.
No fundo, temos aqui um problema político, na medida em que desde que nasce o Homem é um hipócrita, em inúmeros casos é educado enquanto tal, e, depois, já crescido, torna-se político.
É aqui que os problemas sociais verdadeiramente se colocam.
PS: Esta reflexãop é dedicada ao amigo e mestre Agostinho da Silva - por me ter ensinado o pouco que sei e vou sabendo para concluir que nada sei. O que faz lembrar um encontro de Sócrates, o grego, com um amigo:
- Aquele diz-lhe que só sabe que nada sabe.
- O amigo replica, dizendo: que nem isso sabe!!!
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