segunda-feira

Notas Soltas - por António Vitorino -

António Vitorino (AV) está preocupado com a pobreza em Portugal. E uma nova geração de políticas sociais pode fazer-lhe face...
Hoje ao ver o Notas Soltas de AV de certo modo regressei à faculdade, e ao estudo das causas da riqueza e da pobreza das nações, o grande objectivo de todas as investigações em economia política, segundo os clássicos do pensamento económico. De Malthus a David Ricardo passando por Adam Smith e muitos outros que, como Paul Samuelson, outra referência pela qual estudei e queimei os neurónios - conclui que nenhum esclarecimento foi dado até hoje para explicar porque os países pobres são pobres e os países ricos são ricos. Mais correntemente, costuma dizer-se que os pobres têm tanto azar que quando chove sopa dos céus os pobres só têm garfos nas mãos...
E o Relatório da Comissão Europeia para a Protecção e Inclusão Social demonstra que uma em cada cinco crianças está exposta à pobreza que, por sua vez, se agrava sempre que ela está inserida numa família tolhida com os problemas de desemprego ou dum conjunto de circunstâncias que a sociologia da pobreza designa de situações fragmentadas que agravam ainda mais as condições de vida das crianças - que assim ficam mais prisioneiras dessa miserável condição de vida que afecta até o seu próprio desenvolvimento físico e atrofia o desenvolvimento intelectual.
Quanto ao relatório da SEDES - já está tudo dito, ele dignostica aquilo que já está diagnosticado, mas peca pelas solução que não apresenta. Ao menos o dr. Vitor bento de demais elementos painelistas que compõem a Associação, sempre poderiam pedir conselho ao Movimento Compromisso Portugal do dr. António Carrapatoso e pespegar lá com meia dúzia de soluções, desta forma Santana Lopes sempre teria algo mais a dizer, dado que a Lapa neste momento não dispõe de nenhum pensamento económico e social alternativo capaz de consubstanciar políticas públicas nas mais variadas áreas da governação.
Quanto a Cuba... e a passagem quase monárquica do poder de Fidel para Raul Castro - confesso que aqui as aberturas no domínio social e económico serão tímidas, pois o aparelhismo ortodoxo ficará no partido comunista cubano e o resto colonizará o chamado aparelho político-militar-ideológico que monitorizará todas as instâncias do poder com o fito de meter na cadeia os heterodoxos que pugnarão pela revolução democrática e de promover à função de chefia os ortoxos. Daqui resultará um impasse que poderá redundar numa revolução - tipo guerra civil; ou uma democratização assistida do exterior em que os EUA poderiam ter um papel crucial - já com Barack Obama na Sala Oval - a acompanhar todo esse processo politico e democráticamente assistido do exterior - e sem quaisquer pré-condições.
Mas aqui não será marginal o papel do Brasil - que poderá, com a demagogia "luliana" do costume, fazer progredir o regime para uma democracia musculada com o Hugo Chavez a pagar a conta - à boleia do ouro negro - a fim de assegurar essa transição democrática teleguiada.
Mas a questão da pobreza em Portugal deverá concentrar-nos no essencial, e aqui sublinho duas escolas de pensamento que explicam a pobreza: alguns encaram a riqueza e o domínio ocidentais como o triunfo do bem sobre o mal. Para eles, os Europeus eram mais inteligentes, estavam melhor organizados, eram trabalhadores mais conscienciosos; os outros eram ignorantes, arrogantes, indolentes, retrógrados, superticiosos. A outra corrente inverte as categorias: os Europeus eram agressivos, cruéis, gananciosos, hipócritas e sem escrúpulos; as suas vítimas eram felizes, inocentes, fracas.
Seja como for, e porque agora somos todos brancos e negros, e a Europa vive o mesmo drama no Velho Continente, com especificidades naturais a cada sociedade, cremos que se a economia nacional gerar mais riqueza, haverá mais e melhor rendimento por redistribuir, e isso reflectir-se-á necessáriamente no consumo das famílias que assim poderão ver esbatidas as injustiças sociais e a pobreza que ainda hoje afecta Portugal.
A captação de Investimento Directo Estrangeiro e uma adequada articulação de políticas sociais - poderá coadjuvar nesse take-of da economia nacional - para a qual a conjuntura internacional também poderá ajudar. Basta que preço do petróleo e os ataques terroristas não agravem a situação.