sábado

O PSD no divâ do psicanalista: Eros e Tanatos. Erros e tantos

A situação interna no PSD externalisou-se, globalizou-se, banalisou-se. Até o padeiro debita bitaites acerca do que Meneses deve ou não deve fazer. Se amanhã o preço do petróleo voltar a subir e o dólar desvalorizar-se - a culpa é, dizem - do pobre Meneses. Isto é um exagero, pois nem o pobre Meneses tem assim as costas tão largas, ele até é um gajo porreiro, está apaixonado pela secretária (o que é de louvar) e detesta a sociedade de corte teorizada pelo sociólogo Norberto Elias. Detesta, bem entendido, porque nunca foi poder, se fosse bronzeava o conceito como todos fazem, o resto é paisagem para vaca pastar.
A situação desta desgraça, em nosso entender, encontra uma troika de razões, todas contribuindo para o actual estado de anarquia no partido da Lapa: 1) eucaliptização de elites ao tempo de Cavaco - que suprimiu a emergência de novos quadros; 2) a fuga egocêntrica de Durão para Bruxelas (e ainda bem, doutro modo Sócrates só muito dificilmente teria uma maioria absoluta); 3) e a incapacidade política pessoal de Meneses - ante o fulgor reformista do PM em funções, José Sócrates.
Por outro lado, e como já referimos abaixo noutra reflexão - a história do PSD é a história duma guerra civil entre homens desavindos, pois quem não oferece garantias de vitória ao eleitorado do partido sai borda-fora. Neste particular, creio que o PS consegue ter algum respeito pelas pessoas, pela diferença e, portanto, ser mais tolerante para com os vencidos da vida. Apesar de nas últimas eleições presidenciais Manuel Alegre ter deixado Mário Soares completamente amputado dos órgãoes políticos inferiores, mas como o poeta Alegre não conseguiu converter o seu milhão de votos em capital político activo - resta-lhe andar por aí a narrar sonetos anti-Socráticos na esperança de um dia receber o nóbel da contestação interna no Largo do Rato. Por mim, confesso, nem como poeta...
Então, as lutas fratricidas no PSD decorrem do travão de Cavaco, da fuga de Barroso e a incapacidade congénita de Meneses em estruturar uma única política política alternativa às políticas sectoriais do governo socialista liderado por Sócrates. Tudo isso fez com que o povão interno do PSD exigisse a cabeça de Meneses numa bandeja, foi o que sucedeu. Agora, segue a cabeça seguinte numa outra bandeja..
Daqui decorre que a vida do PSD, como é a dinâmica da própria vida - configuram a formulação freudiana de Eros e Tanatos, ou seja, uma luta pelo instinto da Vida mas também pelo instinto da Morte. O problema é que nos últimos anos o PSD tem mergulhado mais no Tanatos - deixando-se afundar em indecisões, intrigas, lutas palacianas, incompetência, corrupção partidária (financiamento ilegal por parte de construtoras civis que, de resto, tolhe o sistema partidário no seu conjunto), invejas, e muita, muita deslealdade alimentada pela guerra de bastidores entre barões e baronetes.
A própria forma como Meneses "comprou" os votos a Santana lopes para expulsar MMendes da direcção do partido há 6 meses, reflecte esse ambiente de cobras e crocodilos da Lapa. Um ambiente tão pesado quanto pouco recomendável. Por força disso, centenas, milhares de militantes devem ter saído (formal e informalmente) desse partido de incompetentes e de pequenos traidores (como os há, de resto, nos demais partidos - dentro e fora do arco da governação).
Mas essa formulação é tanto mais preocupante na medida em que ela se baseia na observação de alguns factos reais que adensam ainda mais o ambiente político. Exemplo: estou de regresso, dizia Santana lopes a semana passada no Parlamento, como se estivesse a regressar a Santa Apolónia após ter-se exilado uma década em França perante os alegados desejos dos portuguesas...
Esta obsessão pela repetição não augura nada de bom. Seja nas crianças, seja nos adultos. Essa repetição de jogos, fantasias, histórias de lana caprina - espelha os desejos da vida instintiva e a realização de egoísmos que em nada contribuem para o bem comum de que falava Aristóteles. Os portugueses não são parvos, percebem isso à légua e sabem bem qual é a cotação desses políticos que antes de pensarem nos verdadeiros problemas do país planeiam as suas carreiras à sombra desses objectivos. Infelizmente, os partidos estão povoados dessa "gandulagem" que parasita os partidos sem nada de positivo levar para a política.
Freud, por exemplo, chamou a essa tendência pela repetição de variável conservadora, e seguindo essa tendência Freud concluíu que essa repetição era o equivalente da tendência para restaurar um estado de coisas anterior, para regressar ao estado primitivo. Ora, sabemos que o estado primitivo coincide com a fuga de Durão para Bruxelas, a entronização problemática (e monárquica) de Santana no cadeirão de S. Bento seguido de 6 meses de anarquia política e de paralisação social e económica.
É, portanto, essa vertigem em direcção ao Tanatos que Santana - e outros como ele - estão a encaminhar o PSD. Numa espécie de regresso à vida inorgânica, ao inanimado, ou seja, à vertigem da morte. Santana, Meneses e a equipa que um e outro arregimentaram para controlar a vida política na Lapa não é senão o instinto dessa destruição, rompendo as conexões positivas que, apesar de tudo, MMendes ainda deixou (não obstante ter perdido Lisboa para o PS, e bem!!!) e ter-se imiscuído em demasia na esfera de acção de Carmona Rodrigues na vida da Capital.
Todavia, é por causa de declarações como aquela que Santana fez que qualquer observador minimamente qualificado percebe que o PSD vegeta num ciclo de instintos primários que antecipam a morte. Uma morte plasmada num jogo obsessivo de repetições, fantasias e desejos (recalcados) que, no passado recente, provaram que só trazem ainda mais morte.
Eis o legado de Santana e Meneses acumulado - fazendo funcionar a morte e a destruição por camadas geológicas entre a Lapa e o hemiciclo em S. Bento - que o eloquente Ângelo Correia (padrinho de vários afilhados) parece ter, finalmente, compreendido. Razão por que agora, ainda que proclame apoiar o defunto Meneses, esteja já aprumado para projectar a esperança adiada que é Pedro Passos Coelho.
Creio que enquanto essas caras, essas posturas e atitudes políticas não se dissiparem definitavemente no seio do PSD, a espada de damôcles pairará sempre sobre a cabeça daquele - ou daqueles - que, no futuro próximo, procurarão tomar as rédeas ao poder na Lapa.
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Barry White - let the music play by espetasetas

Massive Attack - Live With Me