Santana Lopes terá o meu apoio para Lisboa"
Imagem e texto, DN
Entrevista com Pedro Passos Coelho, candidato à liderança do PSD
Porque avançou nestas directas?
Porque tive a convicção de que o PSD pode ganhar as próximas eleições legislativas, daqui a um ano, e de que o pode fazer comigo.
E como?
Alargando o espaço eleitoral do PSD, trazendo para o partido um conjunto de cidadãos que têm estado, ou de costas voltadas para a política, ou que se afastaram do PSD, e de um modo geral conseguindo propor-lhes um projecto alternativo ao do PS que aposte sobretudo na iniciativa das pessoas e que revalorize o papel da sociedade civil.
Como é que avalia o curto consulado de Luís Filipe Menezes?
Eu fui ao último congresso dizer que o PSD devia seguir um caminho estratégico igual ao que estou a defender hoje com a minha candidatura. E esperar que o recém-eleito presidente do PSD não seguisse à letra boa parte daquilo que tinha defendido na sua moção, porque eu defendia que o Estado Social precisava de ser reformado, mas não podíamos estar oferecer tudo a toda a gente, como às vezes era referido. Não havia um caminho claro que pudesse mobilizar a sociedade portuguesa para uma mudança. E mantenho esta perspectiva.
Nesse sentido, a direcção de Menezes falhou?
Não foi só a direcção do dr. Filipe Menezes. Há vários anos que o PSD vem discutindo políticas que são importantes mas não é consequente com elas. Isso tem trazido uma instabilidade muito grande.
Em termos concretos, o que retira de bom e de mau da liderança de Menezes, que agora está a transferir apoios para a sua candidatura?
O dr. Filipe Menezes fez essa avaliação muito bem, quando concluiu que não tinha condições para levar o mandato que tinha recebido dos militantes até ao fim. Condições (quer do ponto de vista interno, quer externo) para consolidar um rumo estratégico para o PSD.
Lembro-me de ter dito, quando da aprovação do Orçamento de Estado para 2008, que o PSD perdeu mais uma oportunidade para fazer uma oposição séria.
Os partidos quando estão na oposição não podem ficar apenas a dizer mal e não apresentarem propostas alternativas. Essa não é uma crítica ao dr. Filipe Menezes, é uma crítica que já fiz a outras direcções. No último OE era importante que o PSD não votasse contra sem ter explicado como é que poderia iniciar um caminho de reforma do Estado e de redução da despesa.
A que deve todo este apoio do aparelho de Menezes?
Isso não me causa nenhuma dificuldade, nem nenhum desconforto. Da mesma maneira que tenho tido um apoio muito grande de pessoas que estiveram ligadas ao dr. Menezes, também tenho tido o apoio de pessoas que estiveram ligadas a outros líderes do PSD.
Aquele jantar em Gaia não passou a imagem de que está a haver uma espécie de passagem de testemunho de Menezes para si?
Quer dizer que o ainda presidente do PSD, sem dizer que me apoiava, fez declarações muito simpáticas e favoráveis, porque ao contrário de outras candidaturas que nos pretenderam desqualificar, ele viu esta candidatura como séria e credível.
Por que é que sentiu necessidade de dizer que não estava nas directas para marcar terreno?
Se a minha intenção fosse apenas a de marcar espaço para o futuro ou de contribuir para a discussão, eu não me tinha candidatado mas poderia ter apresentado um documento de reflexão estratégica, podia dar uma ou outra entrevista. Era importante explicar às pessoas que eu não estava a marcar um terreno para o futuro, mas que o futuro é agora.
Um ano é suficiente?
Um ano é tempo qualitativamente suficiente para mobilizar o País para essa mudança.
É um ano carregado de eleições. Já pensou quais são as pessoas que vai lançar nessas batalhas?
As diversas eleições têm perfis distintos. No caso das autárquicas, não compete ao presidente do PSD estar a escolher os candidatos.
Nem para a Câmara de Lisboa?
Nem para a Câmara de Lisboa. O presidente do PSD deve ajudar e colaborar com as estruturas locais e distritais para a definição da estratégia. Às vezes, pode ser importante que o PSD peça ao seu líder para intervir, facilitando uma escolha.
Foi isso que correu mal com Marques Mendes, em Lisboa?
O dr. Marques Mendes, quando perdeu a eleição directa há sete meses atrás, penso que pagou o preço pelo processo que decorreu em Lisboa. Estes processos têm importância ao nível do PSD. No que respeita aos órgãos de soberania, à Assembleia da República ou à lista para o Parlamento Europeu, com certeza que são escolhas nacionais e nessa medida não posso estar alheado dos processos de escolha. Mas são listas que devem representar, tanto quanto possível, o PSD e não a direcção política do PSD.
Santana Lopes dá um bom candidato à Câmara de Lisboa?
Não tenho dúvidas nenhumas de que se as pessoas do PSD em Lisboa acharem que o dr. Santana Lopes é uma mais-valia para esse combate e se ele estiver disponível, terá o meu apoio, pura e simplesmente.
Já defendeu a regionalização e agora tem uma posição diferente.
Mudei a minha opinião sobre a regionalização. As opiniões são para nós mudarmos, as convicções é que não. Não podemos é andar a mudar de opinião todos os dias.
E porquê? Foi a idade, evoluiu, estudou mais?
Tenho uma posição diferente sobre o processo de regionalização da que tinha há 15 ou 20 anos.
Mas a regionalização nunca chegou sequer a ser aplicada, como é que mudou a sua posição sem ter visto o processo na prática?
