quinta-feira

António Borges foi à RTP dizer uma mão cheia de nada revelando um deserto de ideias na antecâmara de mais um acidente

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Num momento em que o PsD acusou uma nova onda de insatisfação interna pela falta de liderança e crise de autoridade de Meneses à frente do partido - alguns membros, como Rui Rio, Aguiar Branco e Pedro Passos Coelho (uma esperança há muito adiada) resolveram dar um sinal da sua graça e agitar as consciências - ante a podridão de ideias, táticas e estratégias (ou ausência de ideias) da actual equipa que assaltou o poder interno na Lapa.

Foi neste quadro negro que o economista António Borges foi à RTP, só que do seu alto pensamento retive este conjunto de lugares-comuns, uma pentarquia de "ideiasinhas" sem rasto, nexo ou peso politico-institucional:

1. Ao confundir vitalidade com crise e decadência, erratismo e falta de liderança Borges mostra (também) que ainda não percebeu bem em que barco está. O psd, mesmo com mais esta mini-crise, não está a revelar vitalidade mas uma angústia ao retardador. Vitalidade significaria introdução de sangue novo no partido, ideias e projectos reformistas para a sociedade alternativos ao governo socialista (que não se vêem, naturalmente) - e não rebentar com o Estado pela via do ultraliberalismo à la Meneses de Gaia. E o mais curioso é que sendo Borges um outsider, como o foi Cavaco há mais de duas décadas na Figueira-da-Foz - ele não conseguiu dar um ar da sua graça e apresentar uma única ideia que altere o actual status quo que o partido da Lapa vive. Confesso que quando Borges falava em vitalidade só me vinha à lembradura a frase de Santana Lopes no outro dia no hemiciclo dizendo: estou de regresso... Só tive tempo de jogar as mãos à cabeça e tentar apagar a imagem daquela tomada de posse no Palácio da Ajuda - cuja fachada (toda desdentada) a Câmara Municipal de Lisboa está a recuperar.

2. Ficámos a saber que Borges vê na ex-ministra das Finanças, manela Ferreira leite - uma grande líder - que ele seguiria. Ora, todos nós sabemos que Ferreira Leite de economia só revelou a sua obsessão pelo défice ao tempo de Durão, e nunca conseguiu pôr a economia a crescer, mas parece ser esse o paradigma de Borges - que ensina gestão pelas universidades do mundo. Que pobreza de vistas. Se Borges é assim como professor os alunos também ficam a perder, até parece que já estou a ouvir muitos deles reclamando as suas propinas..

3. Depois Borges - "voltou atrás" para bater no já defunto MMendes (que se ecliposu na economia privada, cá está, a privada!!!), enfim contas do passado, e voltou a sublinhar que foi pena que Ferreira Leite não tivesse avançado para a liderança do partido, sobretudo por razões de lealdade a MMendes. Pois... Mas Borges não se ficou por aqui, pois também é amigo de Aguiar Branco - que Jardim da Madeira cunha de representante da burguesia do Porto. Confesso que também isto é curto, para não dizer uma estreiteza de vistas.

4. Por outro lado, Borges reconheceu que a economia nacional está eivada de cunhas e muitas dependências. Isto é verdade (até na Universidade e nas empresas onde ele, porventura, ensina e pratica gestão), mas sempre foi assim, à esquerda e à direita, desde a monarquia até à república. O Estado em Portugal sempre foi forte e a sociedade (incluindo aqui o empresariado) sempre foi fraco. Portanto, a sociedade sempre precisou mais do Estado, em menor grau o Estado sempre precisou (menos) da sociedade.

5. Por último, e já no 5º sono, António Borges, do alto da sua inteligência (como vemos) aventou esta pérola do Atlântico: Sócrates até tem o PR do lado dele..., que o ajuda a governar. Só faltou dizer: à ganda Cavaco!!!!

Em suma: Borges mais parecia um contabilista de uma PME do Vale do Ave a fazer balancetes em fim de época. Do lado do passivo, criticou quem tinha de criticar: Meneses, Mendes e tutti quanti; do lado do activo - sobrevalorizou duas personalidades de quem é amigo: Aguiar Branco e Manuela Ferreira Leite. Brilhante!!!

Ora, isto para um cidadão do mundo, um gestor de topo, um universitário ultraqualificado é mesmo - senão uma grande maçada uma parca ideia da sombra duma vara torta que, por essa razão, jamais se endireitará...

Hoje ficámos a saber, por esta modestíssima prestação televisiva de Borges, que o Psd - com ele (no activo ou na sombra) - ainda fica com uma face mais pálida.

Ora, ante este quadro negro perguntamo-nos, legitimimamente, que saída para o actual PSD? Pela minha parte, entre o irónico e o sério, só vejo uma escapatória possível neste momento, que passa pelo PsD fazer um recrutamento extraordinário (tipo comissão de serviço balizado no tempo) na esfera do melhor PS a fim de este ajudar o partido da Lapa a ultrapassar o momentoso ciclo que atravessa.

Sendo o PS um partido da igualdade, da fraternidade e da solidariedade - amigo dos pobres e deserdados da vida...

PS: Gostaria de informar aqui os nossos leitores que esta matéria quase assumiu outro título: uma pobreza franciscana chamada António Borges. Título da próxima entre-vista...