quarta-feira

A religião nas nossas vidas

A religião é aquela categoria do pensamento que nos liga a algo que está acima de nós, por isso quando estamos aflitos passamos a vida a olhar para os céus na esperança de que a resposta a esse problema venha depressa, de preferência com brinde. Essa intensidade pseudo-religiosa aumenta à medida que os nossos problemas também se intensificam. Quando damos por nós estamos no meio dum monólogo a que aqui, designo de oração. Até porque uma preocupação reiterada depressa se transforma numa oração.
O artigo infra do Francisco deu-me o carburante para alinhar aqui meia dúzia de banalidades sobr religião, à falta de melhor tema, e das mortes da estrada também não falo, da presidência da CGD ou da novel liderança do BCP também creio que não valha a pena, apesar do milenium há muito se ter transformado numa questão religiosa, degenerada, mas religiosa, ou melhor, um cisma terrível desde que Paulo Teixeira Pinto foi jogado borda fora pela janela dos fundos do banco do velho jaguar jardim Gonçalves, o tal que mandava o jacto apanhar o casaco de peles da esposa e gastar 30 mil cts em octanas de avião só porque a dita se esqueceu do emplastro em casa. É óbvio que nenhum accionista, pequeno, médio ou grande, gosta disto. Nem o Big Joe, que não deve orar senão ao vil metal e às suas colecções d'arte.
Mas a religião e a forma como a percepcionamos é, hoje, ainda resultado destas duas derivas articuladas e contrapostas entre si: a existência de um confronto intransigente entre Atenas e Jerusalém, i.é, entre o mundo da dúvida filosófica e o da Revelação. Estes dois termos têm alimentado - para o melhor e para o pior - a polaridade da história do pensamento.
Em nome deles se tem alimentado a esperança e semeado o amor entre os homens, e, por outro lado, também se tem semeado o terror entre os homens. Entre a dúvida de Atenas, de pendor filosófico e filosofante que incita à criação de pensamento e saber, e o débito das energias da Revelação - confesso que prefiro Atenas. Além de mais pacífica é intelectualmente mais estimulante. A Revelação fica para o Senhor, que nunca sabemos quem é, mas, não raro é sempre interpretada por um qualquer homem que se acha uma Revelação, e é aí que começam os problemas. Problemas que mandam torres abaixo com pessoas lá dentro a espirrar muito sangue. Entre a dúvida e o fanatismo a escolha é óbvia.
Venha a dúvida grega, com os gregos e as ruínas todas atrás...