Sou um grande defensor da descentralização política, que implica a descentralização de funções do Estado central para as unidades político-administrativas já existentes e eventualmente para novas entidades a criar, supra-municipais e infraestaduais, que possam ser eleitas. Agora, não estou de acordo com governos regionais, Portugal não tem dimensão para isso.
Se o PS fizer um novo referendo à regionalização, que posição terá o seu PSD?
Comprometi-me a realizar uma discussão interna no PSD que culminasse num referendo interno sobre a regionalização.
Muitos dos seus apoiantes, sobretudo os menezistas, são profundos regionalistas. Não teme ser prejudicado por isso?
Não. Todos os apoios que me têm sido manifestados são incondicionais, quer no que respeita à chamada mercearia dos lugares, quer relativamente ao projecto político que venho enunciando. Eu não ajustei o que defendo aos apoios que tenho.
Esteve agora na Madeira onde defendeu um "aprofundamento das autonomias regionais" e também recebeu o apoio dos homens mais próximos de Jardim...
Expliquei que não sou defensor da autonomia total. Em 1992 fui subscritor de um projecto de revisão constitucional, juntamente com outros deputados, que era talvez um dos mais avançados alguma vez submetido à aprovação do Parlamento. Ao nível da reserva relativa de competência legislativa, é preciso maior e melhor clarificação.
E a lei das finanças regionais?
Representa de alguma maneira uma sanção política que o actual Governo resolveu infligir à Madeira, porque tem sido liderada pelo PSD e por Alberto João Jardim. Há uma distinção entre as duas regiões que não resulta da aplicação de critérios claros e transparentes.
Com quem é que se identifica dos líderes políticos estrangeiros?
Eu tenho apreciado, nos EUA, o Barack Obama, no sentido em que promete trazer um nível de participação e de cidadania mais alargado para a política americana.
Se for eleito líder do PSD é capaz de esperar tanto tempo como David Cameron, em Inglaterra, para ver resultados?
É indispensável. Acredito que daqui um ano é possível ganhar eleições, mas se, por qualquer razão, isso não vier a acontecer, eu privilegio muito essa estabilidade e uma linha de afirmação. Não virarei costas nas próximas eleições legislativas.
Obs: Envie-se xerox para Santana com um pedido de parecer sobre a dita entrevista ao ex-PM que ficou conhecido em S. Bento como o homem que institucionalizou o direito à "sesta", designadamente na parte em que Passos Coelho admite apoiar Santana Lopes para Lisboa em 2009. Os "amigos" são assim, arrumam-se onde é possível.., Passos Coelho também pretendia conquistar, há uns anos, a Câmara Municipal da Amadora (conhecida como a "porcalhota"). Muito provavelmente, Santana diria que Passos Coelho daria um bom vereador da Juventude e Educação, faz parte da lógica dos "mimos" políticos - ainda que se trate de um contexto de luta intra-partidária em direcção à liderança. Naturalmente, e à luz do bom senso dos factos disponíveis, nem Passos Coelho será PM em 2009 nem Santana o novo edil da capital (nem da Figueira-da Foz, mesmo que quisesse ou com a ajuda de Cinha Jardim...), mas a política também vive de cenários, os jornalistas ganham a vidinha assim - a montá-los - como se de andaimes políticos se tratassem; e os leitores gostam de ler esses lugares-comuns - onde nenhum rasgo, visão ou plano maior se vê para Portugal. E é aqui que a simpatia, juventude e até alguma novidade de Passos Coelho se esvai. Pois nenhuma ideia ou eixo estruturante se vislumbra no seu discurso, embora saibamos que gostaria de privatizar a CGD, deseja mais "sociedade civil", logo menos Estado (coisa que o PSD engordou e deixou cheio de adiposidades), é um defensor da descentralização, gosta do Barak Obama (Sócrates também). Pedro Passos Coelho é, assim, uma espécie de virgem - que apesar de já não o ser pretende parecê-lo, na esperança de que as massas eleitorais acreditem nele. Como observador, será expectável que quer o empresário Neto da Silva quer Mário Patinha Antão - desistam, in extremis, em favor de Passos Coelho: Antão fá-lo sem dificuldade porque detesta Ferreira leite - que considera intelectual e técnicamente muito áquem das suas qualificações e capacidades (e, de facto, Antão é um homem inteligente e articulado, daria um bom braço-direito de Passos Coelho na secretaria-geral do PSD); Neto da Silva por se alinhar em termos pessoais mais fácilmente com a novidade e a juventude. Tudo visto e somado diria o seguinte: quer Passos Coelho quer os outros candidatos na luta pela liderança no psd, não têm um discurso de modernidade verdadeiramente desenvolvimentista para Portugal neste 1º quartel do séc. XXI que seja melhor ou mais sedutor relativamente ao conjunto de reformas (algumas problemáticas) empreendidas por Sócrates nestes 3 últimos anos. E é esta questão que se coloca ao eleitorado nacional em 2009 - nos vários tabuleiros (regional, europeu e nacional). Não sendo a alternativa no mercado político mais promissora do que o governo em funções será desejável e realista que Sócrates continue em funções. Ainda que o seu principal inimigo não esteja no PSD nem nas falácias do dr. Anacleto Louçã, mas na voragem do Petróleo - que nos está a deixar a todos mais ressentidos em relação aos srs. da OPEP e aos operadores/especuladores que ocultamente vão manipulando os preços do ouro negro deixando cada vez mais empobrecida as sociedades europeias. Pergunte-se a Manela Ferreira leite se ela já adoptou a caminhada como alternativa à automóvel como forma de superar a crise - ou se ela ainda defende a redução do défice como mola de crescimento e desenvolvimento económico...
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