O (miserável) Espírito de Natal: a palhaçada (comercial) recomeça
Remake
Estava a pensar na "palhaçada comercial" em que o Esprit de Natal já há muito se transformou e chega-me uma sms ao meu Tm que diz o seguinte:
Chegou mais um Natal. É tempo de estar com a família, partilhar sorrisos, emoções e tudo o que a vida tem de melhor. Aproveite bem cada segundo porque, já sabe, mais, só para ano. A "Voda-voda" deseja-lhe boas e festas e grandes momentos!
Touchez!!!
Pelo vazio da mensagem só posso crer que a sua inspiração e redacção partiu da mente e da pena de ervilha de António Carrapatoso, o seu responsável-mor que, por vezes, anda em digressão pelo País formal a inventar congressos, teorias e demonstrações de que tem as soluções sociais, políticas e económicas no bolso de que Portugal precisa para sair deste marasmo em que navega, sobretudo na perda de poder de compra (e noutros indicadores de desenvolvimento humano)que agora, mais do que nunca, se fazem sentir, apesar dos esforços do governo em redistribuir melhor a riqueza nacional pelos mais desfavorecidos de que, consabidamente, o aumento para 426 euros do salário mínimo nacional já foi um sinal positivo, estando previsto uma subida até aos 450 euros em 2009, se não morrermos até lá.
Mas é, precisamente, este espírito de Natal mesquinho e comercialóide que critico. Faço-o por ser enjoativo, repetitivo e animado dum espírito comercial com o fito de sacar o tutano às pessoas e, tudo isso é feito, cada vez mais, com um desregrado descaramento.
Vejamos alguns desses exemplos de futilidade e má consciência institucional que, só por manifesto abuso dos valores e simbolos religiosos, fazem o seu curso, ano após ano, imbuídos numa lata devastadora e, repito, com um único fito: sacar o osso e o tutano às pessoas, leiam-se clientes - porque "pessoas" é um conceito cada vez menos existente, pois os clientes é que interessam em termos de marketing, esses é que dão dinheiro a ganhar às ditas organizações que parasitam os mercados e as tais pessoas - que os integram.
Os bancos são os primeiros a enviar mensagens de Boas festas aos seus clientes. Por mail, por sms, por Tm, por fax, sei lá, se a prática fosse o código Morse também recorreriam a esse método de comunicação para vender o seu peixe bafiento. As operadores de telemóveis seguem as pisadas e encharcam os ecrãns dos seus clientes com msg abstrusas que têm por único propósito levar os clientes a comprar mais serviços e equipamentos, pois nem os bancos concedem mais facilidades nem as operadoras de telecomunicações baixam os preços dos seus serviços. Tudo visa o lucro canalha.
Canalha porque se aproveitam, um pouco como nos funerais, do espírito do momento para levar as pessoas a consumirem para além das suas reais necessidades, servindo-se, para o efeito, das molas inventivas e criativas da Pub. (e das campanhas, não raro, enganadoras) - que endrominam os espíritos mais fracos. Os mesmos que acabam por entrar numa farmácia para comprar uma Aspirinha para a dôr de cabeça e saem de lá com um armazém de preservativos, shampôs e produtos de cosméstica para oferecer à família e aos amigos da família.
As seguradoras, as instituições financeiras, os oculistas, as operadoras de telecomunicações, o talhante da esquina, o ginásio, a pizzaria, todos se procuram financiar à boleia deste espírito comercialóide do Natal, em que as mentes e as consciências se encontram mais pesarosas pela morte do menino Jesus, e aí as financeiras do costume pensam que podem executar um saque maior do que o normal. No fundo, cavalgam a onda às costas do menino Jesus, coisa mais miserável e condenável não conheço. Os restaurantes, no final das refeições trazem dois bombons, os bancos fazem telefonemas doces por vozes sedutoras e femininas (se o cliente for homem), as casas de roupa até oferecem vales de desconto, as perfumarias prometem maior sex-appeal e melhores performances sexuais se em vez de se levar a Água de colónia desejada se incluir nela o respectivo anexo de águas das malvas (tipo after-shave ou creme testicular ou um qualquer anti-rugas) para combater os papos-de-galinha, as casas de desporto por cada par de ténis, oferecem um creme para aumentar a destreza física ou para eliminar o pé-de-atleta, as agências de viagens prometem o paraíso na terra (quando o avião não cai e vai tudo para o enterro colectivo) ou há um Tsunami que estraga tudo - e faz com que aqueles que estiveram para ir na viagem e não foram se sintam mais aliviados nos sofás de suas casas... Os exemplos poderiam multiplicar-se, com mais ou menos exagero, com maior ou menor caricatura da realidade, mas é esta mesma realidade que nos persegue pelo telemóvel, pelo mail, pelo fax, pela janela, pelos pára-brisas dos automóveis, etc, etc. Para essas instituições/organizações, os sacadores-supremos do nosso tempo (ou os "novos-judas", se se preferir), vai a minha palavra mais sincera: façam um péssimo negócio, pois se assim for tal significa que as pessoas em geral, e os portugueses em particular, passarão um muito melhor Natal, visto que tendem a ser menos exploradas, enganadas e parasitadas por um bando de organizações que existe com um único fito: sacar o mais possível às pessoas que trabalham. O Natal para esses sujeitos/organizações faz-se exclusivamente à custa da desgraça e desorientação de gente de mente fraca que ainda cai no conto do vigário institucionalizado, comprando aquilo de que efectivamente não precisa. São os mesmos que vão à farmácia para comprar uma Aspirina e saem de lá...sabe-se Deus como!!! Com borbulhas em todo o lado e um passivo no saldo contabilístico verdadeiramente assustador. O Natal, em face deste clima de esquizofrenia comercial imposto pelas organizações que visam o lucro, é, pois, o momento de maior corrupção moral cujo fito é levar as pessoas a consumirem para além das suas efectivas necessidades, logo a endividarem-se e a financiarem a banca - que cada vez engorda mais à nossa custa. Daí a palhaçada que anualmente se repete em jantares e almoçaradas entre os corpos de gerência das empresas, tudo para inglês ver e esconder as misérias deste mundo. Neste quadro, proponho duas medidas: 1) O legislador deveria aprumar-se e fazer uma lei que punisse essas ditas organizações que usam e abusam da Pub. comercial e multá-las sempre que tais limites não fossem respeitados junto dos clientes; 2) O Estado - em estreita articulação com o ministério da Educação e da Cultura deveria instituir cursos ou módulos de formação em Publicidade nas Escolas a fim de explicar os mecanismos psicológicos que levam as pessoas a comprar aquilo de que não precisam só para financiar as empresas vendedoras desses bens e serviços. Atacando nestas duas frentes, a legislativa e a educacional e cultural, estou convencido que mensagens torpes como aquela que o Tonho Carrapastoso manda a Voda-voda enviar para o seus clientes não só deixariam de ter razão de ser como seriam fortemente censuradas pela sociedade e punidas pela lei (a fazer). PS: Enquanto redigia estas miseráveis notas natalícias lembrei-me daquele amigo, o VC, que sempre que recebia telefonemas em sua casa (na década de 80/90) do Círculo de leitores para comprar mais uns calhamaços - dizia que era pedreiro e mal sabia ler. Os telefonemas paravam de imediato, hoje não sei se essa técnica ainda funciona. Experimente-se. É sempre uma escapatória airosa, e o vendedor fica sempre a pensar que é um doutor muito inteligente que fala para um bando de camelos... Sobretudo no Natal!!!
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